30 setembro 2015

30 de setembro, dia de São Jerônimo, o tradutor da bíblia para o latim



Neste 30 de setembro, mês no qual a Igreja celebra com mais fervor a Palavra de Deus, segue uma ficha  para a Lectio Divina escrita por Dom Henrique Soares da Costa

A Lectio Divina é uma leitura orante, contemplativa da Escritura Sagrada. A atitude fundamental para aquele que a pratica é a certeza que, aquele que freqüenta a Escritura, freqüenta o coração de Deus. Isto mesmo: ler a Escritura de modo orante é perscrutar o coração do Senhor Deus! Assim, o orante coloca-se numa atitude de escuta: "Fala, Senhor, que teu servo escuta!"
O orante deve também ter a firme certeza que o Senhor lhe fala pela sua Palavra. Esta Palavra é o próprio Cristo Jesus, de quem fala toda a Escritura! Se ele tiver um coração aberto, pobre, disponível, compreenderá o quanto a Palavra lida numa atitude de escuta é palavra que o Senhor pronuncia no hoje de sua vida!
No entanto, a Lectio não é uma leitura intimista. O orante sabe que a Escritura é, antes de mais nada, um livro da Igreja: é primariamente ao seu povo que Deus dirige sua Palavra, é com ele que contrai aliança. O fiel participa desta aliança e escuta esta Palavra enquanto membro do Povo de Deus!
Daí mesmo ser importante não escolher leituras a gosto do momento ou dos sentimentos, mas ler a Escritura como lectio continua ou tomar as leituras que a Igreja propõe cada dia na Liturgia da Palavra da Eucaristia.
Aqui proporemos uma seqüência dos livros da Escritura, de modo a lê-la completamente. Para as informações sobre cada livro da Escritura utilizei basicamente o Missal Cotidiano das Edições Paulinas.

Esquema geral

· Escolha uma hora fixa para a lectio;
· o tempo não deve ser muito curto: ao menos meia hora!
· O local para a lectio deve ser tranqüilo e acolhedor, de modo a ajudar no recolhimento.
· Num espírito de fé, é importante ter veneração e respeito pelo Livro das Escrituras: trate com respeito e veneração sua Bíblia. Pode-se exprimir isto acendendo uma pequena vela ao lado da Bíblia durante a lectio.
· A leitura deve ser iniciada com o sinal da cruz e a oração com o Sl 118. Cada vez lê-se um bloco de oito versículos, de modo que se reze, pouco a pouco, todo o salmo. Terminado, volta-se ao início.... Este salmo canta a lei de Deus: em cada versículo há um sinônimo da lei: ela é palavra, decreto, testemunho, norma, preceito, mandamento... Ou seja, a Escritura é toda ela o coração amoroso de Deus que nos é mostrado, revelado. Na Escritura lemos o coração de Deus!
· Terminado o salmo, lê-se o texto daquele dia. A leitura deve começar a partir de onde se parou no dia anterior: deve-se ler o livro todo! Pode-se ler um ou dois capítulos por dia. Se uma palavra, uma frase tocou, pare, repita-a: é a Palavra de Deus, viva e eficaz. Esta Palavra é o próprio Cristo Jesus ressuscitado, Verbo feito carne!
· Terminada a leitura, tome um salmo do saltério. Não qualquer salmo, mas o da vez. Deve-se começar do Salmo 1 até o 150 (menos o Sl 118, que é rezado no início). Se o salmo for muito longo, pode-se dividi-lo em duas ou mais partes.

Ordem de leitura dos livros

Gênesis
Começa-se com o Pentateuco: os cinco primeiros livros, que é a Torah dos judeus. É a Lei (na verdade torah significa instrução). É importante ter sempre presente que toda a Escritura cumpre-se em Cristo, caminha para ele! Aquelas passagens que escandalizariam nossa sensibilidade atual devem ser sempre vistas como preparação para o Senhor Jesus - só Cristo é a plenitude da torah!
Gênesis é o livro das origens ou dos inícios, como indica a etimologia. Mas são dois os inícios: o do mundo e da humanidade (Gn 1 - 11) e o do povo de Deus desde Abraão até José (Gn 12-50)
Gênesis 1-11: O quadro oferecido ao leitor pelos onze primeiros capítulos é harmônico e equilibrado: fala da criação do cosmo, da vida dos animais e do homem; segue-se o homem em suas vicissitudes tristes e alegres, em sua evolução e multiplicação pela terra.
A liturgia faz ler essas vicissitudes antes da Quaresma.
Tem-se também ocasião de meditar sobre as importantes verdades da fé: Deus criador e vencedor do caos, a saber, Salvador (cap. 1) ; Deus que chama o homem para ser protagonista e construtor, com ele, de sua história (cap. 2) ; a ruptura entre o homem e Deus pelo pecado (cap. 3). A partir deste ponto de ruptura, a história desenrola-se em duas linhas: I) a história do homem sem Deus: Caim, Lamec; a corrupção que precede o dilúvio, a torre de Babel; 2) a história dos homens com Deus, dominada pela promessa (3,15), caracterizada pelo agir com Deus: Abel, Set, Henoc, Noé, Sem; e culminando na aliança com Noé (9,1-17). O arco-íris, sinal dessa aliança, indica o destino da humanidade: a terra é de novo unida ao céu. Gênesis 1- 11 fala de toda a humanidade.
Gênesis 12-50. Contudo, após a grande apostasia, simbolizada pelo relato da torre de Babel, a Bíblia apresenta em Gênesis 12 - 50 os inícios do povo de Deus, narrando as peripécias de Abraão, Isaac Jacó e José enquanto se perfila no horizonte o destino da tribo de Judá (tribo da qual nascerão o rei Davi e o Messias). Trata-se de verdadeira história (séculos XIX-XVII aC) porém se acrescente: história da salvação. Ou seja: a preocupação dos autores sagrados não é fazer crônica, mas, baseados nas tradições históricas dos antigos, meditar sobre o relacionamento de Deus com o seu povo, Dessa história se devem recolher os dois elementos essenciais: a iniciativa de Deus que escolhe ou elege, e a livre e responsável resposta do homem à ação de Deus, resposta que pressupõe a fé. O objeto da fé é a promessa com seus três elementos fundamentais:
1) numerosa posteridade (12,2; 15,5);
2) dom da terra após a escravidão do Egito (12,7; 15,13-16), tema este que continua na vida de Abraão (cap. 23), nas andanças de Jacó (28,13; cap.32; 49,29-30) e no proceder de José (50,24-25);
3) o anúncio de que em Abraão serão abençoados todos os povos da terra (12,3; 18,18).
Êxodo
O livro do Êxodo começa recordando que foi realizada a primeira parte da promessa: a numerosa posteridade prometida a Abraão. O Êxodo é a aventura daqueles que eram escravos no Egito (1,8-14; cf. Gn 15,13-1.6). A leitura deste livro deve, porém, ser feita com a atenção voltada para a segunda parte da promessa "o dom da terra após a escravidão". O Êxodo torna-se, então, o caminho para a liberdade, liberdade que é dom e conquista. A iniciativa parte de Deus, cujo nome é IHWH (3,13-15), que significa "Aquele que faz existir", concretamente, aquele que faz deveras que uma massa de escravos seja povo. A passagem da escravidão para a liberdade chama-se Páscoa (caps. 12.14), mas sua conquista exige fidelidade e é sempre um risco. O pão da liberdade pode ser menos saboroso que o outro, aquele da escravidão (cap.16) .
O Êxodo é um livro de peregrinos para peregrinos. A libertação e peregrinação de Israel serão profecias da libertação cristã e do êxodo nosso e da Igreja nos caminhos da vida, rumo à Terra da Promessa.
Levítico
A verdadeira liberdade dá-se no encontro entre o homem e Deus, ou seja, na Aliança. Sob esta luz é que devem ser lidos os caps.19.23.25 e os caps. 19-40 do Levítico. Este livro, que pode nos parecer demasiadamente legalista e sem graça, deve ser lido numa perspectiva cristológica: a Lei é preparação para Cristo; é Deus que educa o seu povo como um pai educa seu filho. Na Lei Israel encontrará a sabedoria e a vida. Para nós, a Lei é a vontade de Deus, soprada a cada dia no nosso coração pelo Espírito do Cristo ressuscitado, derramado sobre nós.
Outro tema importante do Levítico é a santidade: IHWH é um Deus santo, que exige de nós a santidade de vida e procedimento.
Números
O nome "Números" vem da Bíblia grega. A hebraica traz por título: "No deserto". O livro é bastante significativo pelos trechos adotados na liturgia do cap. 11 ao cap.24), que, na linha do Êxodo, continuam a narrar o caminho para a terra prometida e as responsabilidades de Israel na busca da liberdade. Do cap. 21 ao 25 o livro dos Números fala da chegada à Transjordânia, do cap. 26 ao 36, dos preparativos para entrar na terra dos Pais.
