13 junho 2017

Pe Luis Fernando: Eu creio em Jesus Cristo, mas não vou à Igreja. Pode isso?!




“Você pode ter sido batizado na igreja, ter sido criado na igreja, servido na igreja. Pode ser que tenha se casado na igreja, morrido na igreja. Pode ter sido velado na igreja e ainda assim acordar no inferno caso esteja meramente só na igreja, e não em Cristo.”


De vez em quando encontramos na internet comentários estúpidos, como esse acima, que são compartilhados até por católicos. Porém, cabe dizer que este comentário é falso. Quem está na Igreja está em Cristo. Não é possível estar em Cristo fora da Igreja. A via graciosa e ordinária pela qual uma pessoa se une a Cristo é o sacramento do batismo. Neste sacramento a pessoa recebe o dom da fé ou o dom de reconhecer, amar e obedecer a Deus seu criador; se torna filha adotiva do Pai por meio de Cristo; é configurada a Cristo e é unida a ele indelevelmente. Cada batizado se torna, assim, membro de Cristo. Se todos os membros juntos formam o Corpo, logo, estar unido ao Corpo é essencial para que o membro viva, como estar unido ao tronco é essencial para que o galho esteja vivo e recebendo alimento vital. Logo, não é possível estar vivo, ou seja, estar em Cristo fora de seu Corpo Místico que é a Igreja. Porém, sem uma atitude real de conversão mesmo o batizado pode condenar-se ao inferno uma vez que o não arrependimento dos próprios pecados é a condição que joga uma alma no inferno.


Pelo exposto se pode deduzir seguramente que este comentário acima partiu de alguma mente protestante. Na eclesiologia protestante não existe a doutrina do Corpo de Cristo que é a Igreja, a plenitude daquele que possui a plenitude universal, cuja Cabeça é o próprio Jesus (cf. Cl 1,18; Ef 1,22-23), pois, cada membro da seita protestante é ele sozinho igreja, papa e magistério. O indivíduo interpreta para si as Escrituras, discerne o que é certo ou errado, dá a si mesmo a doutrina e não se vê ligado a nenhum outro membro da seita seja por meio da comum profissão de fé – que as seitas não têm – seja por meio da comum doutrina – que as seitas não têm por divergirem entre si – seja por meio de um governo único – que as seitas não têm.


A premente necessidade de se negar a visibilidade da Igreja em troca de uma Igreja invisível é própria de quem necessita justificar a completa ausência de hierarquia, rito, da comum profissão de fé e de governo. A visibilidade da Igreja nas escrituras é tão clara que precisar reafirmá-la face à heresia das seitas parece superlativo. Contudo, o erro luterano e calvinista de negar a visibilidade da Igreja em seu magistério, em sua doutrina, em sua profissão de fé, em seu governo e em todo o povo fiel como expressão daquele Corpo Místico do qual fala as escrituras é de tal modo danoso que, aceito sem prévio questionamento, isso se torna hoje necessário.


Extra ecclesia nulla salus (fora da Igreja não há salvação)



O leitor já percebe de antemão que o famoso axioma de São Cipriano de Cartago, que depois se tornou dogma de fé, é negado com toda veemência por quem defende uma igreja puramente espiritual e invisível em detrimento de sua visibilidade, mais: conforme o pensamento expresso pela citação que encima este texto, haveria alguma possibilidade de a pessoa estar unida a Cristo sem a Igreja, restando a Igreja como um apêndice na vida de fé e se tornando, portanto, desnecessária quando não indesejada para o livre exercício pessoal, individual, da fé.


A fé, porém, ainda que professada individualmente é vivida comunitariamente e mais: O indivíduo não crê nas categorias da fé que ele próprio se dá, mas, recebe da Igreja o precioso depósito das Verdades nas quais deve fazer a sua profissão de fé. A fé que professamos, portanto, ou é a fé da Igreja e desse modo corresponde verdadeiramente às Verdades mais elevadas às quais o espírito humano deve a obediência ou é o constructo meio racional, meio fideísta, meio pietista das seitas que deforma a fé da Igreja, mutila-a arrancando-lhe pedaços inteiros e relegando-a à consideração do indivíduo.


Lex orandi lex credendi

A lei da oração é a lei da fé da Igreja, diz um antigo axioma. Os ritos da liturgia católica, desde a santa missa aos demais sacramentos, sacramentais, bênçãos, oração das horas, etc, obedecem estritamente à profissão de fé na Igreja. Rezamos o que cremos e cantamos o que rezamos, logo, cantamos a nossa fé.


Quem vai à missa e vê o rito que ali se desenrola deve prestar atenção nele tudo professa a fé Trinitária da Igreja do princípio ao fim. Como no rito da missa, todos os demais ritos da Igreja seguem a mesma ordem: a lei da oração é a lei da fé. Por termos uma profissão de fé única, por termos um único governo, um só magistério, uma só doutrina, somos um só povo e formamos um só Corpo que, professando a mesma fé, tem a mesma regra da oração pública e comum para todos os fiéis. Por isso estamos em Cristo, formamos um só Corpo, somos os seus Membros. Estamos a Ele unidos como os galhos ao tronco da videira.


Os pecados pessoais do católico pode afastá-lo da comunhão da Igreja, da comunhão na fé, na doutrina e nos costumes e isto será, então, prova de que todas as pessoas nesse mundo são necessitadas de conversão para poderem entrar no reino de Deus. Mas, os pecados pessoais não são, como faz entender o texto, motivo suficiente para a pessoa afastar-se de Deus, de sua Igreja ou de sua doutrina. Para o verdadeiro católico os pecados são motivos fortes para arrepender-se, confessar-se, emendar de vida e viver uma vida nova evitando os pecados e suas ocasiões a fim de não mais ofender a Deus. Aquele que persevera no mal, todavia, afasta-se de Deus e de sua Igreja paulatinamente e este sim vai para o inferno.


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