01 novembro 2011

Igreja no mundo - Agradeço a Deus por sermos livres

Bispo de Trípoli lamenta a maneira como Kadafi morreu

MADRI, sexta-feira, 28 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – O bispo de Trípoli comentou a atual situação vivida pela Líbia após a morte de Kadafi e as atrozes imagens que a mídia transmitiu. O prelado lamenta a maneira como o ditador morreu, ainda que compreenda os motivos, e traça um perfil daquele que qualifica como “grande mentiroso”.
Dom Giovanni Martinelli – entrevistado pela emissora de rádio espanhola SER – tem 69 anos, a mesma idade de Kadafi. Chegou a Trípoli há 40 anos e foi uma testemunha privilegiada dos 42 anos de ditadura.
O bispo de Trípoli, Martinelli, expressa sua confiança na reconciliação entre os líbios, denuncia os bombardeios da OTAN durante os oito meses de conflito e se mostra compreensivo com o cruel final que os rebeldes armaram para Kadafi.
Com relação ao aparente linchamento do ditador líbio, Dom Martinelli declara: “O que fizeram não está bem. Mas não quero julgá-los. Não quero julgar nem excusar, só dizer que entendemos a sensibilidade das pessoas frente a esse homem que realmente causou muitas vítimas, especialmente nos últimos meses”.
Quanto aos bombardeios da OTAN, afirma: “Denunciei desde o começo que os bombardeios não era uma forma moral de eliminar um ditador. Ainda hoje, eu me pergunto: não havia outra maneira, somente as bombas? Muitos civis morreram, eu os vi. São necessários oito meses de bombardeios para livrar-se desse homem? Era realmente terrível. Não podíamos dormir. Todas as noites, até o amanhecer, havia bombardeios, bombardeios, bombardeios... Foi terrível”.
Ainda assim, mostra sua esperança no futuro: “Agradeço a Deus por sermos livres e agradeço pelo que aconteceu. Muita gente morreu; agora espero que haja uma reconciliação entre os líbios. Acho que o povo líbio está desejoso de ter paz e que o conseguirá. A Líbia é uma entidade única. Ainda que dividida em diversas tribos, é uma família”.
O bispo conhecia bem Kadafi, com quem havia se reunido várias vezes. E concebe o ditador assim: “Kadafi era demagogo; ele gostava de se exibir e de se sentir um grande homem. Pensava que era o profeta da Líbia, que estava inspirado por Deus para ser o mensageiro deste país por meio do Livro Verde [livro guia do regime, que regulava todos os aspectos da vida]. Ele gostava de se sentir beduíno e mostrar-se como tal, demonstrar que não estava colonizado pelo consumismo. Ainda que seja verdade que ele levava uma vida de luxo, não era como um beduíno. Ele também se sentia líder dos países árabes, ainda que isso não tenha tido muito êxito, porque muitos países árabes não gostavam dele. Então ele se propôs ser o líder da África, o 'rei dos reis'. Era também um grande mentiroso. E seu principal desejo era não perder o poder”.
Teme que agora, assim como aconteceu no Egito com os coptas após a queda de Mubarak, possa haver ataques contra os católicos? “Na Líbia, a igreja cristã é estrangeira, não há líbios cristãos. No começo, era italianos; agora, são africanos ou filipinos. A tradição da Líbia é o respeito e acho que esta será também a atitude das novas autoridades. Antes da guerra, havia na Líbia 100 mil cristãos de diversos países”, conclui.

Fonte: Zenit.org

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