Deuteronômio
No texto sagrado e na leitura litúrgica o Deuteronômio é colocado entre o livro dos Números e o de Josué. É quase totalmente composto de três longos discursos: 1,1-4,40; 4,41 - 28,69; 29,1 - 30,20 e dá poucas informações históricas. Com um artifício literário fácil de perceber, o autor põe os discursos nos lábios de Moisés, o que permite ler o quinto livro da Bíblia como uma tomada de consciência dos esforços que deve o povo assumir se quiser possuir a terra prometida aos Pais. De fato Canaã (nome mais antigo do que "Palestina") não será nunca uma terra conquistada para sempre: poderá perder-se. Israel deverá considerar-se cada dia pronto a entrar nela, a recebê-la cada dia como dom e sentir-se cada dia em perigo de perdê-la. Tudo depende da fidelidade à Aliança, tema central e ponto-chave do livro. O texto, em forma de discurso dirigido a Israel, é extremamente atraente e comprometedor: Israel é a Igreja, Israel sou eu!
O tempo que levou a composição ultrapassa um século, caracterizado, porém, por dois momentos fundamentais. Pelo fim do século VIII aC teve-se a primeira edição. Foi obra de . um Ievita-peregrino do reino do Norte que, ante a queda de Samaria (ano 721) e a deportação assíria, percebeu a importância do reino de Judá com a centralização do culto em Jerusalém. Sua obra compreende os caps. 5-9.12-26.28. Seu escopo era indicar na Aliança o único caminho para possuir a terra. A segunda edição, compreendendo todos os demais capítulos do atual Deuteronômio, deve ter tido início a partir do momento favorável da reforma de Josias (640-609 aC) e ter sido completada pelo fim do século VII por obra da "escola deuteronomística". Esta escola é aquela corrente de pensamento teológico em Israel que adota as idéias do Deuteronômio: se Israel for fiel, terá a terra e a bênção; caso contrário, perderá a terra e terá a maldição. É ela que dará origem a história do deuteronomista, que contará a história de Israel, demonstrando que o povo termina exilado porque foi infiel a IHWH.
Assim, a história do deuteronomista, que vai da conquista da terra prometida até o exílio de Babilônia é narrada pelos livros de Josué e dos Juízes, pelos dois livros de Samuel e os dois dos Reis. Certamente sua redação escrita pode haver sido começada nos inícios da monarquia (XI-X século) . Mas quando falamos de História deuteronomística entendemos a releitura da história feita pelos círculos ou escolas deuteronomistas pouco antes do exílio (587-538 a.C.) ou em seu início. Nesta história os fatos sintonizam com a teoria religiosa enunciada pelo Deuteronômio. A fidelidade à Aliança permanece, por isso, o único verdadeiro ponto-chave. Não se trata, portanto, simplesmente de história, mas d e uma história narrada do ponto de vista religioso, história relida religiosamente! Para história no sentido cronístico, os próprios autores destes livros remetem a outras fontes de informação (cf. 1Rs 14,19.29;15,7.23 etc.).
Vamos, portanto, acompanhar uma boa parte da história de Israel: desde a entrada na terra, com Josué, e o tempo dos juízes, passando pelos inícios e desenvolvimento da monarquia, pelos grandes profetas, até o fim trágico da independência de Israel, com o Exílio de Babilônia. O relacionamento de Israel com o seu Deus, é o nosso... feito de fidelidades e infidelidades...
Josué
As duas únicas páginas escolhidas pela liturgia (cap. 3 e cap. 24) enquadram-se muito bem na visão religiosa da história deuteronomista: Deus dá a Israel a terra prometida aos Pais, mas Israel só poderá conquistá-la se caminhar com Deus (cap. 3) e só poderá conservá-la pela fidelidade Aquele que a deu (cap. 24). Israel terá sempre que converter-se e decidir-se por IHWH!
Juízes
É também muito fácil a leitura litúrgica deste livro. Sua tese é apresentada na leitura da Missa da segunda-feira da 20a semana comum: quando Israel é infiel à Aliança, Deus o entrega a seus inimigos; quando se arrepende e volta a Deus, pode gozar de novo livremente da terra. Não se deve insistir nas figuras nada edificantes dos Juízes: é um mundo bárbaro. Insista-se, pelo contrário, no entrelaçamento da ação de Deus na ação do homem. Como um pai amoroso, Deus educa pacientemente o seu povo. É sempre belo encontrar na Escritura páginas tão humanas, às vezes, rústicas, grosseiras! Isto mostra o quando Deus entra na vida do homem, esteja ele onde estiver e em que cultura encontre-se! Assim também na nossa vida, por vezes tão pobre e complexa: Deus quer manifestar-se nela! Feliz de quem sabe descobrir na sua vida as pegadas de Deus!
Rute
A pequenina obra (quatro capítulos ao todo) não pertence ao grupo deuteronomístico. A Bíblia dos LXX, porém, e a liturgia colocam-na depois dos Juízes porque a história passa-se neste tempo: "No tempo em que os juízes governavam..." (Rt 1,1). Já a Bíblia hebraica, coloca Rute após os Salmos e os Provérbios. O objetivo deste livro é eminentemente apresentar os inícios da família de Davi. Há, porém, nele um sopro poético e uma simplicidade que encanta. Aí aparece valores humanos belíssimos, como a fidelidade, a amizade, a honestidade, a solidariedade e a piedade. Há também uma lição: o autor desconhecido - talvez do tempo de Esdras e Neemias - deseja mostrar que os pagãos também tem sua bondade e são amados por Deus: uma estrangeira, a moabita Rute, está na linha dos antepassados do Messias (cf. Mt 1,5). Ler este livro é aprender a encantar-se com as pequenas coisas da vida e, por elas, dar graças a Deus!
1 e 2 Samuel
São conhecidos nos LXX como 1 e 2Rs e constituindo, no início, um único livro (a LXX chama 2 e 3Rs de 3 e 4Reis!).
Bem variado é seu material que o compõe: história, lenda, saga, profecia e hinos, tudo harmonizado por um ou mais redatores não lá muito hábeis. A gente percebe que a narrativa é meio costurada! Sente-se pouco a mão do deuteronomista, talvez porque já tinha em si uma teologia aceitável. Já conhecemos o tema central: a fidelidade à Aliança. Nesta visão a obra não faz pura história, porém teologia. Descendo aos pormenores, três são os protagonistas do período histórico que vai dos Juízes à instalação da monarquia em Israel: Samuel, juiz e profeta; Saul, o primeiro rei desventurado; Davi, que encarna o ideal do Reino de Deus na terra. Na lectio procure-se apreender o entrosamento da ação de Deus e da ação humana. Ponto culminante de toda a obra é a profecia de Natã a Davi: Deus lhe promete uma casa estável: dela nascerá o Messias (2Sm 7). Esta profecia assinala o início de um movimento de forte tensão que trará no futuro, através do Messias, descendente de Davi, a instalação do Reino universal e espiritual.
É belo ver como o Autor sagrado aproveita tudo: história, lendas, poemas, sagas, profecias e hinos para, aí, mostrar a ação de Deus procurando o seu povo e do povo respondendo a Deus!
1 e 2 Reis
Também estes dois livros formam uma única obra. No cânon judaico eram de fato reunidos antes em um só livro e só depois da versão dos LXX vieram indicados como 1 e 2 Rs, ao passo que nos LXX aparecem como 3 e 4 Rs (enquanto 1 e 2 Samuel seriam o 1 e 2 Reis). Omitindo as fontes bastante antigas reunidas nos dois livros, diremos que os críticos sustentam que três autores da escola deuteronomística trabalharam aqui. O primeiro no tempo da reforma religiosa do rei Josias (640-609 a.C.) , o segundo durante o exílio, o terceiro no pós-exílio. A este último autor deve-se sobretudo o acento universalista da oração de Salomão (1 Rs 8,41-51) e a mensagem daí decorrente: sempre se deixa ao homem a possibilidade de recuperação. Tenha-se em vista, na leitura, que o autor escreve uma história religiosa no espírito do Deuteronômio. Tudo o que se opõe a este espírito é reprovado, ao passo que é valorizado tudo o que está de acordo com ele. Particularmente interessante nestes livros são as figuras de Salomão e Elias. Do primeiro, o deuteronomista salienta a sabedoria, a construção do templo, o seu tato comerciai e a sua fé, julgando tudo com referência a Deus. Do segundo, faz ver como numa época de grande decadência religiosa, quis ele uma só coisa: reconduzir os seus contemporâneos à fé exclusiva em IHWH, o Deus de Abraão e de Moisés.
Devemos ler estes livros recordando que a história de Israel é também a nossa, com suas fidelidades e infidelidades. Deus vai, por entre nossos altos e baixos, conduzindo a história de acordo com sua vontade. Estes livros nos ensinam também o quanto nossas escolham são importantes e trazem conseqüências para nossas vidas!
