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28 fevereiro 2017

Quaresma, tempo de penitência e reconciliação




A Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com sua Paixão e Morte na cruz, foi o meio escolhido para restituir à humanidade transviada a plena amizade com Deus.



Na Quarta-Feira de Cinzas têm início os quarenta dias que antecedem a Semana Santa, quando a Igreja nos fala da necessidade do jejum e da penitência como meios de melhor combater os vícios, pela mortificação do corpo, e propiciar a elevação da mente a Deus.


De forma cogente, a liturgia da Quarta-Feira de Cinzas recorda-nos também nossa condição de mortais: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó hás de voltar”, diz uma das duas fórmulas usadas pela Igreja para a imposição das cinzas.



A consideração da passagem desta vida para a eternidade muitas vezes nos inquieta. Entretanto, tal pensamento é altamente benfazejo para compenetrar-nos da necessidade de evitar o pecado que, sem o arrependimento e o imerecido perdão, poderá fechar-nos, para sempre, as portas do Céu: “Lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Eclo 7, 40).

Em sua segunda carta aos Coríntios, São Paulo nos incentiva a vivermos na graça de Deus: “Em nome de Cristo, vos rogamos: reconciliai- vos com Deus!” (II Cor, 5, 20). E com toda razão, pois o pecado nos afasta de Deus, tornando necessária a nossa reconciliação com Ele.

Só mesmo o Adorável Sangue de Deus teria mérito infinito para redimir o pecado original e as ofensas cometidas pelos homens, desde Adão e Eva. A Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com sua Paixão e Morte na cruz, foi o meio escolhido para restituir à humanidade transviada a plena amizade com Deus.

Se Jesus não tivesse assumido sobre Si a dívida contraída por nossos pecados, impossível seria nossa reconciliação com Deus e teríamos para sempre fechadas às portas do Céu.

A Quaresma é também tempo de oração, cuja essência, ensina o Catecismo, é a “elevação da mente a Deus”. Assim, é possível a qualquer um permanecer em oração inclusive durante os atos comuns da vida,realizando-os com o espírito voltado para o Céu.

Portanto, para rezar não é preciso tomar a atitude espalhafatosa e orgulhosa dos fariseus. Devemos, pelo contrário, ser discretos nas manifestações externas de nossa piedade particular, evitando gestos ou palavras que ponham em realce nossa própria pessoa.

Mas se apesar disso, nossa devoção for notada pelos outros, não devemos nos perturbar,tranquilizemo-nos com este ensinamento de Santo Agostinho: “Não há pecado em ser visto pelos homens, mas sim em proceder com a finalidade de por eles ser visto”.

A Igreja nos apresenta, portanto, o espírito com que se deve viver a Quaresma: não fazer boas obras com vistas a obter a aprovação dos outros, não ceder ao orgulho nem à vaidade, mas procurar em tudo agradar somente a Deus.

No jejum, na oração ou na prática de qualquer boa obra, não se pode erigir como fim último o benefício que daí possa nos advir, mas sim a glória d’Aquele que nos criou. Pois tudo quanto é nosso – exceção feita das imperfeições, misérias e pecados – pertence a Deus.

E também nossos méritos, pois é o próprio Jesus quem afirma: “Sem Mim, nada podeis fazer”! (Jo 15, 5). Assim, se tivermos a graça de praticar um ato bom, devemos imediatamente reportá-lo ao Criador, restituindo- Lhe os méritos, pois estes Lhe pertencem, e não a nós. “Quem se gloria, glorie-se no Senhor” (I Cor 1, 31), adverte-nos o Apóstolo.

Santa Teresa de Jesus assim define a humildade: “Deus é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade, pois de grande importância é não ver coisa boa em si mesmo, mas sim a miséria e o nada”.

Reconheçamos os benefícios que Deus nos dá e por eles rendamos-Lhe graças, não nos colocando jamais como objeto desse louvor, julgando sermos nós a fonte de qualquer virtude ou qualidade.

Nesta Quaresma, procuremos, mais ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que o Evangelho sabiamente nos faz, combatendo o orgulho com todas as nossas forças. Só estarão à direita de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia do Juízo Final,aqueles que tiverem vencido o orgulho e o egoísmo, reconhecendo que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto”(Tg 1, 17).


De: arautos.org

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16 fevereiro 2016

Por que a Semana Santa muda de data todos os anos?




Como é importante para os cristãos celebrar, viver e prolongar na vida a presença real do Senhor na liturgia! A liturgia permite celebrar os mistérios da vida de Jesus ao longo do ano, tendo sua ressurreição como eixo. Esse ano é conhecido como ciclo ou ano litúrgico.

O ano litúrgico é regulado entre a data móvel da Páscoa (segundo o ciclo lunar) e seu início, também móvel, relacionado com o Natal.

O Natal é celebrado durante o solstício de inverno do hemisfério norte (segundo o ciclo solar), convertendo a celebração popular pagã do nascimento do sol invicto na celebração do nascimento de Jesus.

Mas por que a Semana Santa muda de data todo ano? Porque muda a data da festa da Páscoa. E a data da festa da Páscoa de ressurreição é móvel porque está ligada à páscoa judaica.

O povo judeu celebrava a páscoa, chamada também de “Festa da Liberdade”, comemorando o fim da escravidão e sua saída do Egito. Segundo o judaísmo, os hebreus devem celebrar todos os anos a festa da páscoa durante uma semana inteira, entre os dias 14 e 21 do mês de Nissan – dias que começam com a primeira lua cheia da primavera.

O mês de Nissan é o primeiro mês do calendário hebraico bíblico (Êx 12, 2), porque nesse mês o povo de Israel saiu do Egito. Tal mês cai entre os dias 22 de março e 25 de abril.

A festa da páscoa era fixada com base no ano lunar, e não no ano solar do calendário civil. Recordemos que, nas antigas civilizações, empregava-se o calendário lunar para calcular a passagem do tempo.

Por que os judeus celebram sua páscoa com a primeira lua cheia da primavera? Porque havia lua cheia na noite em que o povo judeu saiu do Egito, e isso lhe permitiu fugir à noite sem ser descoberto pelo exército do Faraó, ao não depender de lâmpadas.

Mas o que a páscoa judaica tem a ver com a Páscoa cristã?

Na Última Ceia, realizada na Quinta-Feira Santa, os apóstolos celebraram com Jesus a páscoa judaica, comemorando o êxodo do povo de Israel, guiado por Moisés. Com isso, temos a certeza de a primeira Quinta-Feira Santa da história era uma noite de lua cheia.

E é por isso que a Igreja coloca a Quinta-Feira Santa no dia de lua cheia que se apresenta entre os meses de março e abril. Então, a data da Semana Santa depende da lua cheia.

Esta mobilidade afeta não somente as festas relacionadas à Pascoa, mas também o número de semanas do Tempo Comum; são as chamadas festas móveis, que variam todos os anos, juntamente com a solenidade da Páscoa, da qual dependem.

Antigamente, a Páscoa era celebrada exatamente no mesmo dia da páscoa judaica; mas uma decisão do Concílio de Niceia (ano 325) determinou que a Páscoa cristã fosse celebrada no domingo (o domingo posterior à primeira lua cheia primaveral do hemisfério norte).

De: aleteia.org

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15 fevereiro 2016

Papa no México: Quaresma, tempo de desmascarar tentações




Ecatepec (RV) - Na segunda missa da Viagem Apostólica ao México, em Ecatepec, Francisco afirmou que a Quaresma é tempo de desmascarar três tentações: a riqueza, a vaidade e a pior delas - advertiu o Papa - orgulho. Recorrendo ao Evangelho, Francisco pediu que todos prestem atenção a não "tentar dialogar com o demônio", porque este vence sempre.

