28 julho 2011

A MATURIDADE REVELADA NO CAOS - Augusto Cury

É fácil reagirmos e pensarmos com lucidez quando o sucesso bate à nossa porta, mas é difícil
conservarmos a serenidade quando as perdas e as dores da existência nos invadem. Muitos revelam
irritabilidade, intolerância e medo nessas situações. Se quisermos observar a inteligência e maturidade
de alguém, não devemos analisá-la nas primaveras de sua vida, mas no momento em que atravessa os
invernos de sua existência.
Muitas pessoas, incluindo intelectuais, comportam-se com elegância quando o mundo os aplaude,
mas perturbam-se e reagem impulsivamente quando os fracassos e os sofrimentos cruzam as avenidas de
suas vidas. Não conseguem superar suas dificuldades nem mesmo extrair lições de suas intempéries.
Houve um homem que não se abalava quando contrariado. Jesus não se perturbava quando seus
seguidores não correspondiam às suas expectativas. Diferente de muitos pais e educadores, ele usava
cada erro e dificuldade dos seus íntimos não para acusá-los e diminuí-los, mas para que revisassem suas
próprias histórias. O mestre da escola da vida estava menos preocupado em corrigir os comportamentos
exteriores e mais preocupado em estimulá-los a pensar e a expandir a compreensão dos horizontes da
vida.
Era amigo íntimo da paciência. Sabia criar uma atmosfera agradável e tranqüila, mesmo quando o
ambiente à sua volta era turbulento. Por isso dizia: “Aprendei de mim, pois sou manso e humilde...”3.
Sua motivação era sólida. Tudo ao seu redor conspirava contra ele, mas absolutamente nada abatia
seu ânimo. Ainda não havia passado pelo caos da cruz. Sua confiabilidade era tão sólida, que de antemão
proclamava a vitória sobre uma guerra que ainda não tinha travado e que, o que é pior, enfrentaria
sozinho e sem armas. Por isso, apesar de ser ele quem devesse ser confortado pelos seus discípulos,
ainda conseguia reunir forças para animá-los momentos antes de sua partida, dizendo: “Tende bom
ânimo, eu venci o mundo”4.
Muitos psiquiatras e psicólogos possuem lucidez e coerência quando discorrem sobre os conflitos
dos seus pacientes, mas quando tratam dos seus próprios conflitos, perdas e fracassos, não poucos têm
sua estrutura emocional abalada e fecham as janelas da sua inteligência. Nos terrenos sinuosos da
existência é que a lucidez e a maturidade emocional são testadas.
(...)
O mestre da escola da vida sabia das limitações humanas, sabia que nos é difícil gerenciar nossas
reações  nas  situações  estressantes.  Tinha  consciência  de  que  facilmente  erramos  e  de  que  facilmente
punimos a nós mesmos ou aos outros. Entretanto, queria de todo modo aliviar o sentimento de culpa que
esmagava a emoção e criar um clima tranqüilo e solidário entre os seus discípulos. Por isso, certo dia,ensinou-os  a  se  interiorizarem  e  orarem,  dizendo:  “Perdoai  as  nossas  ofensas  assim  como  temos
perdoado aqueles que nos têm ofendido”5.
Quem vive sob o peso da culpa fere continuamente a si mesmo, torna-se seu próprio carrasco e, de
outro lado, quem é radical e excessivamente crítico dos outros torna-se um “carrasco social”.
Fonte : (trecho) Livro Análise da inteligência de Cristo, o mestre da sensiblilidade - Auguto Cury