Com o 2Rs termina a história do deuteronomista. Agora vamos ler um profeta que viveu neste período para compreender os apelos de IHWH a Israel.
Marcos
Vamos agora iniciar a leitura do Novo Testamento. Começaremos com o Evangelho de Marcos. Mas vejamos, antes, o que são os "evangelhos"!
Entre os anos 65-90, quatro membros da comunidade cristã: Marcos, Lucas, Mateus e João, sintetizam para suas Igrejas locais a mensagem que por mais de trinta anos fora transmitida de viva voz ou já circulava em pequenas unidades escritas, pequenas "apostilas" utilizadas na catequese.
O escopo do seu trabalho é informar e interpretar, à luz da Páscoa e segundo a necessidade da Igreja, aquilo que Jesus fez e ensinou desde o batismo de João até a Ascensão. Um deles, Lucas, acrescentar-lhe-á depois as primeiras etapas da pregação cristã, em sua corrida rumo aos confins da terra. Este segundo trabalho de Lucas recebe o nome de Atos dos Apóstolos; o primeiro trabalho e o dos outros, o nome de Evangelho. O sentido religioso deste termo é o de Boa Nova salvífica. Por "Boa Nova" entendemos o elemento histórico, informativo do que Jesus disse, fez e ensinou; por "salvífica", o prisma de compreensão do "evento-Cristo". De fato, os quatro interpretam para suas Igrejas de maneira a ficar evidente que Jesus é a salvação para todos.
O acontecimento anunciado é único: Jesus Cristo! Por isto se diz que na Igreja há um só Evangelho. O modo porém de interpretá-lo diversifica-se e depende do caráter e da situação de cada autor. Por isso dizemos evangelho segundo Marcos, segundo Lucas, etc.
O Evangelho de Marcos foi escrito entre os anos 65-70, provavelmente em Roma: a comunidade cristã estava sofrendo as dores da perseguição de Nero. Onde estava Jesus, que parecia não ligar para os cristãos? Parecia dormir enquanto o barco afundava! Marcos escreve para consolá-los!
Atendo-nos ao que nos transmitiu a tradição, o autor é João Marcos, chamado ainda o intérprete de Pedro. Ele próprio indica o que pretende anunciar-nos: simplesmente "o início do Evangelho de Jesus que é o Cristo, o Filho de Deus". Diz "início" porque sabe que o anúncio do Evangelho não se limitou à vida terrena de Jesus, porém continua na Igreja. Sua pergunta é esta: como Jesus se revelou, quando por suas obras e palavras, anunciou o Evangelho? Por outras palavras: quem é Jesus de Nazaré? Marcos no-lo diz de chofre desde o início: é o Cristo, o Filho de Deus (1,1). Desenvolvendo depois o seu tema, faz-nos reviver a lenta maturação dos primeiros discípulos na fé e cada um de nós se sente aí implicado. A cada leitor põe-se a mesma pergunta: Quem é Jesus? A leitura nos engaja numa procura. Após um prólogo (1,1-13), o leitor é posto em contato com o homem Jesus. É verdade que continuamente se tem a percepção de que a humanidade não exaure o mistério-Jesus.
De qualquer forma, quando se chega a afirmar com Pedro: "Tu és o Cristo" (8,29), tem-se a impressão de que se disse tudo. O homem com sua inteligência não pode deveras ir avante. Nessa hora entra a revelação: Jesus começa a revelar que o Messias deve sofrer (8,31-32); o Pai revela que Jesus é seu Filho (9,7) e a esta luz é que nos sentimos obrigados a ler o resto do evangelho segundo Marcos. Para quem o lê crendo que ele é Messias porque caminha para a morte e é Filho de Deus porque "expira daquele modo" (15,39), o Evangelho é fonte de vida e estímulo para o anúncio. Quem porém não tem a fé, calar-se-á (16,8).
Deve-se ler o evangelho de Marcos observando sobretudo a pessoa de Jesus. O Jesus de Marcos fala pouco: toda a sua pessoa, seus gestos, suas atitudes, tudo isto é Evangelho. É importante observar que Marcos gosta de pequenos detalhes, que sempre nos dão belas lições!
Jeremias
Vamos começar a ler os livros proféticos.
Os profetas bíblicos são homens de Deus e seus porta-vozes. Em sua pregação e ação, eles procuram recordar com veemência os acontecimentos salvíficos do passado (isto é, o êxodo a culminar na Aliança e no dom da terra) para chamar o povo à fidelidade à Aliança com IHWH. Assim, em nome de IHWH e de sua Alianças eles contestam, o povo, na sua incoerência entre fé e vida e denunciam a inerte aceitação de um passado que não impele para a construção de um futuro melhor. Os profetas são homens apaixonantes e apaixonados, dos mais variados temperamentos e tipos de vida. Mas todos são apaixonados por seu Deus e pelo povo vivendo numa profunda inserção no seu ambiente histórico. Vivem profundamente as situações de seu povo para verificar-Ihe o significado e denunciar-lhe os desvios. São por isso pessoas que meditam o passado na situação do hoje, para descobrir nesse confronto os desígnios de Deus para o futuro (daí os anúncios de esperança e da glória final de Israel). Nestas poucas palavras temos já o essencial para avaliar o testemunho escrito de alguns deles.
A liturgia faz percorrer o livro de Jeremias um pouco durante a Quaresma e sobretudo nas semanas XVI-XVIII dos anos pares. Sua presença no Lecionário da Quaresma vale por dois motivos: primeiro, o livro é um apelo à conversão e, em segundo lugar, a pessoa de Jeremias é, por seus sofrimentos, prenúncio da paixão de Cristo.
Jeremias é dramático: trata-se de um homem sensível, romântico, que IHWH escolhe para profetizar. Sua vida é um sofrimento só, pois deve anunciar a calamidade. Mais de uma vez o profeta entra em crise e abandona a sua missão... e Deus o faz voltar! É um livro apaixonante!
Jeremias profetiza num dos períodos mais trágicos da história de Israel. O ano 597 a.C. é o ano da primeira deportação, e 587 a.C. é o ano da total destruição e deportação para Babilônia. A tragédia foi prenunciada por ele, vista e julgada num confronto contínuo com os compromissos da Aliança (tema central) . De tal confronto resulta que a deportação é um castigo merecido porém o Deus que o inflige não é só um Deus justo e senhor da história, mas um pai misericordioso, um esposo cheio de ternura e de amor. A lembrança de Deus torna-se então exortação para voltar a ele e prelúdio de uma esperança que tem por objeto uma nova Aliança.
Literariamente o livro dá a impressão de uma obra desordenada. Prova-o a versão grega que não tem a mesma ordem da hebraica, e ainda o fato de ser impossível uma leitura biográfica e cronológica. Por exemplo, o cap.27 refere-se ao ano 597, o cap.3 a 587, ao passo que os caps .36-45 a 605 a.C.
O próximo livro a ser lido são as Lamentações de Jeremias.
Lamentações
Houve quem quisesse atribuir a Jeremias esses cânticos de luto e discreta esperança, mas talvez seja preferível dizer que foram compostos pelos judeus que permaneceram no país após a destruição de Jerusalém (587 a.C.). No entanto, por tradição, podemos continuar chamando-as "Lamentações de Jeremias profeta". Para a lectio deve-se lê-la um capítulo inteiro de cada vez, com calma, e tendo sempre em mente a situação de Israel exilado, humilhado e contrito, cheio de esperança em IHWH . Israel somos nós, é a Igreja, é a humanidade!
Epístola aos Gálatas
Composta possivelmente de 49 a 57. Se tivéssemos que defini-la em duas palavras diríamos que este escrito de combate é o manifesto da liberdade do cristão e do universalismo da Igreja. O problema prático e de fundo com que teve Paulo de se defrontar e que penetra a carta inteira é este: para ser cristão é necessário adotar as tradições judaicas e veterotestamentárias? A resposta é um decisivo "não"! É em Cristo, na força da sua cruz e ressurreição que o homem encontra a salvação. Crer em Jesus e a ele unir-se, vivendo na força do seu Espírito: eis o caminho para o Pai!
Amós
É um profeta do período anterior ao Exílio de Babilônia. Voltamos, portanto, aos tempos da história deuteronomística!
Amós profetizou no reino de Israel (Reino do Norte, após a divisão do povo em dois reinos, por ocasião da morte de Salomão) na época do rei Jeroboão II (786-745 a.C.). Tempo de grande euforia econômica, de uma falsa segurança do povo em suas próprias possibilidades, mas perturbado por gravíssimo mal-estar social. O conceito fundamental do seu ensinamento é que Deus é "justiça". Amós é o profeta que defende o pobre contra o rico e vê na afronta do rico uma incoerência entre fé e vida e um aviltamento da Aliança com Deus. Note-se, porém, como a ressonância de suas ameaças se conclui em um ato de esperança!