"Até que ponto nos acostumamos a um estilo de vida que considera a riqueza, a vaidade e o orgulho como a fonte e a força de vida?"

Na quarta-feira passada, começamos o tempo litúrgico da Quaresma; nele, a Igreja convida-nos a preparar-nos para a celebração da grande festa da Páscoa. É um tempo especial para lembrar o dom do nosso Batismo, quando fomos feitos filhos de Deus.

A Igreja convida-nos a reavivar o dom recebido para não o deixar cair no esquecimento como algo passado ou guardado em uma “caixa de recordações”.

Filhos do Pai

Este tempo de Quaresma é uma boa ocasião para recuperar a alegria e a esperança de nos sentirmos filhos amados do Pai. Este Pai que nos espera para nos livrar do cansaço, da apatia, da desconfiança e revestir-nos com a dignidade que só um verdadeiro pai e uma verdadeira mãe sabem dar aos seus filhos, as vestes que nascem da ternura e do amor.

O nosso Pai é pai de uma grande família: é Pai nosso. Sabe ter um amor, mas não gerar e criar “filhos únicos”. É um Deus que Se entende de família, de fraternidade, de pão partido e partilhado. É o Deus do “Pai Nosso”, não do “meu pai e padrinho de vocês».

Em cada um de nós, está inscrito, vive aquele sonho de Deus que voltamos a celebrar em cada Páscoa, em cada Eucaristia: somos filhos de Deus. Um sonho vivido por muitos irmãos nossos ao longo da história. Um sonho testemunhado pelo sangue de tantos mártires de ontem e de hoje.

Conversão

Quaresma: tempo de conversão, porque experimentamos na vida de todos os dias como tal sonho se encontra continuamente ameaçado pelo pai da mentira, por aquele que quer nos separar, gerando uma sociedade dividida e conflituosa, uma sociedade de poucos e para poucos.

Quantas vezes experimentamos na nossa própria carne ou na carne da nossa família, na dos nossos amigos ou vizinhos a amargura que nasce de não sentir reconhecida esta dignidade que todos trazemos dentro.

Quantas vezes tivemos de chorar e arrepender-nos, porque nos demos conta de não ter reconhecido tal dignidade nos outros. Quantas vezes – digo-o com tristeza – permanecemos cegos e insensíveis perante a falta de reconhecimento da dignidade própria e alheia.

Harmonização

Quaresma: tempo para regular os sentidos, abrir os olhos para tantas injustiças que atentam diretamente contra o sonho e o projeto de Deus. Tempo para desmascarar aquelas três grandes formas de tentação que rompem, fazem em pedaços a imagem que Deus quis plasmar.

Três tentações de Cristo... Três tentações do cristão que procuram arruinar a verdade a que fomos chamados. Três tentações que visam degradar e nos degradar.

1. A riqueza, apropriando-nos de bens que foram dados para todos, usando-os só para mim ou para “os meus”. É conseguir o pão com o suor alheio ou até com a vida alheia. Tal riqueza é pão que tem gosto de tristeza, de amargura e de sofrimento. Em uma família ou em uma sociedade corrupta, é o pão que se dá aos próprios filhos.

2. A vaidade: a busca de prestígio baseada na desqualificação contínua e constante daqueles que “não são ninguém”. A busca exacerbada daqueles cinco minutos de fama que não perdoa a “fama” dos outros. E, “alegrando-se com a desgraça alheia”, abre-se caminho à terceira tentação – a pior: o orgulho.

3. O orgulho, ou seja, colocar-se em um plano de superioridade de qualquer tipo, sentindo que não se partilha “a vida comum dos mortais” e rezando todos os dias: “Obrigado, Senhor, porque não me fizestes como eles”.

Três tentações de Cristo... Três tentações que o cristão enfrenta diariamente. Três tentações que procuram degradar, destruir e tirar a alegria e o frescor do Evangelho; que nos fecham em um círculo de destruição e pecado.

Por isso vale a pena perguntarmo-nos: Até que ponto estamos conscientes destas tentações na nossa vida, em nós mesmos?

Até que ponto nos acostumamos a um estilo de vida que considera a riqueza, a vaidade e o orgulho como a fonte e a força de vida?

Até que ponto estamos convencidos de que cuidar do outro, preocupar-nos e ocupar-nos com o pão, o bom nome e a dignidade dos outros seja fonte de alegria e de esperança?

Escolhemos Cristo


Escolhemos, não o diabo, mas Jesus; Se recordarmos do que escutamos no Evangelho, veremos que Jesus não contesta o demônio com nenhuma palavra própria e sim com as palavras de Deus, com as palavras da Escritura porque, irmãos e irmãs, tenhamos em nossas mentes, com o demônio não se dialoga, não se pode dialogar porque ele vai vencer sempre. Somente a força da Palavra de Deus pode derrotá-lo. Escolhemos Cristo, não o demônio.

Queremos seguir os Seus passos, mas sabemos que não é fácil. Sabemos o que significa ser seduzidos pelo dinheiro, a fama e o poder.

Por isso, a Igreja oferece-nos este tempo da Quaresma, convida-nos à conversão com uma única certeza: Ele está à nossa espera e quer curar o nosso coração de tudo aquilo que o degrada, degradando-se ou degradando.

Misericórdia

É o Deus que tem um nome: misericórdia. O seu nome é a nossa riqueza, o seu nome é a nossa fama, o seu nome é o nosso poder. E é no seu nome que repomos a nossa confiança, como diz o Salmo: “Vós sois o meu Deus, em Vós confio”. Podemos repetir isto juntos: “Vós sois o meu Deus, em Vós confio”.

Que, nesta Eucaristia, o Espírito Santo renove em nós a certeza de que o seu nome é misericórdia e nos faça experimentar, em cada dia, que “o Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”, sabendo que com Ele e n’Ele “renasce sem cessar a alegria” (Exort. ap. Evangelii gaudium, 1).

De:Vatican Radio


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12 fevereiro 2016

Como o católico deve viver a Quaresma?


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Como se manifesta a penitência na vida cristã?
A penitência manifesta-se de muitas maneiras, em especial pelo jejum, a oração e a esmola. Estas e muitas outras formas de penitência podem ser praticadas na vida quotidiana do cristão, especialmente no tempo da Quaresma e no dia penitencial de Sexta-feira.

[1434] V. As múltiplas formas da penitência na vida cristã
..........[1434] A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. A par da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meios de obter o perdão dos pecados, os esforços realizados para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo (27), a intercessão dos santos e a prática da caridade « que cobre uma multidão de pecados » (1 Pe 4, 8).
..........[1435] A conversão realiza-se na vida quotidiana por gestos de reconciliação, pelo cuidado dos pobres, o exercício e a defesa da justiça e do direito (28), pela confissão das próprias faltas aos irmãos, pela correcção fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a direcção espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem de suportar a perseguição por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho mais seguro da penitência (29).
..........[1436] Eucaristia e Penitência. A conversão e a penitência quotidianas têm a sua fonte e alimento na Eucaristia: porque na Eucaristia torna-se presente o sacrifício de Cristo, que nos reconciliou com Deus: pela Eucaristia nutrem-se e fortificam-se os que vivem a vida de Cristo: « ela é o antídoto que nos livra das faltas quotidianas e nos preserva dos pecados mortais » (30).
..........[1437] A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai Nosso, todo o ato sincero de culto ou de piedade reavivam em nós o espírito de conversão e de penitência e contribuem para o perdão dos nossos pecados.
..........[1438] Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja (31). Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias).
..........[1439] O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do « filho pródigo », cujo centro é « o pai misericordioso » (32): o deslumbramento duma liberdade ilusória e o abandono da casa paterna: a miséria extrema em que o filho se encontra depois de delapidada a fortuna: a humilhação profunda de se ver obrigado a guardar porcos e, pior ainda, de desejar alimentar-se das bolotas que os porcos comiam: a reflexão sobre os bens perdidos: o arrependimento e a decisão de se declarar culpado diante do pai: o caminho do regresso: o acolhimento generoso por parte do pai: a alegria do pai: eis alguns dos aspectos próprios do processo de conversão. O fato novo, o anel e o banquete festivo são símbolos desta vida nova, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta para Deus e para o seio da família que é a Igreja. Só o coração de Cristo, que conhece a profundidade do amor do seu Pai, pôde revelar-nos o abismo da sua misericórdia, de um modo tão cheio de simplicidade e beleza.



