12 junho 2015

Sonhar, amar e casar




... E foram felizes para sempre. Na ficção, o dia do casamento aparece com um ponto final. Na vida real, são as reticências que atrapalham a relação conjugal. O que leva os jovens portugueses a casar nos dias de hoje? Há interrogações que, depois de respondidas, são verdadeiras exclamações.


O sol esconde-se atrás das nuvens neste dia de primavera. Faça chuva ou faça sol, o amor entre a Francisca e o Tomás parece ser para todas as estações. Ela tem 22 anos, ele 24. Passeiam em Belém, onde um dia os nossos antepassados escreveram uma nova história. Também eles querem inaugurar um novo capítulo nas suas vidas e embarcar na aventura... do casamento. Remam contra a maré. Defendem ideias diferentes da sua geração que adia o(s) compromisso(s). Têm certezas inabaláveis sobre o que os une. Namoram há oito anos e assumem, sem vergonha, querer ir virgens para o casamento. Há meia dúzia de anos, a FAMÍLIA CRISTÃ ouviu o testemunho deste casal sobre a sexualidade na adolescência. Agora que vão casar, reencontrámos a Francisca e o Tomás, que mantêm as mesmas convicções ancoradas nos valores que defendem para as suas vidas: «É uma decisão rezada. Se a Igreja pede que guardemos castidade, mesmo que nos custe horrores e não a entendamos ao princípio, só poderá ser uma boa proposta, porque a Igreja foi-nos deixada por Jesus para nos salvar. Começámos a namorar com 14 e 16 anos, e claro que é muito difícil manter as coisas assim, mas se tivermos a certeza de que isto é o que nos salva, que este é o caminho que Deus pensa para nós, porque é que haveremos de apanhar atalhos?» Estas palavras são de jovens deste tempo, modernos, alegres e bonitos, que sonham casar para formar uma família cristã. «Nestes oito anos, aquilo que mais queríamos era que chegasse o dia em que tínhamos a certeza de que queríamos passar o resto da vida ao lado um do outro. Há cerca de ano e meio, fomos inundados por essa certeza. O dia 1 de agosto [data da celebração do Matrimónio] representa essa certeza. Queremos mostrar aos nossos familiares e amigos que o plano de Deus para os dois é estarmos juntos e criarmos uma família», conta a Francisca.

As expectativas para esse dia – e para os seguintes – estão em alta: «Vai ser um grande desafio casar e ir viver para a nossa casa nova. Vai ser divertido – e o sonho que tenho é que tenhamos uma vida divertida, alegre», diz o Tomás.

O casal, de sorriso fácil, sabe que uma família cristã não anda com cara de sexta-feira santa. É a alegria do amor que os dois descobriram que querem anunciar ao mundo. Preferiam viver o dia do casamento à maneira deles, mas não querem excluir quem mais gostam desse momento: «Por nós, tínhamos só a Missa, que é o mais importante de tudo, e depois íamos à nossa vida. O nosso sonho não são as coisas tradicionais de um casamento – o vestido, a festa, a música, etc. O mais importante é o nosso "sim" perante Nosso Senhor», afirma a Francisca.

«A Missa é para nós a festa», acrescenta o Tomás, «mas queremos envolver a família e os amigos mais próximos, porque sabemos que se alegram da mesma maneira como nós nos alegramos com este casamento em Cristo. Gostamos que eles estejam connosco nessa alegria.» Depois de prometerem um ao outro que serão fiéis, que se irão amar e respeitar, na alegria e na tristeza, todos os dias das suas vidas, já têm muitos planos para fazer a dois. Viajar, passear e... ter quatro filhos. «Temos uma família grande. Ficávamos muito felizes com quatro filhos, mas não sabemos o que a vida nos prepara. Quatro é um número bom, mas se vierem mais ou menos, será o que Deus quiser.»

O sonho de ser feliz

Que sonhos levam hoje os jovens para o casamento? Ana Pego Monteiro, especialista em Psicologia da Família, que defendeu recentemente a sua tese de doutoramento – Casa(l) em construção: uma base teórica-empírica para o desenvolvimento de uma intervenção na transição para a conjugalidade –, responde à pergunta: «É o sonho de ser feliz para sempre, de uma vida partilhada de amor e cumplicidade.» Afinal de contas, é isto que move as pessoas – e não é coisa pouca.

Nas histórias para crianças ou nos filmes e telenovelas para adultos, a palavra "fim" surge quase sempre depois de algum casamento. Porém, a realidade não é linear como nas histórias ficcionadas. Manter uma relação de sonho nos anos seguintes ao dia do casamento implica investimento das duas partes.