Mateus
Para Mateus Jesus é o esperado de Israel, a saber, o Messias, o Novo Moisés e é 
 
o Senhor presente na comunidade eclesial, mestre do reino dos céus. Para ler ateus devemos sentir-nos Igreja! Ele não nos dá o primeiro anúncio de Jesus, porém faz catequese, aprofundando a fé que os fiéis já possuem! Assim, Mateus quer de fato que os fiéis, que já sabem quem é Jesus, aprofundem-lhe o mistério e sintam como Jesus quer a sua Igreja, na qual ele permanece vivo e atuante.
Depois de um prólogo assaz extenso (caps. 1-4), que já habitua a ver Jesus como aquele que cumpre uma história de salvação e inicia a definitiva salvação, a comunidade cristã é apresentada a ouvir Jesus. Qual novo e definitivo Moisés, ele promulga a lei do novo povo de Deus (caps. 5-7: sermão da montanha). Jesus apresenta-se no mundo como o mestre que toma sobre si as iniqüidades e os males do mundo para levar a humanidade à liberdade (caps. 8-9). Este novo povo é fundado sobre os Doze, a quem sobretudo compete o anúncio e o testemunho (cap.10: sermão missionário). Esta estrutura hierárquica é, porém, só o aspecto externo e visível da Igreja; o aspecto mistérico (e seu destino) é oferecido no sermão das parábolas do Reino (cap.13). Este é o centro do Evangelho de Mateus! Este povo é dito novo porque nasce de uma ruptura com o antigo (caps.11-12. 14-15) e porque tem um novo fundamento: Pedro (16,13-19).
Mas como deve viver a Igreja de Cristo? A pergunta indica a possível chave da compreensão de Mateus 16,21-20 34. Os anúncios da Paixão, o sermão sobre a Igreja (cap. 18) e outros ensinamentos de Cristo traçam as normas de conduta. Os caps. 21-23 falam do ministério de Jesus em Jerusalém e para os imediatos leitores de Mateus, provindos do judaísmo, mostram como é preciso distanciar-se da religião hebraica. O templo com seus sacrifícios é rejeitado porque o novo povo tem o seu templo, seu sacerdote, seu sacrifício: o Cristo (cap. 26-27: é o que ensina o relato da Paixão). Este povo que está ao redor de Cristo tende para a total realização da salvação (caps. 25-26: discurso escatológico). E deve continuar seu caminho anunciando o Evangelho (cap. 28) . Por todos estes motivos o evangelho segundo Mateus é por excelência o Evangelho da Igreja.
É interessante notar a estrutura de Mateus. Para ele é tão claro que Cristo é o novo Moisés, que divide seu ministério em cinco partes com cinco sermões (como os cinco livros de Moisés): em cada parte Jesus age e fala:
Caps. 1-2: Introdução (Infância de Jesus)
Primeira parte: Jesus age (caps 3-4); Jesus fala (caps. 5-7: Sermão da Montanha)
Segunda parte: Jesus age (caps. 8-9); Jesus fala (cap. 10: Sermão sobre a Missão)
Terceira parte: Jesus age (caps. 11-12); Jesus fala (13,1-52: Sermão das parábolas do Reino)
Quarta parte: Jesus age (caps. 13,53 - 17,27); Jesus fala (cap. 18: Sermão sobre a Igreja)
Quinta parte: Jesus age (caps. 19-23); Jesus fala (caps. 24-25: Sermão escatológico).
Caps. 24-28: Conclusão (A páscoa do Senhor, que dá início ao Novo Povo, que é a Igreja).
Oséias
Quase contemporâneo de Amós. Profetizou também no reino do Norte por volta de 750-730 aC num período agitado por força da ameaça assíria e da discórdia entre os políticos. Ponto central de seu pensamento é que Deus é "amor". Por isso a história de Israel é interpretada como um casamento de Deus com Israel, casamento rompido por Israel não por Deus, que se esforça por reconduzir a esposa infiel à fidelidade. Deus aparece
como um esposo apaixonado que, mesmo traído pelo adultério da esposa, permanece fiel e atrai sua esposa para si, até seduzi-la e convertê-la! As páginas de Oséias são de um lirismo e de uma paixão de grande beleza.
Sabedoria
Entramos agora nos livros sapienciais (livros que nos transmitem uma sabedoria de vida nas pequenas coisas de cada dia). São eles: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (Cóelet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico (Sirácida). Estes livros da Bíblia são uma reflexão sobre a experiência da vida humana à luz de Deus, com vistas a tirar conselhos práticos para a vida. A reflexão dos sábios de Israel introduz fortes problemas: vida, morte, dor, conduta, felicidade. A redação deles, exceto uma parte do livro dos Provérbios, e de após o Exílio. Alguns destes livros são atribuídos a Salomão porque este era famoso por sua sabedoria. Mas, na verdade, muito pouca coisa aqui é de Salomão... somente alguns provérbios...
Estes livros da Bíblia são uma reflexão sobre a experiência da vida humana à luz de Deus, com vistas a tirar conselhos práticos para a vida. A reflexão dos sábios de Israel introduz fortes problemas: vida, morte, dor, conduta, felicidade. A redação deles, exceto uma parte do livro dos Provérbios, e de após o Exílio. Alguns destes livros são atribuídos a Salomão porque este era famoso por sua sabedoria. Mas, na verdade, muito pouca coisa aqui é de Salomão... somente alguns provérbios...
O livro da Sabedoria apresenta-se com um desenvolvimento coerente em três etapas: a morte ameaça o homem, mas é vencida por aqueles que permanecem fiéis ao verdadeiro Deus (caps.1-5); a sabedoria, dom de Deus, ajuda a orientar a própria vida como Deus quer (caps.6-9); esta sabedoria está presente na vida de todos os homens (universalismo), mas em particular na história de Israel (caps. 10-19).
É importante compreender que "sabedoria" não quer dizer inteligência, cultura ou erudição: o sábio é aquele que vê como Deus ver, sente como Deus sente, julga como Deus julga. A raiz da sabedoria é ter um coração aberto para Deus nas pequenas coisas da vida. A Sabedoria é o último livro escrito do Antigo Testamento: estamos entre 100 e 50 aC.!
1 Epístola aos Tessalonicenses
Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia. Paulo visitou a cidade e pregou na sua sinagoga por três sábados consecutivos. Converteu algumas pessoas, mas teve que fugir para Beréia depois de dois ou três meses, devido às perseguições da comunidade judaica da cidade. Manda, então, Timóteo a Tessalônica para saber como estavam os cristãos que ele tinha deixado ainda no começo da evangelização. As notícias eram maravilhosas: a comunidade crescia e perseverava! Paulo, então escreve-lhes cheio de sentimentos de ação de graças! É a primeira carta de São Paulo e o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito!
Nesta carta, Paulo anima a comunidade e dá ensinamento sobre a ressurreição: os que morreram já estão com Cristo e todos nós nos reuniremos a eles no Dia da Ressurreição!
Tobias
Vamos, agora rezar com o livro de Tobias, que pertence a um tipo diferente de literatura: trata-se de uma "reflexão midráxica da história" O midraxe é uma forma alegórica, figurada de falar sobre os acontecimentos, buscando desvendar o sentido mais profundo dos acontecimentos.
Sob este título genérico colocamos os livros de Tobias, Ester e Judite. Estes livros simulam um relato do passado em forma de "romances" para interpretar a atualidade. Surgiram num momento em que Israel se sentia ameaçado na própria fé pela hostilidade de um mundo pagão. Nessa época (séculos IV-II aC), era incrível o fascínio do paganismo helenista sobre muitos judeus. Havia, então, a grande tentação de sentir vergonha da religião judaica e de seus costumes: parecia coisa antiquada, fora de moda! Israel deve tomar sempre maior consciência de que a unidade do povo não será efetuada só pela terra, mas pela única fé e única esperança em IHWH. Esses romances saborosos são estórias edificantes, piedosas, para comoverem e encherem o coração dos judeus de amor pelo seu Deus e sua Lei.
O livro mais lido na liturgia da Missa é o de Tobias, verdadeira obra-prima da arte bíblica do século III a.C. Como já explicamos, trata-se de uma estorinha escrita, criada para edificar. Portanto, os personagens são fictícios! Tanto que, em geral, os autores destas obras cometem erros gritantes de história e geografia... exatamente para deixar claro que se trata de uma ficção! No livro de Tobias aparecem os traços essenciais da piedade judaica: fidelidade à lei, amor entre pais e filhos, esmola respeito aos mortos, estima do matrimônio. É um livro encantador; melhor que qualquer telenovela atual!
Naum
Entre os anos 663-612 a.C. ele proclama a queda de Nínive, exatamente no momento de seu maior poder. Para ele Nínive não é tanto a prestigiosa capital da Assíria quanto o símbolo da arrogância e do orgulho político. Os profetas teimam sempre em recordar ao povo de Israel que somente IHWH é grande. Ninguém mais nem nenhuma potência militar e política são Deus!