Quais os elementos essenciais do sacramento da Reconciliação?

.....[1440] VI. O sacramento da Penitência e da Reconciliação
..........[1440] O pecado é, antes de mais, ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão traz consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e Reconciliação (33).
......[1441] SÓ DEUS PERDOA O PECADO
..........[1441] Só Deus perdoa os pecados (34). Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si próprio: « O Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados » (Mc 2, 10) e exerce este poder divino: « Os teus pecados são-te perdoados! » (Mc 2, 5) (35). Mais ainda: em virtude da sua autoridade divina, concede este poder aos homens para que o exerçam em seu nome.
..........[1442] Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na sua actividade, sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos adquiriu pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico. É este que está encarregado do « ministério da reconciliação » (2 Cor 5, 18). O apóstolo é enviado « em nome de Cristo » e « é o próprio Deus » que, através dele, exorta e suplica: « Deixai-vos reconciliar com Deus » (2 Cor 5, 20).
......[1443] RECONCILIAÇÃO COM A IGREJA
..........[1443] Durante a sua vida pública. Jesus não somente perdoou os pecados, como também manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os tinha afastado ou mesmo excluído. Sinal bem claro disso é o fato de Jesus admitir os pecadores à sua mesa, e mais ainda: de se sentar à mesa deles, gesto que exprime ao mesmo tempo, de modo desconcertante, o perdão de Deus (37), e o regresso ao seio do povo de Deus (38).
..........[1444] Ao tornar os Apóstolos participantes do seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor dá-lhes também autoridade para reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial do seu ministério exprime-se, nomeadamente, na palavra solene de Cristo a Simão Pedro: « Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares na terra ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra ficará desligado nos céus » (Mt 16, 19). « Este mesmo encargo de ligar e desligar, conferido a Pedro, foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unidos à sua cabeça (Mt 18,18; 28, 16-20) » (39).
..........[1445] As palavras ligar e desligar significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará também excluído da comunhão com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa comunhão, também Deus o acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus.
......[1446] O SACRAMENTO DO PERDÃO
..........[1446] Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores da sua Igreja, antes de mais para aqueles que, depois do batismo, caíram em pecado grave e assim perderam a graça baptismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de se converterem e de reencontrarem a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como « a segunda tábua (de salvação), depois do naufrágio que é a perda da graça » (40).
..........[1447] No decorrer dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do Senhor variou muito. Durante os primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que tinham cometido pecados particularmente graves depois do batismo (por exemplo: a idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina muito rigorosa, segundo a qual os penitentes tinham de fazer penitência pública pelos seus pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de receberem a reconciliação. A esta « ordem dos penitentes » (que apenas dizia respeito a certos pecados graves) só raramente se era admitido e, em certas regiões, apenas uma vez na vida. Durante século VII, inspirados pela tradição monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para a Europa continental a prática « privada » da penitência que não exigia a realização pública e prolongada de obras de penitência, antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento processa-se, a partir de então, dum modo mais secreto, entre o penitente e o sacerdote. Esta nova prática previa a possibilidade da repetição e abria assim o caminho a uma frequência regular deste sacramento. Permitia integrar, numa só celebração sacramental, o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Nas suas grandes linhas, é esta forma de penitência que a Igreja tem praticado até aos nossos dias.
..........[1448] Através das mudanças que a disciplina e a celebração deste sacramento têm conhecido no decorrer dos séculos, distingue-se a mesma estrutura fundamental. Esta inclui dois elementos igualmente essenciais: por um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação: por outro, a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa o modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim, o pecador á curado e restabelecido na comunhão eclesial.
..........[1449] A fórmula de absolvição, em uso na Igreja latina, exprime os elementos essenciais deste sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo o perdão. Ele realiza a reconciliação dos pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da oração e do ministério da Igreja: « Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo » (41).

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11 fevereiro 2016

Cinco coisas que deve saber sobre a Quaresma




Lima, 10 Fev. 16 / 03:00 pm (ACI).- A Quaresma é um tempo litúrgico em que por 40 dias a Igreja chama os fiéis à penitência e à conversão, para preparar-se verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo na Semana Santa.

Estes são cinco pontos que deve saber sobre a Quaresma:


1 - Oração, mortificação e caridade: as três práticas quaresmais

A oração é uma condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, o cristão entra no diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, como Maria, abre-se para a oração do Espírito cooperando com ela em sua resposta livre e generosa (ver Lc 1,38).

A mortificação se realiza cotidianamente e sem a necessidade de fazer grandes sacrifícios. Com ela, são oferecidos a Cristo aqueles momentos que geram desânimo no transcorrer do dia e se aceita com humildade, gozo e alegria, todas as diversidades que chegam.

Da mesma forma, saber renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e desprendimento. Dentro dessa prática quaresmal, estão o jejum e a abstinência que serão explicados mais adiante.


A caridade é necessária como refere São Leão Magno: “Se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados”.

Sobre esta prática, São João Paulo II explica que este chamado a dar “está enraizado no mais profundo do coração humano: toda pessoa sente o desejo de colocar-se em contato com os outros e se realiza plenamente quando se dá livremente aos demais”.


2 - O jejum e abstinência

O jejum consiste em fazer uma refeição forte por dia, enquanto a abstinência consiste em não comer carne. Com ambos os sacrifícios reconhecemos a necessidade de fazer obras para reparar o dano causado por nossos pecados e para o bem da Igreja.

Além disso, de forma voluntária, deixam-se de lado necessidades terrenas e se redescobre a necessidade da vida do céu. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4).

O jejum não proíbe de tomar um pouco de alimento na parte da manhã e à noite. É obrigatório dos 18 aos 59 anos.

Por outro lado, a abstinência, embora se proíba o consumo de carne, não é o caso de ovos, leite e qualquer condimento feito a partir de gorduras animais. São dia de abstinência todas as sextas-feiras do ano e é obrigatório a partir de 14 anos de idade.


3 - Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa

Na Quarta-feira de Cinzas começam os 40 dias de preparação para a Páscoa. Após a Missa, o sacerdote abençoa e impõe as cinzas feitas de ramos de oliveira abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Estas são impostas fazendo o sinal da cruz na testa e dizendo as palavras bíblicas: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás” ou “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Desta forma, a cinza é um sinal de humildade e recorda ao cristão sua origem e seu fim.

A Quaresma termina na Quinta-feira Santa. Nesse dia, a Igreja comemora a Última Ceia do Senhor, quando Jesus de Nazaré compartilhou a refeição pela última vez com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.


4 – A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número 40 na Bíblia

Os 40 dias da Quaresma representam o mesmo número de dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias da marcha do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e Elias na montanha e os 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito.

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provas e dificuldades.

5 - Na Quaresma, a cor litúrgica é o roxo


A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, penitência, conversão espiritual; tempo para preparar o mistério pascal.

