03 julho 2018

África: A Igreja teve que comprar crianças que seriam executadas - República Centro Africana




Um pincel. É assim que Dom Juan Aguirre, bispo de Bangassou, na República Centro-Africana, se refere quando fala de sua missão. “Sou como um pincel nas mãos de Deus, ele me usa para o que Ele desejar”. Dom Aguirre esteve recentemente no Brasil a convite da ACN para dar voz ao seu povo perseguido.
A República Centro-Africana (RCA) está no coração geográfico da África, é o país com o menor IDH (índice de desenvolvimento humano) do mundo e a expectativa de vida lá não passa de 48 anos. A maioria das pessoas vive com menos de R$60 reais por mês e uma refeição ao dia. A situação se agravou ainda mais em 2012, quando um grupo de extremistas islâmicos, nomeado Seleka, entrou no país e passou a perseguir e assassinar os cristãos, que representam 65% dos habitantes do país.

A Igreja Católica se ergueu para defender seu rebanho. Entre as lideranças, Dom Aguirre tem realizado um grande trabalho, o que lhe rende muitas ameaças. Nos últimos anos o bispo viu sua vida ficar por um fio, acolheu mais de 3 mil órfãos, construiu lares para salvar idosos enfermos (acusados de bruxaria – e assassinados – por sofrerem algum tipo de demência ou outro distúrbio mental). Nesse período os padres da diocese de Dom Aguirre tiveram inclusive que comprar crianças que estavam para ser executadas por terroristas. Dom Aguirre mostrou para todos os bispos do Brasil, reunidos na Assembleia Geral da CNBB, as fotos de como essas crianças estão hoje.

Como se não bastasse os extremistas do Seleka, um outro grupo se formou: o Anti-balaka, uma milícia criada por muitos animistas – e até mesmo cristãos – com o propósito de combater o Seleka. “No início o Anti-balaka defendeu seu povo, mas em pouco tempo eram tão terroristas quanto o grupo que combatiam: assassinavam muçulmanos indiscriminadamente, mesmo mulheres e crianças indefesas”.

Foi em uma dessas ações do Anti-balaka que Dom Aguirre precisou intervir e oferecer sua vida como escudo. Em 2017 esse grupo atacou um bairro muçulmano, cerca de duas mil pessoas fugiram para a mesquita; cercados pelo Anti-balaka um genocídio teve início; foi então que Dom Aguirre chegou paramentado e se colocou na linha de tiro para proteger os muçulmanos; outros padres vieram e também se colocaram na frente. “Permanecemos ali por três dias, depois soldados portugueses nos ajudaram a levar os muçulmanos para o seminário da diocese. Eles se hospedaram lá como podiam, tudo se tornou dormitório. Desde esse dia passei a receber ameaças também do Anti-balaka. São telefonemas dizendo ‘esta noite estará morto’, ou então ‘vamos lhe decapitar’. Não podia deixar de acolher esses nossos irmãos muçulmanos, a vocação da Igreja Católica é acolher a todos. Sou espanhol, mas não vou embora da RCA.

A Igreja é a última que apaga a luz, sempre fica até o final!”

Por meio de vários projetos a ACN ajuda a República Centro Africana a perseverar na esperança por um futuro melhor. São projetos de formação de padres, catequistas e lideranças, como também a reconstrução dos lares que foram destruídos. Nesse momento Dom Aguirre pede ajuda para a palha que cobre o teto das casas, necessária para a reconstrução. Outro projeto que Dom Aguirre precisa de ajuda são as escolas, que permitem as crianças crescerem vencendo seus traumas.

Esses sinais de esperança em um país em guerra são visíveis graças à ajuda silenciosa de pessoas como você. Mas infelizmente há muito mais para ser feito e por isso a ACN precisa da sua generosa contribuição. Que a definição do bispo Aguirre nos inspire a não desanimar em fazer o bem: “Sou como um pincel nas mãos de Deus. Quando as pessoas olham um quadro, admiram primeiro a pintura; depois admiram a genialidade do pintor; mas ninguém nunca fala nada sobre o pincel. Assim me sinto com Deus, estou humildemente para o que Ele precisar”




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