Lucas
O evangelho segundo Lucas é uma obra completa em si mesma; forma porém um todo com o livro dos Atos dos Apóstolos. Os dois escritos vêm com o nome de obra lucana. A unidade da obra aparece pela geografia e pela temática. Esta tem um centro geográfico: Jerusalém. No evangelho esta cidade é um ponto de chegada, enquanto tudo tende para ela como para o lugar onde tudo se cumpre (cf. 9,51); nos Atos, ao contrário, é um ponto de partida, pois que o anúncio se lança de Jerusalém para os caminhos do mundo. O anúncio é único em toda a obra: a alegre mensagem salvífica que se realiza em Jesus. Os anunciadores são Jesus em pessoa, com seus gestos e palavras (Evangelho) e os apóstolos, em particular Pedro e Paulo (Atos) . Os destinatários do anúncio são todos os homens.
"Todo homem verá a salvação de Deus" (3,6), é dito ao iniciar-se o Evangelho, e no final dos Atos se verifica que "aos pagãos" foi mandada esta salvação de Deus (28,28) . No fim do Evangelho se afirma que os discípulos serão testemunhas da salvação "a começar de Jerusalém" (24,47-48) e no início dos Atos são enumeradas as etapas dos seus testemunhos: Jerusalém Judéia, Samaria, últimos confins da terra (1,8). Na verdade, a todos os homens é pregada a conversão e o perdão dos pecados (Lc 3,3; 24,47; At 2,38; 26,18).
Quem lê a obra de Lucas deve sentir que a história começada com Cristo e continuada com os Apóstolos é história pessoal. Para conseguir isto, é necessário observar o modo concreto como Lucas apresenta Jesus e a vida da Igreja das origens. O ensinamento de Jesus é sempre acompanhado de seu exemplo e vivido pela Igreja: Jesus prega, ensina a pregar, a Igreja prega; o tema da pregação é uma característica de Lucas. Jesus manda perdoar os inimigos, depois morre perdoando e, também Estêvão, o primeiro mártir, morre assim. Jesus é acusado de ir contra as leis do Estado; Paulo é igualmente acusado disso. Os exemplos não teriam fim! O caminho do Mestre deve ser o mesmo dos discípulos! Pois bem: se lemos Marcos para saber quem é Jesus, leiamos Lucas para saber como imitar a Jesus!
Terminada a leitura do evangelho, vamos voltar um pouco ao Antigo Testamento e, depois, voltaremos para os Atos dos Apóstolos.
Judite
Voltamos para aquelas estórias edificantes! A estória aqui é a da bela viúva Judite (seu nome significa "a judia") que enfrenta o general pagão Holofernes, para defender o seu povo. Tudo isto motivada pela fé em Deus. Deus usa o que é fraco para abater o que é forte. O livro foi escrito em fins do século II ou no início do século I aC, provavelmente para encorajar os judeus que moravam no Egito e se viam às voltas com a perseguição na época de Ptolomeu VII, pouco depois do ano 145 aC. Judite representa o seu povo, que é convidado pelo seu exemplo a uma confiança ilimitada em Deus. Na fé da Igreja, Judite é um imagem tipológica da Virgem Maria!
Isaías (Is 1-39)
Sua vocação profética (Is 6) dá-se no templo, no ano 742 aC. Sua missão desenrola-se no tempo da guerra siro-efraimita (734-733 a.C.) e da queda do reino de Israel (Reino do Norte) em 722 a.C., sob os reis de Judá Acaz (735-715 a.C.) e Ezequias (715-686 a.C.). São por isso compreensíveis os temas políticos de sua mensagem, reunidos para nós nos caps. 1-23.28-33.36-39 da obra que vem com o nome de Isaías.
Nem todo o livro de Isaías pertence ao profeta Isaías! Seus são os caps 1-39. O resto da obra é devido à "escola isaiana" que dura vários séculos. Os caps. 40-55 seriam de um outro profeta, da mesma mentalidade de Isaías, que viveu na época do Exílio de Babilônia. Este profeta é chamado pelos estudiosos de "Segundo Isaías". Sua missão é consolar o povo, prometendo-lhe que Deus vai fazê-lo voltar para a Terra de Israel. Os restantes caps. 56-66 não são de uma pessoa somente, mas de vários autores da escola isaiana e são compostos por fragmentos de várias épocas e situações. Tema fundamental de toda a obra isaiana: "Deus é santidade", a que corresponde no homem a fé. Os dois fatores, positivo e negativo, da história da salvação são a fé-confiança e a incredulidade; o primeiro, concebido como força vitoriosa de felicidade e de vida; o segundo, como princípio de destruição e ruína. Dado o predomínio da incredulidade, abre-se o caminho em Isaías para um novo conceito, o de "resto de Israel", continuador da história da salvação e sinal da fidelidade de Deus às promessas. Deste conceito ao tema da esperança e da expectativa messiânica, tão acentuada no "livro do Emanuel" (caps. 7-12) foi curto o passo. Aí estão motivos mais que suficientes para entender o uso abundante de Is 1-30 no período do Advento. Vamos ler dos capítulos 40 em diante mais para frente. Agora somente a obra de Isaías mesmo, antes do Exílio!
Atos dos Apóstolos
Já falamos sobre os Atos ao apresentar o Evangelho de Lucas. Agora, é só ler!
Miquéias
Contemporâneo de Isaías, sabe unir a doçura e a força para denunciar o pecado do povo de Deus. Solda o passado e o presente com o futuro e anuncia o "Deus-juiz", mas também a paz que o Messias trará, ele que é o Dominador que sairá de Belém.
Provérbios
Voltamos aos livros sapienciais. Os Provérbios apresentam o mais antigo extrato da reflexão sapiencial. A tese é esta: Deus recompensa o justo e castiga o ímpio nesta terra. Recordemo-nos que na época em que esta obra foi escrita, Israel ainda não esperava na vida após a morte: todos os mortos iam para o sheol e basta! Então, qual a diferença entre bons e maus, justos e pecadores? Aos justos, vida longa, riqueza e muitos filhos; aos maus, morte violenta, após uma vida breve, pobreza e uma descendência minguada. Assim ensinavam os sábios! Como veremos adiante, esta explicação não colou. Basta pensar no caso de Jó... É bonito pensar que, na Escritura, a Revelação de Deus vai evoluindo de livro para livro... também na Bíblia, o homem vai tateando em busca de Deus!
2 Epístola aos Tessalonicenses
Paulo escreveu novamente aos tessalonicenses pouco depois de escrever a primeira carta. Motivo: idéias errôneas na comunidade sobre a Vinda do Senhor. Alguns tessalonicenses pensava na Vinda do Senhor para já e não trabalhavam mais. Paulo exorta seus leitores a que trabalhem em paz, vivam na perseverança e na oração, levando vida calma e tranqüila.
Sofonias
Sua voz ressoa nos anos 640-630 a.C. - um pouco antes do povo ser levado para o Exílio de Babilônia. Ele é o homem que tem o senso do pecado como ruptura de uma relação pessoal com Deus. Suas palavras violentas e suas ameaças procuram orientar a religiosidade do povo para uma religião "em espírito e verdade". Sofonias não se preocupa com números ou multidões: IHWH reservará para si um resto pobre e humilde que colocará em Deus sua esperança!
Cântico dos Cânticos
Trata-se de um livro que reúne vários poemas de amor, poemas usados provavelmente nas festas de casamento. Cantam de modo inigualável o amor humano, com toda a sua força, beleza e conflituosidade! A Palavra de Deus assume tudo quanto é verdadeiramente humano.
Este amor humano simboliza também o amor entre IHWH e o seu povo de Israel: Deus é o esposo da Virgem filha de Sião! Assim, a leitura deste livro pode ser profético-escatológica: trata-se do amor entre Deus e Israel, que se desenvolve como uma história que transcorre na expectativa da união idílica final.
Os místicos cristãos sempre amaram e comentaram este livro, no qual vêem a imagem da união entre Cristo esposo e a alma esposa! Os rabinos judeus costumavam dizer que o mundo não é digno do dia em que IHWH deu este livrinho a Israel! É um livro encantador pela suave força e vigorosa ternura!
1 Epístola aos Coríntios
Corinto era a capital da província da Acaia; cidade comercial, desenvolvida, movimentada e devassa! Sua população era extremamente variada e conhecida como protótipo de imoralidade sexual. Paulo visitou a cidade pela primeira vez na sua segunda viagem missionária: aí fundou a Igreja de Corinto e permaneceu com os coríntios dezoito meses. A comunidade cristã coríntia era composta sobretudo por gentios e pobres.