De: acidigital.com

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10 fevereiro 2016

Mensagem do Papa para a quaresma :Libertar-se do "excesso" que "vem do maligno"



A quaresma na mensagem papal - Um tempo privilegiado

A quaresma é um tempo privilegiado, para cada cristão assim como para toda a igreja, para realizar a verdade: realizar a verdade encontrando e reencontrando o essencial da vida cristã e libertando-se do «excesso» que «vem do Maligno» (Mateus 5, 37); realizar a verdade purificando o próprio falar da falsidade; realizar a verdade descobrindo entre o dizer e o fazer, entre palavra e acção, ambas chamadas a obedecer ao grande mandamento do amor ao próximo. O Papa Francisco na mensagem para a quaresma indica os elementos fundamentais para aquele realizar a verdade que é vital para alcançar a conversão: a escuta da palavra profética, o conhecimento da misericórdia de Deus, e portanto o «fazer misericórdia».

Sempre para o cristão no princípio é a escuta, assim como para Deus «no princípio é o Verbo» (cf. João 1, 1). Por conseguinte, toda a vida cristã está sob a primazia da escuta e exige uma escuta orante, obediente, efectiva. Os profetas da antiga aliança afirmaram que «a escuta obediente é melhor que o sacrifício» (1 Samuel, 15, 22), porque abre ao conhecimento do Deus vivo, faz nascer a confiança num Deus confiável, gera amor por ele e pela sua vontade. Quando o crente na escuta inicia o próprio caminho de conhecimento do Senhor, conhece em primeiro lugar a sua misericórdia, sentimento de um pai (chesed) com vísceras de misericórdia (rechem-rachamim), amor visceral sempre fiel que nunca esmorece, inclusive quando o crente ou a comunidade cristã no seu conjunto chegam a contradizer o amor de Deus até romper a aliança. Sim, o comportamento misericordioso de Deus para com o pecador não é justiça retributiva nem meritocrática, mas é o desejo de que o pecador não morra mas viva, se converta e viva a comunhão com o seu Senhor (cf. Ezequiel, 18, 23; 33, 11).

Este conhecimento do amor misericordioso de Deus foi-nos dado plenamente por Jesus, o Filho que nos narrou Deus (exeghésato, João 1, 18); ele que, crucificado, quis ser «incluído entre os pecadores» (Isaías 53, 12; Lucas 22, 37), como sempre tinha vivido, alcançando-os na sua distância. Por esta razão, Paulo com maravilha e por experiência pessoal poderá anunciar: «Quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós» e «quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus» (Romanos 5, 8.10). É esta a misericórdia de Deus por nós que devemos conhecer e experimentar, para nos tornarmos nós mesmos homens e mulheres de misericórdia em relação aos outros.

Assim, o Papa Francisco recorda-nos que devemos «fazer misericórdia» ao nosso próximo com acções concretas e quotidianas. Assim como o samaritano «fez misericórdia» (Lucas 10, 37), também nós somos chamados a fazer no dia-a-dia, na história, porque ao nosso lado há sempre um pobre concreto: faminto, desnutrido, em fuga, estrangeiro, descartado, esquecido, último... A nossa consciência humana, instruída pela palavra de Deus, deve aprender a ver, a «discernir o pobre» (cf. Salmos 41, 2), para se sentir responsável e encarregar-se de acções que sejam de libertação, alívio, consolação dos males que afligem os pobres. Acções ou obras de misericórdia para com os corpos e as vidas psíquicas e espirituais dos outros, que são sempre corpo e espírito intimamente unidos. Todavia, para o Papa – não o esqueçamos – os pobres não são apenas os primeiros destinatários da nossa caridade, mas são uma cátedra magisterial, porque podem ensinar-nos o que não sabemos, ou seja, aquela «sabedoria da cruz» (cf. 1 Coríntio 1, 17-18) que quem não é pobre ignora. Aliás, no centro da história, segundo a visão apocalítica de João, está o cordeiro inocente, degolado mas vencedor sobre a morte (cf. Apocalipse 5, 7-14; 7, 17), emblema de cada vítima, de cada perseguido, de cada justo não reconhecido. Os pobres são – não deixa de afirmar o Papa Francisco – a carne de Cristo, são a sarça ardente em que Deus está presente e perante as quais é necessário inclinar-se (cf. Êxodo 3, 1-6).

Mas é significativo que entre os pobres o Papa nos convida a colocar também os ricos: porquê? Em primeiro lugar porque mais cedo ou mais tarde na vida se entra a fazer parte da categoria dos pobres, por causa da doença, velhice, isolamento, desgraças da vida. E também porque o rico, não sabendo reconhecer que é pobre, de facto é mais miserável que os pobres. O rico que não vê o irmão necessitado, é um cego; se não escuta o grito dos pobres, é um surdo; se não sabe compartilhar o que tem, está destinado a uma solidão desesperadora. Que os ricos saibam: o pobre que encontram é alguém que os chama à conversão, é alguém que passa a mendigar a conversão, é um verdadeiro mestre que nos “dá um sinal”, que nos indica uma via de salvação. Moisés, os profetas e sobretudo o Evangelho continuam constantemente a admoestar: “Reconduzi-nos a vós, Senhor; e voltaremos” (Lamentações 5, 21)»


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26 março 2015

Por que Cristo se angustiou diante da morte?



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo João (Jo 12, 20-33)


Enquanto a Paixão nos Evangelhos Sinóticos se inicia basicamente com a agonia de Cristo no Horto das Oliveiras, o Evangelho de São João não narra a agonia do Horto, senão nestes dois breves versículos: "Agora sinto-me angustiado. E que direi? 'Pai, livra-me desta hora?' Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!" (Jo 12, 27-28).

A Primeira Leitura se refere ao mesmo episódio, quando narra que "Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte" (Hb 5, 7). De fato, no Horto das Oliveiras, a alma de Cristo já agonizava, antes que começasse o Seu sofrimento físico. São Marcos, por exemplo, detalha que Cristo "começou a sentir pavor e angústia" e "uma tristeza mortal" (cf. Mc 14, 33s). São Lucas, por sua vez, chega a dizer que "seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão" (Lc 22, 44).

À vista disso, cabe perguntar como é possível que Nosso Senhor, sendo Deus, tenha enfrentado tamanha angústia diante da morte. Não era mais conveniente que Ele passasse por tudo com impavidez, imperturbabilidade e ataraxia? Por que ficou tão angustiado diante da morte o próprio Filho de Deus?

Santo Tomás de Aquino, em um de seus muitos comentários a essa passagem da vida do Verbo, escreve que "Christus elegit tristitiam, inquantum utilis erat ad redemptionem humani generis – o Cristo escolheu a tristeza enquanto era útil para a redenção do gênero humano" [1]. Foi esta a causa final do Seu sofrimento: a salvação da humanidade. Cada lágrima que Ele chorou e cada gota de sangue que suou estavam repletas da eficácia de Sua redenção. Impassível no Céu, Deus Se fez homem para sofrer e demonstrar o Seu grande amor pelo gênero humano.

Ainda o Doutor Angélico, ao falar da dor física de Nosso Senhor, explica que "a extensão do sofrimento pode ser considerada pela sensibilidade do paciente". O fato de Ele possuir "uma ótima compleição física (optime complexionatus)" fazia com que fosse "acutíssimo nele o sentido do tato (maxime viguit sensus tactus), com o qual se percebe a dor" [2]. Esse fato mostra por que, ainda que haja torturas piores do que a crucificação, a dor de Nosso Senhor foi a maior que qualquer homem jamais sofreu na face da Terra.

Ao elencar uma das causas da dor de Cristo, o Aquinate menciona inclusive "a perda da vida corporal, que por natureza é horrível à condição humana" [3]. Ora, como foi isso? Como podia ser que "a perda da vida corporal", aparentemente tão esperada pelos santos – lembre-se, por exemplo, de Santa Teresa, que morria por não morrer [4], ou de São Paulo, para quem viver era Cristo e morrer era lucro (cf. Fl 1, 21) –, fosse causa de repugnância a Nosso Senhor?

