10 agosto 2016

Amor à Santa Missa: como participar dela?


Um guia simples para entender e viver a Missa em união com Deus



A família de Deus

Você já ouviu dizer que a Igreja deseja que todos os fiéis participem na Missa «com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente». Essa foi uma das metas que propôs o Concílio Vaticano II (Constituição sobre a Liturgia, n. 11).

Pois bem, é sobre isso que agora vamos conversar. Você imagine que já está dentro da igreja ou capela onde vai ser celebrada a Missa. Quem é que lá se reuniu? Umgrupo – grande ou pequeno – de fiéis. A Missa não é uma oração individual. É a oração, o culto de uma família reunida, da família de Deus, de que fala São Paulo, referindo-se à Igreja (Ef 2,19).

Quer dizer que a Missa é um ato comunitário, mas um ato comunitário especial, porque cada uma das Missas – qualquer Missa – não é apenas o culto de umacomunidade concreta, mas da Igreja inteira. Na realidade, em cada Missa é sempre a Igreja toda, o Corpo de Cristo (1 Cor 12,12), que, juntamente com Jesus – Cabeça desse Corpo, Sacerdote Eterno, Celebrante principal e Vítima do Sacrifício -, se oferece a Deus Pai, na unidade do Espírito Santo. O sacerdote celebrante é apenas o «instrumento vivo de Cristo Sacerdote». Não se esqueça nunca disso, e pense que essa realidade grandiosa se dá mesmo numa Missa a que assista uma só pessoa.

Mas voltemos ao que dizíamos no início. Imagine que está começando a participar na Santa Missa. Se a Missa é – como de fato é – um ato de Cristo e da Igreja, é natural que o seu coração – juntamente com os dos que participam dessa Missa -bata bem unido ao coração de Jesus e ao coração da Igreja, seu Corpo inseparável. Essa é a principalparticipação: a união sincera, íntima, amorosa, com a oração da Igreja, ou seja, com a Liturgia santa da Igreja. Sem ela, qualquer outra participação é superficial ou falha.

Participação externa e interna

Por isso a Igreja insiste em que a principal «participação» é a interior. As orações litúrgicas, que todos devemos recitar em comum, serão «nossas», se realmente são «minhas», isto é, se são preces vividas intimamente por mim, por você, e não sons externos que se limitam a acompanhar os sons de outras pessoas (falados ou cantados). Penso que isso se pode resumir bem com umas palavras de São Josemaria Escrivá: «Viver a Santa Missa é permanecer em oração contínua» (É Cristo que passa, n. 88).

Como deve ser essa oração? Não pretendo – não daria – esgotar as imensas riquezas da Liturgia da Missa. Vou sugerir-lhe apenas – neste capítulo e nos próximos – alguns dos modos (podem ser muitos) de «orar na Missa».

1) Nos ritos iniciais, toda Missa inclui um «ato penitencial». Você, com a sua oração, unida à do celebrante e à dos outros participantes, realiza nesse momento o que o Catecismo da Igreja chama «o primeiro movimento da oração de súplica», o «pedido de perdão» (n. 2631), lembrando a seguir a parábola do fariseu e o publicano: Deus não ouviu , no Templo, a oração vaidosa do fariseu, mas acolheu com carinho a oração humilde do publicano: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador! (Lc 18,13). Por isso, procure rezar ou cantar esse ato penitencial fomentando a dor pelos seus pecados e pelas suas indelicadezas para com Deus.

2) Após a «oração coleta» recitada pelo sacerdote, começa a Liturgia da Palavra. Por meio das leituras bíblicas, Deus nos fala, (Palavra do Senhor! – dizemos). E essa Palavra de Deus é, para cada um de nós, um começo de conversa, um apelo que se dirige à alma e sugere – sob a inspiração do Espírito Santo -uma resposta. Portanto, também essa parte da Missa é oração, diálogo.

Escute as leituras e seu comentário – a homilia – com atenção. Caso ouça mal (coisa não rara, às vezes) acompanhe-as lendo os textos do dia no folheto dominical, no impresso da Liturgia semanal, ou num missal dos fiéis…, mas acompanhe. A própria Liturgia, depois, ajuda a responder à Palavra com o Salmo responsorial e a aclamação ao Evangelho. Mas você, que quer aprofundar na vida espiritual, não se contente com isso. Vá mais a fundo. Um bom costume é fazer, antes da Missa, um tempo de oração sobre essas leituras; ou fazer a meditação das leituras da liturgia do dia depois, ao voltar a casa, num horário oportuno. Não lhe digo mais, porque a essa reflexão litúrgica se aplicam as mesmas coisas que já foram comentadas ao falarmos da oração mental, da meditação e da leitura do Evangelho.

3) A segunda parte da Missa, riquíssima – centro e cume da Missa -, é a Oração Eucarística, que começa com o Prefácio. Tudo, nessa parte – especialmente no seu ápice, a Consagração, que é a essência da Missa -, eleva e arrasta para uma oração intensa, maravilhosa, que nunca – por longa que seja a nossa vida – nos cansaremos de vivenciar e saborear. Ao contrário, a pessoa que ama a Missa, descobre nela cada dia mais uma «fonte de águas vivas» inesgotável, que sacia sem saciar.

Acompanhe, pois, atentamente, com sede espiritual, cada palavra, como a abelha que vai libando o mel de cada flor. «Diga» essas palavras a Deus, fazendo-as «suas». E peça a nosso Senhor que o livre do absurdo de assistir como um espectador, que só fica observando e julgando como é que o padre se mexe, fala ou canta. Nunca esqueça que nós, os padres, não somos nem o centro nem o pivô da Missa. E que, às vezes, você terá que se esforçar bastante por viver bem o Sacrifício da Missa, «apesar de nós, os padres».

4) Não quero terminar a reflexão de hoje sem uma referência aos gestos e posições do corpo previstos na liturgia da Igreja. Eles também são oração: de pé, de joelhos, fazendo uma inclinação profunda (por ex., ao dizer E se encarnou…, no Credomais longo), sentados… Os gestos são «símbolos», como o são as palavras. Tanto valor tem para exprimir o amor entre os esposos uma palavra carinhosa, como o gesto de dar uma flor ou um beijo. Para uma pessoa que ama, seria incompreensível desprezar ou dispensar esses gestos e atitudes. Na Missa, ajudam o espírito a acompanhar melhor a oração, a viver atentamente a escuta orante da Palavra, a expressar a adoração, a união fraterna (rito da paz), a receber com reverência o Corpo de Cristo na Comunhão, etc. E, além disso, são gestos vividos em conjunto, que refletem a união da «família de Deus», que quer viver o máximo momento da vida cristã com as mesmas expressões de fé e oração.

Talvez você queira me perguntar: Que fazer quando se indicam ou praticam gestos se afastam da liturgia e até a contrariam? O Papa Bento XVI os lamenta e diz que a liturgia, que é «ação de Deus […], não está a mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras» (Exortação Sacramentum caritatis, n. 37), frisando ainda que «a simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas» (n. 40). Aquilo que não está de acordo com a Liturgia da Igreja não obriga em consciência. Não temos por que obedecer a uma desobediência. Mas devemos evitar atitudes que manifestem externamente crítica ou falta de caridade.

Será que a participação interior na Missa se esgota no que vimos hoje, nesses quatro itens? Não, nem de longe.

De: Padre Faus

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