Paulo escreve esta carta aos coríntios por volta do ano 56. Eles enfrentavam o problema da divisão no seio da comunidade e procuravam sua verdadeira fisionomia, seu espaço como cristãos no mundo. A primeira carta é centrada no tema da unidade da Igreja. Para responder a este problema, fala-se da sabedoria mundana e da sabedoria cristã, do banquete eucarístico e dos festins dos ídolos, dos carismas (entre os quais figura o matrimônio e a virgindade) e da caridade, para terminar com uma longa exposição sobre a ressurreição de Jesus, que implica a nossa ressurreição. Sobre este tema temos uma das exposições mais belas e completas do Novo Testamento. O Apóstolo censura os partidos existentes na comunidade, os abusos no tocante à imoralidade, dá normas quanto ao matrimônio e celibato e orienta sobre a boa ordem nas Assembléias eucarísticas. Ler esta epístola nos ajuda a compreender o quanto, apesar dos conflitos e dificuldades, os cristãos são chamados a uma vida nova...
Habacuc
Profetiza pelo ano 600 aC. Podemos defini-lo como o profeta da angústia e do encontro com Deus. Ele formula uma pergunta a Deus: por que a desgraça oprime o povo? O castigo é justo, mas por que devem ser os ímpios babilônios a castigar? Deus não dá explicações. Simplesmente pede que o profeta confie : "O justo viverá por sua fé".
2 Epístola aos Coríntios
Escrita no ano 57, escrita da Macedônia, Paulo, depois de uma visita amarga à comunidade de Corinto, na qual alguns contestavam sua autoridade, agora escreve-a consolando: é uma carta plena de consolação. Mas contém também elementos de uma apologia: Paulo é forçado a justificar-se perante os falsos apóstolos que agem na comunidade de Corinto. Toma daí ocasião para esboçar sua doutrina sobre o ministério apostólico e reforçar sua percepção do mistério de Cristo.
Ezequiel
Depois de termos lido os profetas anteriores ao Exílio de Babilônia, vejamos, agora, aqueles que, no Exílio, consolaram o povo em nome de IHWH.
O profeta exerce sua missão entre 593 e 570 aC, segundo alguns primeiro em Jerusalém, depois em Babilônia; segundo outros somente em Jerusalém ou somente em Babilônia. O livro divide-se em duas partes: a primeira (caps. 1-32) compõe-se de ameaças contra Judá e contra as nações; a segunda (caps. 33-40) é todo um convite à esperança. A primeira parte anuncia aos exilados, que ainda esperam uma desforra, a total destruição de Jerusalém; a segunda parte proclama uma nova esperança aos exilados, que não mais esperam em Deus. O anúncio do profeta é possível porque ele lê os acontecimentos à luz de Deus, Senhor da história, Deus da Aliança, único que pode levar à salvação porque é Deus de amor. Movido por esta fé, pode Ezequiel anunciar a reconstituição das promessas feitas a Davi (messianismo). Ele descobre um sentido nos trágicos acontecimentos de um mundo caótico.
Outro tema importante em Ezequiel é a responsabilidade individual no pecado (caps. 18-20).
Epístola aos Filipenses
Escrita de Éfeso, provavelmente em 56-57, lá onde Paulo se encontra preso (embora seja difícil demonstrar que Paulo haja sido encarcerado em Éfeso). Filipos é a comunidade amada por Paulo. A carta ao filipenses é chamada "a carta do coração". Não existem graves problemas na comunidade. Mesmo assim é manifesta a preocupação fundamental de Paulo acerca da unidade dos cristãos nas relações internas da comunidade. Querer a unidade significa olhar para Cristo, recusar as pretensões pessoais e empreender, sem titubear o árduo caminho cristão, mesmo a corrida cristã, no propósito de uma vida unida a Cristo.
Segundo Isaías (Is 40-55)
Já falamos um pouco sobre este profeta da escola isaiana, que viveu no fim do Exílio de Babilônia (537 aC.). Ele é considerado autor dos caps.40-55 do livro de Isaías.
Esta parte do livro tem, porém, o nome de "Livro da Consolação", pois este é o seu tema principal, pois mesmo os quatro cânticos do Servo de IHWH mostram no sofrimento o caminho para o verdadeiro triunfo e alegria. A estrutura destes capítulos é simples e unitária. Os caps 40 e 55, que se encontram na extremidade da coletânea de profecias, falam da transcendência de Deus, os caps. 41-48 interessam-se sobretudo pela Babilônia, por Ciro, pelos ídolos (deuses inexistentes) e por Deus criador e salvador, enquanto os caps. 49-54 falam do Servo de IHWH e da nova Jerusalém, amada por Deus. É clara nestes textos a idéia da transcendência e soberania de Deus. Os quatro cânticos do Servo Sofredor foram importantíssimos para os cristãos compreenderem a missão de Cristo e o sentido de seu sofrimento. É um livro de grande beleza e força teológica e sentimental!
Coélet (Eclesiastes)
Também este livro, conhecido por muitos com o nome de Eclesiastes, faz parte da literatura sapiencial. O Autor - Coélet - sublinha o absurdo da esperança terrena: a experiência, mesmo nos melhores tempos da história do homem, é contrária a ele: não há nada de novo; tudo é vaidade! É um livro bastante pessimista, este: tudo é vaidade, ou seja, tudo é pó! Somente em Cristo o enigma da vida humana será plenamente iluminado!
Epístola aos Romanos
É a mais importante das cartas de Paulo, escrita pelo ano 58 não para responder a problemas da comunidade cristã de Roma, que ele não conhecia, mas para dizer a essa comunidade qual era o conteúdo de sua mensagem (caps.1-11) e como ele concebia a vida cristã (caps. 12-16) . Em poucas palavras, apresenta ele aos Romanos o projeto salvífico do Pai que se faz proposta para um mundo totalmente sujeito ao pecado (caps. 1-4); fala da liberdade cristã como libertação do pecado, da morte, da incapacidade de trabalhar pessoalmente pela salvação (cap. 5-7) e como tensão para a plena realização de si mesmos (cap.8). Procura infundir nos cristãos a certeza de encontrar a liberdade total, tentando fazer ver como Deus age na história humana para a salvação de todos (caps. 9-11) e procurando convidar a comunidade cristã a ser no mundo agente desta salvação. Os atuais temas sobre a libertação e o engajamento cristão no mundo encontram uma resposta nesta carta.
Terceiro Isaías (Is 56-66)
Vamos, agora, começar a leitura dos profetas posteriores ao Exílio da Babilônia. Foram eles quem animaram o povo no difícil período de reconstrução do país.
"Terceiro Isaías" é uma cômoda designação para a autoria dos caps. 56-66 de Isaías. De redação posterior ao Exílio, não são provavelmente obra de um só autor. Os destinatários imediatos são os repatriados que, depois do primeiro entusiasmo, sentem o peso da reconstrução. O objeto da esperança para eles é o fato de que a cidade de IHWH com o seu templo será o centro da salvação universal.

Mais um livro sapiencial. Apaixonante! É um romance feito em versos - como a literatura de cordel das feiras do Nordeste - para tentar resolver uma questão espinhosa: por que o justo sofre? A explicação dos sábios de Israel, segundo a qual o sofrimento é castigo pelo pecado, não resolvia. O autor tenta responder a questão! Consegue? Mais ou menos! Deus não dá explicações; o homem deve somente confiar no seu amor. O sofrimento humano somente será iluminado pela cruz do Inocente Jesus!
Este livrinho contesta a tese do livro dos Provérbios (veja-se lá em cima!). É belo ver como a Palavra de Deus vai evoluindo no seu diálogo com o homem! Deus é o Deus dos vivos! E a Escritura não é uma receita de bolo, prontinha!
Bilhete a Filêmon
Trata-se de um bilhete escrito por Paulo. Data provável: 58-60 ou 61-63; escrito da prisão de Cesaréia ou da de Roma. Representa um marco no movimento espiritual em prol da libertação dos escravos: "O escravo tornado irmão". É um belo exemplo de como a fé cristã pode e deve transformar e dar sentido às relações humanas.
Eclesiástico
A reflexão do Sirácida (Jesus, filho de Sirac), cuja obra é conhecida sob o título de Eclesiástico, esclarece o problema do mal e da retribuição levantado pelos três autores precedentes (Provérbios, Jó e Eclesiastes), mas lhe projeta a solução ao futuro messiânico: a história da salvação é caracterizada por tão forte tensão em busca de uma finalidade (nós cristãos sabemos que tal finalidade se encontra em Cristo) que supera de algum modo a morte. Exemplos disso são Henoc, Elias... Mas a perspectiva do autor mostra-se ainda muito obscura. Somente em Cristo o peso da existência e o mistério da vida encontrarão uma resposta!
Epístola aos Colossenses
Apesar de não conhecer pessoalmente os cristãos de Colossas, Paulo apresenta-lhes o mistério de Cristo de modo profundíssimo: o Senhor ressuscitado é o princípio de todo o universo e o Cabeça da Igreja, que é seu corpo! Tudo é sujeito a Cristo: foi criado através dele e vai para ele. Os cristãos, unidos a Cristo pelo Batismo, participam desse senhorio do Ressuscitado e devem, já de agora, viver uma vida nova.