"É próprio do homem virtuoso amar a sua vida", ensina o mesmo Tomás. "O Cristo foi virtuosíssimo. Logo, amou a sua vida de modo superlativo (maxime suam vitam dilexit). Por isso, a dor pela perda de sua vida foi máxima" [5]. Os santos só ansiavam a morte porque queriam estar com Deus, mas a morte, em si mesma, é objeto de repugnância para qualquer homem sadio. Os mártires da Igreja, por exemplo, morreram não porque odiavam a vida presente, mas porque amavam a Deus e sabiam que isto valia mais do que a sua própria existência neste mundo (cf. Sl 62, 4). Nas palavras do Evangelista, "quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna" (Jo 12, 25).

Aqui reside a grande diferença entre um suicida e um mártir, entre um homem-bomba e um santo católico. Como diz G. K. Chesterton:
"Um mártir é um homem que se preocupa tanto com alguma coisa fora dele que se esquece de sua vida pessoal. Um suicida é um homem que se preocupa tão pouco com tudo o que está fora dele que ele quer ver o fim de tudo. Um quer que alguma coisa comece; o outro, que tudo acabe. (...) Este homem [o mártir] jogava fora a sua vida; ele era tão bom que seus ossos secos podiam curar cidades durante a peste. Aquele homem [o suicida] jogava fora a sua vida; ele era tão mau que seus ossos poluiriam os de seus irmãos." [6]

Nosso Senhor, porém, continua Tomás,
"Sofreu não apenas pela perda da própria vida corporal, mas também pelos pecados de todos os homens. Dor essa que nele excedeu todas as dores de qualquer pessoa contrita, seja porque proveniente de uma sabedoria e caridade maiores, que fazem aumentar a dor da contrição, seja também porque foi uma dor por todos os pecados ao mesmo tempo, conforme está em Is 53, 4: 'Na verdade, são os nossos sofrimentos que ele carregou'." [7]

Para realizar a Sua missão, a Pessoa Divina de Cristo deu ao seu conhecimento humano um modo divino de conhecer os homens e ver os seus pecados. Por isso, Jesus, no Getsêmani, se angustiava profundamente, vendo como as faltas dos homens ofendiam o coração de Deus. Assim também procedia São Domingos de Gusmão, que, tendo recebido "o dom de uma caridade imensa", "permanecia na igreja dia e noite sem descanso, entregue à oração" e chorando "pelos pecadores, pelos aflitos e desgraçados"[8].

Neste Domingo, tomemos a resolução de amar a Deus muito mais do que a nossa vida, abraçando a Sua vontade, ainda que isso cause a dissolução de nosso composto, corpo e alma. Coloquemos também diante d'Ele o desejo de reparar os nossos pecados e consolar o Seu coração. No Horto, enquanto agonizava, "apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia" (Lc 22, 43). Sejamos como esse anjo e consolemos o coração de Nosso Senhor com nossas penitências e com o nosso amor.

Pe. Paulo Ricardo

Fonte: Christo Nihil Praeponere

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18 março 2015

A primeira Via-Sacra da História



Antes mesmo de a Paixão se completar, Maria Santíssima percorreu os locais onde Jesus teve algum sofrimento especial, recolhendo, como se fossem pedras preciosas, os inesgotáveis méritos d'Ele.
Durante todo o tempo em que os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, junto com a turbamulta atiçada por eles, bramiam perante o Pretório de Pilatos, exigindo a libertação de Barrabás e a crucifixão de Jesus, onde Se encontrava sua Mãe Santíssima?
A esta pergunta, os Evangelistas não dão resposta, e as almas devotas de Maria, ao meditar sobre a Paixão do Divino Redentor, sentem a necessidade de preencher esse vácuo. A Bem-aventurada Ana Catarina Emmerich — religiosa agostiniana alemã, falecida em 1824 e beatificada por São João Paulo II em outubro de 2004 — satisfaz esse legítimo anseio com suas famosas visões sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Delas extraímos, com as necessárias adaptações, o relato a seguir.1

Antes mesmo de a Paixão se completar
Narra a Bem-aventurada que, enquanto se desenrolavam os sucessivos episódios do julgamento, a Mãe de Jesus, com Maria Madalena e o Apóstolo João, permaneciam num canto da praça, observando e escutando, submersos em profunda dor. E quando Jesus foi conduzido ao Pretório de Pilatos, a Santíssima Virgem, junto com João e Madalena, saíram para percorrer todos os lugares onde Ele havia estado desde sua prisão.
Voltaram, assim, à casa de Caifás, à de Anás, ao Jardim do Getsêmani e ao Horto das Oliveiras. Em todos os lugares onde Nosso Senhor havia caído ou havia sido submetido a algum sofrimento especial, detinham- -se em silêncio, choravam e sofriam por Ele. Mais de uma vez, a Virgem das virgens prosternou-Se e osculou a terra no local onde caíra seu Filho. Madalena contorcia as mãos, João chorava e procurava proporcionar- -lhes algum consolo. Depois as conduzia para outro lugar.
Iniciou-se por esta forma a devoção da Via-Sacra e das honras prestadas aos mistérios da Paixão de Jesus, antes mesmo de esta se completar. Foi na mais santa flor da humanidade, na Mãe virginal do Filho do Homem, que começou a meditação da Igreja sobre as dores do Redentor Divino.
Oh, que compaixão! Com que violência o gládio cortante e perfurante transpassou seu Coração! Ela, cujo bem-aventurado corpo O carregara, cujos bem-aventurados seios O amamentaram, que O concebera e guardara durante nove meses sob o seu Coração cheio de graça, que O portara e O sentira viver em Si antes de os homens receberem d'Ele a bênção, a doutrina e a salvação, Ela compartilhava todos os sofrimentos de Jesus, inclusive seu ardente desejo de resgatar os homens pelos seus padecimentos e sua Morte na Cruz.
Foi assim que a Virgem pura e sem mancha inaugurou para a Igreja a devoção do Caminho da Cruz, para recolher em todos os lugares desse bendito trajeto, como se fossem pedras preciosas, os inesgotáveis méritos de Jesus Cristo e oferecê- los a Deus Pai em benefício de todos os fiéis.
Tudo quanto houve e haverá de santo na humanidade, todos os homens que suspiraram após a Redenção, todos os que celebraram com respeitosa compaixão e com amor os sofrimentos de nosso Salvador, faziam com Maria o Caminho da Cruz, afligiam-se, oravam, ofereciam- se em holocausto no Coração da Mãe de Jesus, a qual é uma terna Mãe também para todos os seus irmãos unidos pela mesma Fé no seio da Santa Igreja.

Arrependimento da Madalena e sofrimentos de João
Madalena estava como que fora de si, pela violência da dor. Tinha um imenso e santo amor a Jesus. Quando, porém, desejava verter sua alma a seus divinos pés, como derramara o óleo aromático de nardo sobre sua cabeça, via abrir-se um horroroso abismo entre ela e seu Bem-amado. Sentia um arrependimento e uma gratidão sem limites, e quando queria elevar para Ele seu coração, como o perfume do incenso, via Jesus maltratado, conduzido à morte, por causa dos pecados por ela cometidos.

Causavam-lhe então profundo horror essas faltas pelas quais Jesus tanto tinha a sofrer. Ela se precipitava no abismo do arrependimento, sem poder esgotá- -lo nem preenchê-lo. Sentia-se de novo arrastada por seu amor a seu Senhor e Mestre, e O via entregue aos mais horríveis tormentos. Assim, sua alma estava cruelmente dilacerada entre o amor, o arrependimento, a gratidão, a contemplação da ingratidão de seu povo, e todos esses sentimentos exprimiam-se em seu modo de andar, suas palavras, seus gestos.
O Apóstolo João amava e sofria. Pela primeira vez, ele conduzia a Mãe de seu Mestre e de seu Deus, que também o amava e por ele sofria, sobre esses traços do Caminho da Cruz ao longo do qual a Igreja deveria segui-La.