A investigação também o diz, mas não é preciso ciência para saber que pessoas com casamentos satisfatórios desempenham o seu trabalho com outro ânimo: «Basta pensarmos na quantidade de baixas que as pessoas metem na altura dos divórcios... Um investimento na família – nos casais – pode poupar tanto dinheiro ao país e desentupir os tribunais. Investir em relacionamentos conjugais satisfatórios, quer no casamento ou em uniões de facto, vale sempre a pena. Se os políticos tivessem consciência do benefício individual mas também social de casamentos fortes, investiriam muito mais na sua promoção e proteção.»

Esta investigadora está a desenvolver um projeto de acompanhamento a casais na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa: «Há anos que as organizações religiosas fazem isto. A Igreja Católica tem Cursos de Preparação para o Matrimónio (CPM). Nós queremos dar uma alternativa não ligada à Igreja para todos os casais num contexto secular. Este programa é pertinente para os nossos jovens, porque sabemos que relacionamentos conjugais fortes e de qualidade são uma mais-valia para a sociedade. Curiosamente, há muita investigação feita nesta área em países como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Noruega e Austrália.»

No estudo de Ana Pego Monteiro, perto de 70% dos 600 jovens inquiridos desejam casar um dia. No entanto, o casamento tem de ser protelado: «Percebemos nas entrevistas que fizemos a jovens casais que muitos querem casar, mas não podem por causa do contexto socioeconómico em Portugal. Muitos têm de tomar a decisão de emigrar. Há casais de namorados em que um deles tem uma proposta para trabalhar no estrangeiro. E agora? Casar? Não casar? Ele vai e ela fica? Alguns decidem ir juntos sem estarem casados. Trabalham fora um ano, e, quando regressam, alguns retornam a casa dos pais. Há uma série de dimensões sociais e económicas que têm impacto nos relacionamentos.» A realidade tem muitos ângulos de observação. Para muitos jovens em Portugal, o casamento já não é o início da vida a dois. Cada vez mais se veem casais a partilhar a casa antes do casamento.

O casamento como um caminho

Foram as circunstâncias da vida que levaram a Catarina, 34 anos, a viver com o João, 39, antes do casamento. A morte do pai dele apressou tudo o que se seguiu: «Foi uma decisão que me custou muito na altura. Imaginava-me com um homem em casa depois de casada. Foi difícil assumir perante os meus pais, mas foi uma opção que tinha de ser tomada. Se não tivesse tomado aquela decisão, talvez o João não estivesse tão bem como está hoje. Quando amamos alguém, queremos ver essa pessoa melhor. E quando vemos bem as pessoas que amamos, também ficamos bem.»

Casar pela Igreja sempre foi um sonho para Catarina – e até se emociona quando fala nisso: «Para mim, o casamento é um caminho e uma bênção. Nós já estamos a viver juntos há quase três anos. Sabemos que a vida não é fácil e, apesar de tudo, queremos casar.» A 5 de setembro, ele e ela irão dar o seu "sim" perante todos. Para o João, casar pela Igreja talvez não faça tanto sentido como para a Catarina. Contudo, a felicidade dela também é a dele. E pediu-lhe a mão em casamento, com um comentário inesperado: «Este pedido só é válido pela Igreja, só pelo civil não quero!» A Catarina deixou rolar algumas lágrimas de alegria. Que mudança ia no coração do futuro marido – pensou a noiva –, logo ele que nem sequer foi à Missa de sétimo dia do pai por andar afastado da religião. Hoje, sem que a Catarina lhe peça, tem a iniciativa de a acompanhar à Eucaristia, embora faça questão de frisar que «não quer que se exagere» neste relato de alguma aproximação à Igreja.

Aos olhos de João, até os encontros do CPM foram «surpreendentes»: «Pensei que aquilo ia ser uma seca e não foi. É informal, as pessoas trocam ideias...» A Catarina também não contava com o que ali viu e ouviu: «Eu achava que a Igreja ainda era muito conservadora e, no fim do CPM, percebi que conservadora era a minha visão sobre a Igreja. A Igreja respeita as escolhas, abre as portas a todos os queiram vir.»

O João já anseia pelo dia em que a vai ver vestida de noiva, no altar. Um e outro imaginam-se juntos «de bengalinha, muito velhinhos». Querem lembrar-se todos os dias por que razão estão juntos: «Foi o amor, a amizade e o respeito que nos uniu. O dia do casamento simboliza o resto das nossas vidas, é um caminho que temos pela frente até que a morte nos separe. Temos as nossas zangas, como qualquer casal, mas nunca adormecemos sem discutir as coisas. E adormecemos de mão dada», conta a Catarina. Se assim não for, o João diz que já nem conseguem dormir. Sabem que no meio deles estará sempre Alguém. O noivo não se importa com a presença do Outro (que não é um homem qualquer): «Não faz mal, porque Ele até nos pode ajudar um bocadinho!» A isto se chama fé no casamento.


De: familiacrista.com

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