A carta deseja combater alguns erros presentes nos cristãos de Colossas - e hoje em muitos cristãos, pela Nova Era: culto dos anjos, como se eles fossem salvadores, sincretismo, que misturava a salvação do Cristo a especulações sobre elementos da natureza, etc. Em resumo: contra os gnosticismos de ontem e de hoje (a Nova Era é o ressurgimento do gnosticismo!), a Carta apresenta o Cristo ressuscitado, sentido do cosmo, da história e da nossa vida!
Jonas
Eis um livrinho gostoso de ser lido, quando se compreende o seu estilo. Não se trata de um livro profético: trata-se de uma estória para abrir a mentalidade dos judeus que voltaram do Exílio cismados com os pagãos. O autor imagina um judeu mesquinho - Jonas - que teima contra Deus para ver a destruição da cidade de Nínive, que é pagã. É interessante a ironia do autor: os pagãos, no livro, são cheios de boa vontade, enquanto Jonas...
Epístola aos Efésios
É muito parecida à Epístola aos Colossenses. Tema principal é o mistério que se revela em Cristo e significa o projeto de Deus para salvar o mundo. Três conceitos dominantes: 1) Cristo: nele, Filho de Deus, tudo foi criado e tudo deve unificar-se; 2) Igreja: comunidade cristã universal, corpo de Cristo ressuscitado, lugar donde Cristo-cabeça derrama a salvação para o mundo; 3) cristão: aquele que tem conhecimento do mistério de Cristo e vive-o no amor operoso. Estes três conceitos permitem ler em sua justa luz estas carta de Paulo.
Importante, no capítulo 5, é a afirmação que, no matrimônio, a relação entre marido e mulher é sacramento do amor entre Cristo e a Igreja.
Ageu
Suas profecias datam de agosto a dezembro de 520 aC. O profeta procura incentivar aqueles que voltaram do Exílio para que reconstruam o templo: estavam desanimados pelas dificuldades.
1 Timóteo
Começamos agora a ler as Cartas Pastorais.
As duas cartas a Timóteo e a carta a Tito são assim chamadas porque dão diretrizes aos pastores das Igrejas (ou seja, das comunidades cristãs que hoje chamamos de dioceses). Os que as aceitam como cartas de Paulo dão como data de composição os anos 65-67; para outros, que pensam que elas foram escritas por discípulos de Paulo, a data estaria nos anos 70-80. Sua importância é imensa quando se trata de refletir teológica e espiritualmente sobre o ministério na Igreja. Procurando sua caracterização, diremos que na 1Tm Paulo dá ao bispo de Éfeso diretrizes para guiar a Igreja na diversidade de seus grupos. Particular insistência é dada ao rito da imposição das mãos, ao anúncio da verdade e à organização do culto.
Malaquias
Não sabemos o nome do profeta autor deste livro. O nome "Malaquias" que aparece em Ml 3,1 significa simplesmente "meu mensageiro". Certamente o profeta viveu nos inícios do segundo templo - portanto, após Ageu. O profeta grita contra o descaso pelo culto, os casamentos de judeus com pagãos, que poderia levar os israelitas à idolatria. Importante é o anúncio de uma oblação pura (que se realizará no sacrifício de Cristo na Eucaristia). É este profeta quem anuncia a vinda de Elias, João Batista.
2 Timóteo
Voltamos agora às Pastorais. 2Tm pode-se considerar como o testamento de Paulo. Ele combateu nos sofrimentos o bom combate e concluiu sua carreira. Timóteo é convidado a fazer o mesmo.
Joel
Provavelmente o livro de Joel é do século IV aC. É um livro já muito marcado pelo estilo apocalíptico: figuras exóticas e vivas, complexas e ricas em detalhes, para descrever o futuro prometido por Deus.
Importante em Joel é a promessa de uma plena efusão do Espírito os tempos do Messias. Esta promessa encontra-se um pouco por todo o Antigo Testamento, mas em Joel adquire um força e beleza sem igual.
Epístola a Tito
A última das pastorais é a carta a Tito, bispo de Creta, é um incentivo a uma vida reta. Nas três cartas o tom é por vezes categórico, o que serve para lembrar que as convicções cristãs se traduzem em atitudes práticas.
1 Macabeus
Os dois livros dos Macabeus não podem ser classificados com os precedentes. Seu gênero literário é de história edificante, como Tobias, Judite, etc..., embora falem de um período bem preciso da história de Israel e de fatos concretos. Assim, são livros que tratam de fatos acontecidos, mas relidos à luz da fé. Os dois livros se distinguem entre si pela data de composição: 2 Mc no II século aC e 1Mc no século I aC. Também o conteúdo dos dois é diverso: um não é a continuação do outro! 2Mc abrange o período que vai de 176 a 161 a.C., isto é, trata unicamente da perseguição de Antíoco IV e do primeiro dos irmãos macabeus, Judas. 1Mc trata da história de todos os irmãos de 75 a 133 a.C.
Uma coisa os dois têm em comum: tratam da terrível prova que Israel viveu no tempo do domínio dos gregos sobre a Terra Santa. Israel passou pela tentação de abandonar a Lei do Senhor para seguir a moda, a globalização da época, que era o paganismo helenístico!
Assim, em 1Mc, não é a existência de Israel que é posta em perigo, porém sua fé, sua identidade religiosa. Israel é ameaçado na sua esperança e vence a prova apegando-se à lei de Deus. É um livro que nos faz pensar!
Epistola aos Hebreus
É ou não é de Paulo? Dificilmente se encontram exegetas que afirmam ser Paulo o seu autor. Foi escrita antes de 70, ano da destruição do templo. O escopo prático para os leitores imediatos, que eram judeus, é o convite a abandonarem o judaísmo e saírem de Jerusalém (ou seja, das concepções judaicas) carregando a cruz de Cristo. A carta marca a ruptura definitiva entre cristianismo e judaísmo.
Para sua caracterização, diremos que não se trata propriamente de uma carta, embora tenha este nome, e sim de uma longa homilia (1,1-13,21), acompanhada de curto bilhete. Tema: após as palavras iniciais, põe-se o autor a definir o nome de Jesus, ou seja, a situação de Jesus com relação a Deus e aos homens. E a pergunta habitual encontrada em todo o Novo Testamento: quem é Jesus para nós? A interrogação se torna mais insistente à medida que prossegue o discurso e se vão delineando os traços específicos de Jesus e de sua obra. O título dominante de Jesus, pelo menos do capítulo 5 em diante, é o de sumo sacerdote.
1 Epístola de Pedro
A primeira de Pedro é um excelente documento de catequese, como era praticada pelos anos 60. Parece isto tão evidente que muitos a consideram como uma catequese batismal ou uma homilia pascal. Os destinatários parecem ser as comunidades da Ásia Menor. Eles tomam sempre mais consciência de sua originalidade no ambiente em que se encontram, e isto não lhes é perdoado pelos não-cristãos. Pesam fortes suspeitas contra a comunidade, precursoras de perseguições. Em tal período não devem os cristãos esconder-se por medo: o momento deve ser ocasião para um crescimento na esperança e deve entusiasmá-los pela imagem de Cristo inocente, humilde e sofredor, sobre cujas pegadas devem caminhar os crentes expostos a toda a espécie de assaltos.
Abdias
Não sabemos nada sobre a pessoa de Abdias. No entanto, sabemos que era exageradamente nacionalista. Tem uma mágoa enorme dos edomitas, porque apoiaram os babilônicos na destruição e exílio de Israel. Para o profeta, a destruição de Edom significa já o início do juízo de IHWH sobre toda a terra. O livro de Jonas é uma crítica a este tipo de visão mesquinha! É belo ver como um livro corrige o outro: a revelação dá-se em tensão!
Que lição poderíamos tirar de um livro azedinho como este? Ele é palavra de Deus! Um ponto positivo: exalta o poder e a justiça de IHWH.
2 Epístola de Pedro
Esta segunda carta atribuída a Pedro é, talvez, o último escrito do Novo Testamento. É dirigido contra os falsos profetas que se infiltram na comunidade. O problema principal de que trata este escrito é o retardamento da Vinda do Senhor, que ameaça diminuir a tensão cristã sobre a realização da história e o fervor dos cristãos. A resposta é que o Senhor não retarda essa realização, apenas tem paciência, não querendo que ninguém pereça.
2 Macabeus
Já falamos sobre ele quando apresentamos 1Mc. Basta agora acrescentar que o sofrimento dos mártires que morreram para defender a Lei contra o paganismo grego, faz o autor colocar o problema do sofrimento dos justos que vão ao martírio. Uma coisa é certa: Deus não abandona seus amigos, nem na morte! Desta reflexão nasce clara a idéia da retribuição no além. A ressurreição é aqui afirmada com clareza.
Epístola de Tiago
Poderemos definir esta carta dos anos 60 como "o evangelho dos pobres". Em estilo sentencioso, típico da literatura sapiencial, lança-se o autor com veemência e... com modernidade... à defesa dos pobres. Ele é por uma Igreja "serva e pobre".