"Se for possível, afaste-se este cálice"
Muito embora soubesse bem que a Morte de Jesus era o único meio de redimir o gênero humano — explica a Beata —, Maria estava cheia de angústia e desejo de livrá-Lo do suplício.
Da mesma forma como Jesus — feito Homem e destinado à crucifixão por livre vontade — sofria como qualquer homem todas as penas e torturas de um inocente conduzido à morte e em extremo maltratado, assim também Maria padecia todas as dores que podem acabrunhar uma mãe à vista de um filho santo e virtuoso tratado tão injustamente por um povo ingrato e cruel. Ela rezava para que esse imenso crime não se efetivasse. Como Jesus no Horto das Oliveiras, Ela dizia ao Pai Celeste: "Se for possível, afaste-se este cálice".
Se for possível... Nos desígnios de amor da Trindade Santíssima estava decidido: o Verbo de Deus Encarnado deveria beber, até a última gota, esta taça de dores. Não era possível. O Inocente por excelência foi condenado ao infamante suplício da crucifixão. Osculou com amor a Cruz e a carregou rumo ao Calvário.
  


Lancinante encontro da Mãe com o Filho
Mais adiante, a Beata Ana Catarina Emmerich descreve a lancinante cena do encontro da Mãe com o Filho; narra como, vendo-O coberto de chagas, com a Cruz aos ombros, Ela caiu ao solo, sem sentidos; e como três das Santas Mulheres, auxiliadas pelo Apóstolo Virgem, A levaram para a casa da qual pouco antes haviam saído.
Ao ver-Se separada mais uma vez de seu Filho bem-amado, que prosseguiu com seu pesado fardo aos ombros e cruelmente maltratado, logo o amor e o ardente desejo de estar junto d'Ele deram-Lhe uma força sobrenatural. Ela foi com suas companheiras até a casa de Lázaro, perto da Porta Angular, onde se encontravam as outras Santas Mulheres, gemendo e chorando com Marta e Madalena. De lá partiram, em número de dezessete, para seguir o caminho da Paixão.
Vi-as — diz a beata —, cheias de gravidade e resolução, indiferentes às injúrias do populacho e impondo respeito pela sua dor, atravessar o Fórum, cobertas com seus véus, beijar a terra no lugar onde Jesus tomara a Cruz, depois seguir o caminho que Ele havia percorrido. Maria e outras que recebiam mais luzes do Céu procuravam as pegadas de Jesus. Sentindo e vendo tudo com a ajuda de uma luz interior, a Virgem Santa as guiava nessa via dolorosa e todos esses locais se imprimiam vivamente em sua alma. Ela contava todos os passos e indicava às suas companheiras os lugares consagrados por alguma dolorosa circunstância.
* * *
A devoção da Via Crucis nasceu, portanto, do fundo da natureza humana e das intenções de Deus para com o seu povo, não em virtude de um plano premeditado. Por assim dizer, ela foi inaugurada sob os pés de Jesus, o primeiro a percorrê-la, pelo amor da mais terna das mães.
1 Artigo baseado na obra La douloureuse Passion de Notre Seigneur Jésus-Christ d'après les meditations d'Anne Catherine Emmerich, disponível no site http:// www.clerus.org. Obra publicada em português: EMMERICH, Anna Catharina. Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus. São Paulo: MIR, 1999.

(Revista Arautos do Evangelho, Março/2015, n. 159, p. 19 à 21)

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19 fevereiro 2015

Como a Igreja nos ensina a praticar o jejum e outras penitências?




As formas de piedade (esmola, jejum e oração).

Assim como o Senhor ensinou os seus discípulos a rezar, a Igreja, seu corpo, continua ensinando os seus seguidores da mesma maneira. Nesse caso, ensina a praticar o jejum. E como devemos jejuar principalmente na Quaresma?
Louve a Deus por esse ensinamento que nós católicos temos, nós não somos “ovelhas sem pastor”, que seguem qualquer voz e qualquer vento doutrinário que passa, temos uma doutrina sólida, se você tiver qualquer dúvida a respeito de nossa fé, saiba que a Igreja já pensou nisso para você, não se preocupe, a nossa querida  e santa Madre Igreja, já se preparou para vencer o mundo e te ajudar a sanar todas as dúvidas que hoje você tem e todas as dúvidas que, por ventura, virão.

Vejam como devemos viver bem a Quaresma segundo o Catecismo:

V. AS MÚLTIPLAS FORMAS DA PENITÊNCIA NA VIDA CRISTÃ
1434     A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, “que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).

1435     A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia. 

1436 Eucaristia e penitência. A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento na Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos reconciliou com Deus; por ela são nutridos e fortificados aqueles que vivem da vida de Cristo: “ela é o antídoto que nos liberta de nossas faltas cotidianas e nos preserva dos pecados mortais”.

1437 A leitura da Sagrada Escritura, a oração da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo ato sincero de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e contribui para o perdão dos pecados.

1438 Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja [ag45]. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).

1439     O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosamente descrito por 
Jesus na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é “O pai misericordioso”: o fascínio de uma liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a extrema miséria em que se encontra o filho depois de esbanjar sua fortuna; a profunda humilhação de ver-se obrigado a cuidar dos porcos e, pior ainda, de querer matar a fome com a sua ração; a reflexão sobre os bens perdidos; o arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do pai; o caminho de volta; o generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do pai: tudo isso são traços específicos do processo de conversão. A bela túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova vida, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua família, que é a Igreja. Só o coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão bela.


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16 fevereiro 2015

As sete palavras de Jesus


De pé, junto a Cruz, Maria, pervadida de angústia e de dores, ouvia de seu Divino Filho as últimas palavras.

Afirma São Tomás que "o último na ação é o primeiro na intenção". Pelos derradeiros atos e disposições de alma de quem transpõe os umbrais da eternidade, chegamos a compreender bem qual foi o rumo que norteou sua existência. No caso de Jesus, não só na morte de cruz, mas também, de forma especial, em suas última palavras, vemos os sentido mais profundo de sua Encarnação. Nelas encontramos uma rutilante síntese de sua vida: constante e elevada oração ao Pai, apostolado através da pregação, conduta exemplar, milagres e perdão.
A cruz foi o divino pedestal eleito por Jesus para proclamar suas últimas súplicas e decretos. No alto do Calvário se esclareceram todos os seus gestos, atitudes e pregações. Maria também compreendeu ali, com profundidade, sua missão de mãe.
Jesus é a Caridade. A perfeição dessa virtude, nós a encontramos nas "Sete Palavras". As três primeiras tem em vista os outros (inimigos, amigos e familiares); as demais, a Si próprio.

Primeira Palavra: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34)
Pai - É o mais suave título de Deus. Nessa hora extrema, Jesus bem poderia invocá-Lo chamando-O Deus. Percebe-se, entretanto, claramente a intenção do Redentor: quis afastar, dos fautores daquele crime, a divina severidade do Juiz Supremo, interpondo a misericórdia de sua paternalidade. Chega-se a entrever a força de seu argumento: se o Filho, vítima do crime, perdoa por que não o fazeis também a Vós?
É a primeira "palavra" que os divinos lábios d'Ele pronunciam na cruz, e nela já encontramos o perdão. Perdão pelos que Lhe infligiram diretamente seu martírio. Perdão que abarca também todos os outros culpados: os pecadores. Nesse momento, portanto, Jesus pediu ao Pai também por mim.

