24 maio 2017

Igreja acolhe muçulmanos perseguidos na República Centro-Africana


Dom Juan José Aguirre, missionário espanhol e bispo de Bangassor, República Centro-Africana, em declarações feitas ao escritório da ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre – na Espanha, denunciou o aumento da violência na sua cidade contra a população muçulmana por parte do “Anti-balaka”, grupo guerrilheiro armado de maioria animista e clara tendência anti-muçulmana.


“Bangassou foi atacada e os militares marroquinos das forças da ONU pediram que todos os muçulmanos saíssem de seus bairros e fossem para a mesquita; de modo que a mesquita ficou superlotada. Começaram a atacar, a disparar contra eles. Ficaram três dias sem comer e tomar banho”, diz Dom Aguirre, “Eu mesmo fui para lá e me pus diante da mesquita para tentar fazer com que parassem com os disparos. Tinham matado, porém, o imã. Conseguimos caminhões para transportar as pessoas para instalações da Igreja Católica”.

O prelado confirmou que no momento a Igreja Católica em Bangassou está atendendo 2 mil muçulmanos refugiados nas suas dependências, “os acolhemos na minha própria casa; disponibilizamos o seminário menor, a catedral e outros prédios. As organizações não-governamentais estão buscando conseguir alimentos e tendas para os refugiados”.

Junto a Dom Juan Aguirre está Dom Nzapalaiga, Cardeal de Bangui (capital do país), “através dele estamos dialogando com os chefes locais para que se pare de roubar os bairros muçulmanos, que estão sendo atacados sistematicamente. Estamos negociando também com os Anti-balaka para que deixem Bangassou”, conta Dom Aguirre à ACN.

“Em 35 anos que vivo aqui, nunca vi atos de violência assim. Desde que o Chade introduziu soldados da Aliança Islamita Seleka na República Centro-Africana, estamos vivendo esta violência”, denuncia o bispo de Bangassou. “Temos aqui duas mil pessoas que não sabem como estão seus bens, suas casas, tudo lhes fora roubado. Enterramos mais de 50 corpos, junto a Cruz Vermelha, a qual temos ajudado com os carros da missão católica. Agora temos que construir abrigos para os deslocados, já que estamos na época em que começarão as chuvas e, assim, as pessoas precisam de proteção. Cremos que haverá o dia em que elas poderão voltar para suas casas e em que a paz habitará aqui novamente”, conclui o prelado.

Da mesma forma, Dom Cyr-Nestor, bispo da diocese de Alindao, também na região sul do país, em mensagem à ACN, denunciou os novos enfrentamentos entre as facções Seleka e grupos Anti-balaka ainda presentes na região. A hostilidade começou no último 8 de maio em resposta aos sequestros e homicídios de alguns jovens em Datoko pelos Seleka. Depois da intervenção de tropas da ONU, a situação parece ter se acalmado. Entretanto, há cerca de 5 mil deslocados que estão sendo atendidos nos centros da Igreja Católica: no bispado, no centro catequético, em um colégio e em um convento. A diocese começa a ter dificuldades para prover alimentos e água para todos e os próprios sacerdotes estão solicitando ajuda para a população diante da falta ONGs que atuem na região.

A ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Sofre – oferece constantemente ajuda à Diocese de Alindao, onde a Cáritas diocesana, nesse momento, tem fornecido as necessidades emergenciais.

De: acn.org.br

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