Outros ensinamentos são: suportar as provações (1,2-18); refrear a língua (3,1-12). Vem, depois, a alusão ao rito da unção dos enfermos (5,15-16).
Zacarias
O livro de Zacarias tem duas partes bem distintas, talvez de dois autores diferentes! A terminologia de "primeiro e segundo Zacarias", aqui e ali encontrada, dá bem a divisão do livro. Com efeito, os caps. 1-8 não são da mesma época dos caps. 9-14. O autor dos oito primeiros é contemporâneo de Ageu e com ele aspira pela reconstrução, porém o faz em termos de purificação. O passado tem valor como ponto de partida para uma nova esperança. A segunda parte, ao contrário, esquece a realidade quotidiana para se projetar aos últimos tempos do mundo. E a parte messiânica, da qual a liturgia recorda o rei que monta o burrinho (9,9.10) e "o olhar para aquele que traspassaram" (12,10-11).
Epístola de Judas
Difícil estabelecer a época da sua composição. Foi escrita quando os apóstolos já estavam mortos. É atribuída a Judas para enfatizar a autoridade do escrito. O escrito é um violento libelo contra os corruptores da fé que dilaceram a comunidade, inventam hierarquias de seres celestes para dissolver o senhorio de Cristo e insultar os anjos. Como se pode ver, aos poucos o cristianismo teve que enfrentar especulações pseudo-religiosas, de uma religiosidade sem Cristo, que dissolvia a unicidade, o absoluto e a primazia do Senhor Jesus... como a Nova Era e o Espiritismo fazem hoje!
1 e 2 Crônicas
Vamos entrar agora num outro grupo de livros. Assim como logo no início da leitura da Escritura meditamos na história de Israel segundo a teologia do Deuteronomista, agora vamos lê-la do ponto de vista de um outro teólogo, que chamamos de Cronista. Assim, ao lado da obra histórica do Pentateuco e da História deuteronomística que dela depende, o Antigo Testamento oferece a do Cronista. Sob este nome quer-se hoje enfeixar, não sem razão, os livros 1 e 2 das Crônicas e os de Esdras e Neemias.
Contam a História, de Davi ao exílio, mas não são uma dupla dos livros de Samuel e dos Reis. Mudou muito a situação de Israel. Estamos no século IV a.C., época em que Israel só consegue reconhecer-se no culto de Jerusalém, pois já perdera a independência política e econômica. Donde a importância dada pelo autor ao templo, às classes sacerdotais, a Davi e a Salomão. Davi aqui é só herói, sem defeito... e modelo do messias que deverá vir para restaurar a Casa de Israel.
Vamos ler de modo contínuo os dois livros das Crônica.
João
Voltamos, agora, aos Evangelhos!
Impossível seria resumir em poucas palavras este evangelho tão caro aos místicos, se o próprio João não nos indicasse o caminho. Ele recorda poucos fatos da vida de Jesus antes da Paixão: encontro com o Batista e primeiros discípulos, Caná; expulsão dos vendilhões do templo; encontro com Nicodemos, com a Samaritana e um funcionário do rei; cura junto à piscina probática, multiplicação dos pães; cura do cego de nascença, ressurreição de Lázaro; mas essas poucas coisas são narradas por João para que "creiamos que Jesus é o Cristo, Filho de Deus e, crendo, tenhamos a vida em seu nome" (20,31).
Para obedecer a João devemos pois indagar de Jesus em cada página do evangelho: "Quem és tu?" A resposta será parcial mas sempre a teremos. Por umas sete vezes o próprio Jesus nos responderá: Eu sou o pão da vida (6,48); Eu sou a luz do mundo (8,12); sou a porta das ovelhas (10,7); sou o bom pastor (10,14); sou a ressurreição e a vida (11,25); sou o caminho, a verdade e a vida (14,6); sou a verdadeira vide (15,1). E poderemos acrescentar os dois "Eu sou", o da messianidade (4,26) e o da divindade (8,58).
Só quem se deixa fascinar pela revelação de Cristo pode dizer com Pedro: "Senhor, a quem iremos? Somente tu tens palavras de vida eterna" (6,68).
Esdras
Os dois livros de Esdras e Neemias são o único documento histórico do repatriamento dos hebreus vindos do exílio ao findar o século VI e principiar o V aC. A Bíblia hebraica e a dos LXX consideraram-nos uma só obra, chamada "o livro de Esdras". Só nos primeiros séculos cristãos distinguiram-se o 1o e o 2o livro de Esdras ou o livro de Esdras e o de Neemias. São três os protagonistas desta obra: Zorobabel, príncipe de Judá, descendente de Davi, Esdras, o pai do judaísmo líder religioso dos judeus e Neemias, líder político da comunidade judia, seu governador, nomeado pelo Império Persa. A história narrada nestes livros tem uma alta finalidade: é uma história do templo e, portanto, de uma comunidade formada em torno do templo. Três idéias estão na base da comunidade: a raça eleita, a lei, o templo, e são a força histórica do judaísmo, nascido exatamente com Esdras e Neemias. Judaísmo é o nome da religião de Israel desde a volta do Exílio até nossos dias.
1 Epístola de João
Três cartas são atribuídas a João. São três escritos do fim do primeiro século.
A primeira é a mais importante; é dirigida às comunidades onde existem indivíduos (anticristos) que comprometem a autenticidade cristã, negam a divindade permanente de Jesus (2,22; 4,20) e se declaram em perfeita comunhão com Deus (2,3; 4,20), embora depois transgridam os seus mandamentos, especialmente o da caridade (2,4-11). João os contesta e defende a unidade entre humanidade e divindade, na pessoa de Jesus; depois, indica os critérios da "comunhão". Um ponto é imediatamente esclarecido: a união entre ser e agir, conhecimento de Deus e prática cristã, e esta é sobretudo o amor. A segunda coisa, que precede a prática, é crer que Jesus veio na carne. A época ideal para ela é o Tempo de Natal.
Neemias
Já falamos sobre Esdras e Neemias. É só ler a obra!
2 Epístola de João
Esta segunda carta é dirigida à "Senhora Eleita" e "seus filhos". Esta "senhora" é uma Igreja (diocese) para a qual o Autor escreve, alertando contra os hereges que não crêem na encarnação do Filho de Deus. A preocupação de manter a comunidade na fé leva João a ser taxativo: os cristãos não devem ter comunhão com estes falsos mestres hereges. Eles são excomungados (= colocados fora da comunhão dos irmãos).
Baruc
Estamos ainda no clima do profeta Jeremias. Este livrinho é atribuído a Baruc, secretário de Jeremias. Na verdade a obra deve ser do século III aC - cerca da trezentos anos depois de Jeremias!
O livro oferece uma profunda análise do pecado: perversão da ordem moral baseada na justiça de Deus, é uma rejeição da sabedoria. O remédio para o pecado é o humilde retorno a Deus e a observância da Lei. O livro apresenta Deus como o Eterno, a fonte da Sabedoria, o Libertador, o Justo e Misericordioso.
É este um livro comovente pelo espírito contrito, pela busca de penitente arrependimento e pelas belas orações que traz.
Daniel
Também o Antigo Testamento tem seu Apocalipse - o livro de Daniel justamente lido na liturgia na última semana do ano litúrgico. O livro de Daniel não é profético e o jovem Daniel é apenas um personagem literário. O desconhecido autor deste livro viveu entre 180 e 100 aC. A primeira parte da obra (caps .1-6) pertence ao gênero literário midráxico, isto é, interpreta o presente (Israel estava debaixo da opressão) com o passado (a vitória de um jovem Daniel no tempo do exílio de Babilônia). O resto, porém, é do gênero apocalíptico. A apocalíptica é verdadeira continuação da profecia, mas se distingue dela por seu cunho escatológico (preocupação com o fim dos tempos) radicalmente novo, a saber, ultraterreno. A apocalíptica não julga as realidades terrenas com base em sua bondade ou não bondade mas apenas sustenta que o mal só será completamente superado no término da história. O Filho do Homem e o Reino dos santos são vistos nesta perspectiva.
3 Epístola de João
A terceira Epístola de João é endereçada a um particular chamado Gaio e é um incentivo à fidelidade. Interessante é observar já as oposições à autoridade apostólica, sempre presente por parte de alguns membros da Igreja!
Apocalipse
Neste livro de estilo apocalíptico, como o livro de Daniel, escrito pelo fim do século I, refere-se João a acontecimentos concretos do seu tempo. Vê por trás de cada acontecimento da luta entre a Igreja e o Império o desenrolar do conflito entre Cristo e Satã. Aos cristãos perseguidos anuncia a esperança: a história é conduzida por Deus e a vitória final será sua. Mesmo que a situação devesse piorar, seria loucura ceder. Ninguém mais deve render-se às forças do mal. Tudo isso, porém vem expresso em linguagem e símbolos tomados ao Antigo Testamento (Daniel, Apocalipse de Isaías - livro apócrifo).



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