Embora não houvesse fundamento para escusar o desvario e ingratidão do povo, a sanha dos algozes, a inveja e ódio dos príncipes e dos sacerdotes, etc., tão infinita foi a Caridade de Jesus que Ele argumenta com o Pai: "porque não sabem o que fazem."
A ausência absoluta de ressentimento faz descer do alto da cruz a luminosidade harmoniosa e até afetuosa do amor ao próximo como a si mesmo. Ouvindo essa súplica, chegamos a entender quanta insenção de ânimo havia em Jesus na ocasião em que expulsou os vendilhões do Templo: era, de fato, o puro zelo pela casa de seu Pai.

Segunda Palavra: "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23, 43)
A cena não podia ser mais pungente. Jesus se encontra entre dois ladrões. Um deles faz jus à afirmação da Escritura: "Um abismo atrai outro abismo (SL 41,8). Blasfema contra Jesus, dizendo: "Se és Cristo, salva-te a ti mesmo, e salva-nos a nós" (Lc 23, 39).
Enquanto esse ladrão ofende, o outro louva Jesus e admoesta seu companheiro, dizendo: "Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum" (Lc 23, 40-41).
São palavras inspiradas, nas quais transparecem a santa correção fraterna, o reconhecimento da inocência de Cristo, a confissão arrependida dos crimes cometidos. São virtudes que lhe preparam a alma para uma ousada súplica: "Senhor, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!" (Lc. 23, 42).
Ao referir-se a Jesus enquanto "Senhor", o bom ladrão professa sua condição de escravo e reconhece-O como Redentor. O "lembra-te de mim" é afirmativo, não tem nenhum sentido condicional, pois sua confiança é plena e inabalável. Compreende a superioridade da vida eterna sobre a terrena, para o mau ladrão, constitui um delírio: o afastamento da morte, a recuperação da saúde e da integridade.
O bom ladrão confessa publicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, ao contrário até mesmo de São Pedro, que havia três vezes negado o Senhor. Tal gesto lhe fez merecer de Jesus este prêmio: "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23, 43).
Jesus torna solene a primeira canonização da história: "Em verdade..."
A promessa é categórica até quanto à data: hoje. São Cipriano e Santo Agostinho chegam a afirmar ter recebido o bom ladrão a palma do martírio, pelo fato de, por livre e espontânea vontade, haver confessado publicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Terceira Palavra: "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé sua Mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua Mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: "Mulher, eis aí teu filho". Depois disse ao discípulo: "Eis aí tua Mãe". E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa" (Jo 19, 25-27)
Com essas palavras, Jesus finaliza sua comunicação oficial com os homens antes da morte (as quatro outras serão de sua intimidade com Deus). Quem as ouve são Maria Madalena, representando a via da penitência; Maria, mulher de Cleófas, a dos que vão progredindo na vida espiritual; Maria Santíssima e São João, a da perfeição.
Consideremos um breve comentário de Santo Ambrósio sobre este trecho: "São João escreveu o que os outros calaram: (pouco depois de) conceder o reino dos céus ao bom ladrão, Jesus, cravado na Cruz, considerado vencedor da morte, chamou sua Mãe e tributou a Ela a reverência de seu amor filial. E, se perdoar o ladrão é um ato de piedade, muito mais é homenagear a Mãe com tanto carinho ... Cristo, do alto da cruz, fazia seu testamento, distribuindo entre sua Mãe e seu discípulo os deveres de seu carinho" (in S. Tomás de Aquino, Catena Aurea).
É arrebatador constatar como Jesus numa atitude de grandioso afeto e nobreza, encerrou oficialmente seu relacionamento com a humanidadem na qual se encarnara para redimí-la. Do auge da dor, expressou o carinho de um Deus por sua Mãe Santíssima, e concedeu o prêmio para o discípulo que abandonara seus próprios pais para segui-Lo: o cêntuplo nesta terra (Mt 19, 29).
É perfeita e exemplar a presteza com que São João assume a herança deixada pelo Divino Mestre: "E dessa hora em diante, o discípulo a levou para a sua casa" (Jo 19, 27). São João desce do Calvário protegendo, mas sobretudo protegido pela Rainha do céu e da terra. É o prêmio de quem procura adorar Jesus no extremo de seu martírio.

Quarta Palavra: "Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste? (Mt 27, 45)
Jesus clama em alta voz. Seu brado fende não somente os ares daquele instante, mas os céus da história. Nossos ouvidos são duros, era indispensável falar com força. Jesus não profere uma queixa, nem faz uma acusação. Deseja, por amor a nós, fazer-nos entender a terrível atrocidade de seus tormentos. Assim mais facilmente adquiriremos clara noção de quanto pesa nossos pecados e de quanto devemos ser agradecidos pela Redenção.
Como entender esse abandono? Não rompeu-se - e é impossível - a união natural e eterna entre as pessoas do Pai e do Filho. Nem sequer separaram-se as naturezas humana e divina. Jamais se interrompeu a união entre a graça e a vontade de Jesus. Tampouco perdeu sua alma a visão beatífica.
Perdeu Jesus, sito sim, e temporariamente, a união de proteção à qual Ele faz menção no Evangelho: "Aquele que me 
enviou está comigo; ele não me deixou sozinho" (Jo, 8, 29). O Pai bem poderia protegê-Lo nessa hora (cfr. Mc 14, 36; Mt 26, 53; Lc 22, 43). O próprio Filho poderia proteger seu Corpo (Jo 10, 18; 18, 6), ou conferir-lhe o dom de incorruptibilidade e de impassibilidade, uma vez que sua alma estava na visão beatífica.
Mas assim determinou a Santíssima Trindade: a debilidade da natureza humana em Jesus deveria prevalecer por um certo período, a fim de que se cumprisse o que estava escrito. Por isso Jesus não se dirige ao Pai como em geral procedia, mas usa da invocação "meu Deus".
A ordem do universo criado é coesa com aordem moral. Ambas procedem de uma mesma e única causa. Se a primeira não se levanta para se vingar daqueles que dilaceram os princípios morais por meio de seus pecados, é porque deus lhe retém o ímpeto natural, Se assim não fosse, os céus, os mares e os ventos se ergueriam contra toda e qualquer ofensa feita a Deus. Mas como frear a natureza diante do deicídio? Por isso, na hora daquele crime supremo, "cobriu-se toda a terra de trevas" ... (Mt 27, 45).

Quinta Palavra: "Tenho SEDE." (Jo 19, 28)
Assinala o evangelista que Jesus dissera tais palavras por saber "que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura". Vendo um vaso cheio de vinagre que havia por ali, os soldados embeberam uma esponja, "e fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca" (Jo 19, 28-29).
Cumpria-se assim o versículo 22 do salmo 68: "Puseram fel no meu alimento; na minha sede deram-me vinagre para beber."
Qual a razão mais profunda desse episódio? É um verdadeiro mistério.
Jesus derramara boa quantidade de seu preciosíssimo Sangue durante a flagelação. As chagas em via de cicatrização, foram reabertas ao longo do caminho e ainda mais quando Lhe arrancaram as roupas para crucificá-Lo. O pouco sangue que Lhe restava escorria pelo sagrado lenho. Por isso, a sede tornou-se ardentíssima. Além desse sentido físico, a sede de Jesus significava algo mais: o Divino Redentor tinha sede da glória de Deus e da salvação das almas.
E o que lhe oferecem? Um soldado lhe apresenta, na ponta de uma vara, uma esponja empapada de vinagre. Era a bebida dos condenados.
Podemos de alguma maneira aliviar pelo menos esse tormento de Jesus? Sim! Antes de tudo, compadecendo-nos d'Ele com amor e verdadeira piedade, e apresentando-Lhe um coração arrependido e humilhado.
Devemos querer ter parte nessa sede de Cristo, almejando acima de tudo à nossa própria santificação, com redobrado esforço, de modo a não pensar, desejar ou praticar algo que a Ele nos conduza. Para Ele será água fresca e cristalina nossa fuga vigilante das ocasiões próximas de pecado. Compadeçamo-nos também dos que vivem no pecado ou nele caem, e trabalhemos por sua salvação. Em suma, apliquemo-nos com ânimo na tarefa de apressar o triunfo do Imaculado Coração de Maria.
O Salvador clama a nós do alto da cruz que defendamos, mais ainda que o bom ladrão, a honra de deus, procurando conduzir a opinião pública para a verdadeira Igreja. É nosso dever buscar entusiasmadamente a glória de Cristo, "que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor." (Ef 5, 2).

Sexta Palavra: "Tudo está consumado" (Jo 19, 30)
A Sagrada Paixão terminara e, com ela, a pregação. Todas as profecias haviam se cumprido, conforme interpreta Santo Agostinho: a concepção virginal (Is 7, 14); o nascimento em Belém (Mq 5, 1); a adoração dos Reis (Sl 71, 10); a pregação e os milagres (Is 61, 1; 35, 5-6); a gloriosa entrada em Jerusalém no dia de Ramos (Zc 9, 9) e toda a Paixão (Isaías e Jeremias).
Na Cruz foi vencida a guerra contra o demônio: "Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo" (Jo 12, 31). No paraíso terrestre, o demônio adquirira de modo fraudulento a posse deste mundo, com o pecado de nossos primeiros pais. Jesus a recuperou como legítimo herdeiro.
Consumado também estava o edifício da Igreja. Este iniciou-se com o batismo no Jordão, onde foi ouvida a voz do Pai indicando seu Filho muito amado, e se concluiu na cruz, na qual Jesus comprou todas as graças que serão distribuídas até o fim do mundo através dos sacramentos.
Para que o preciosíssimo Sangue Dio Salvador ponha fim ao império do demônio em nossas almas é preciso que crucifiquemos nossa carne com seus caprichos e delírios, combatendo também o respeito humano e a soberba. Jesus nos abriu um caminho que, aliás, todos os santos trilharam.

Sétima Palavra: "Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito" (Lc 23, 46)
Estabeleceu-se na Igreja, desde os primórdios, o costume de encomendar as almas dos fiéis defuntos, a fim de que a luz perpétua os ilumine.
Jesus, porém, não tinha necessidade de encomendar sua alma ao Pai, pois ela havia sido criada no pleno gozo da visão beatífica. Desde o primeiro instante de sua existência, encontrava-se unida à natureza divina na pessoa do Verbo. Portanto, ao abandonar o corpo sagrado, sairia vitoriosa e triunfante. "Meu espírito", e não alma, provavelmente aqui significaria a vida corporal de Jesus.
Mas, Jesus aguardava sua ressurreição para logo. Ao entregar ao Pai a vida que d'Ele recebera, sabia que ela Lhe seria restituída no tempo devido.
Com reverência tomou o Pai Eterno em suas mãos a vida de seu Filho unigênito, e com infinito comprazimento a devolveu, no ato da ressurreição, a um corpo imortal, impassível e glorioso. Abriu-se, assim, o caminho para a nossa ressurreição, ficando-nos a lição de que ela não pode ser atingida senão pelo calvário e pela cruz.

AVE CRUX, SPES ÚNICA.


 


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27 janeiro 2015

Mensagem do Papa Francisco para Quaresma 2015




MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2015 - « Fortalecei os vossos corações» (Tg5,8)

Amados irmãos e irmãs!

Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um « tempo favorável » de graça (cf. 2 Cor6,2). Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: « Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro » (1 Jo4,19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa connosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.

Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença. Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar. A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5,6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n’Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida. Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.

1. « Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros » (1 Cor12,26)– A Igreja.

Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentámos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa « tem parte com Ele » (cf. Jo 13,8), podendo assim servir o homem. A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. « Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria » (1 Cor12,26). A Igreja é communio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.

2. « Onde está o teu irmão? » (Gn 4,9)– As paróquias e as comunidades

Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada

(cf. Lc16,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direcções. Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura--se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofre e geme, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: « Muito espero não ficar inactiva no Céu; o

meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas » (Carta254, de 14 de Julho de 1897).

Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.

Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens. Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf.Act1,8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.

Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!

3. « Fortalecei os vossos corações » (Tg 5,8)– Cada um dos fiéis

Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração. Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum. E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos.

Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos. Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro. Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: « Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso » (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.

Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014
(from Vatican Radio)


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31 março 2014

Deus faz festa quando o procuramos na confissão, diz o Papa Francisco



VATICANO, 28 Mar. 14 / 02:40 pm (ACI/EWTN Noticias).- O Papa Francisco presidiu uma solene liturgia penitencial na Basílica de São Pedro, como parte da iniciativa lançada pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização “24 horas para o Senhor”.

Estava previsto que o Papa confessasse na Basílica de São Pedro a um grupo de paroquianos, mas a surpresa aconteceu quando o Pontífice saiu do confessionário onde estava confessando e se dirigiu ao sacerdote mais próximo, ante quem se ajoelhou para confessar-se.

O Santo Padre pediu aos fiéis que quando saiam ao encontro dos demais “comuniquem a alegria de receber o perdão do Pai e reencontrar a amizade com Ele. Quem experimenta a Misericórdia Divina é impulsionado a se tornar artífice da misericórdia entre os últimos e mais pobres”.

Por cortesia do Portal Canção Nova apresentamos abaixo a íntegra da homilia do Papa

Queridos irmãos e irmãs,

No período da Quaresma, a Igreja, em nome de Deus, renova o apelo à conversão. É um chamado a mudar de vida. Converter-se não é questão de um momento ou de um período do ano, é um empenho para toda a vida. Quem entre nós pode presumir não ser um pecador? Ninguém.

Escreve o Apóstolo João: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessamos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda iniquidade”(1 Jo 1,8-9). É o que acontece também nesta celebração e durante toda a jornada penitencial. A Palavra de Deus que ouvimos nos introduz em dois elementos essenciais da vida cristã.

O primeiro: Revestir-nos do homem novo. O homem novo, “criado segundo Deus”, nasce no batismo, momento em que se recebe a própria vida de Deus, que nos torna Seus filhos e nos incorpora a Cristo e Sua Igreja. Essa vida nova permite olhar a realidade com outros olhos, sem nos distrair com as coisas que não são importantes e não duram no tempo.

Por isso, somos chamados a abandonar os comportamentos pecaminosos e fixar o olhar sobre o essencial. “O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem” (Gaudium et Spes, 35). Eis a diferença entre a vida deformada pelo pecado e a vida iluminada pela graça.

Do coração do homem, renovando por Deus, provêm os bons comportamentos: falar sempre com verdade e evitar sempre qualquer mentira; não roubar, mas compartilhar aquilo que possui com os outros, principalmente com quem passa necessidade; não ceder à ira, ao rancor e à vingança, mas ser manso, magnânimo e pronto ao perdão, não ceder à maledicência que corrói a boa fama das pessoas, mas olhar sempre o lado positivo de todos.

O segundo elemento: Permanecer no amor. O amor de Jesus Cristo dura para sempre, nunca terá fim, porque é a própria vida de Deus. Esse amor vence o pecado e nos dá forças para nos levantarmos e recomeçarmos, porque com o perdão o coração se renova e se revigora. O nosso Pai nunca se cansa de amar, e Seus olhos não se cansam de olhar para a estrada de casa para ver se o filho que se foi e se perdeu está retornando.

E esse Pai não se cansa nem mesmo de amar o outro filho que, mesmo permanecendo sempre em casa com ele, todavia, não é participante de Sua misericórdia , de Sua compaixão.

Deus não é somente a origem do amor, mas, em Jesus Cristo, Ele nos chama a imitar o Seu próprio modo de amar: “Como eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros” (Jo 13,34). Na medida em que os cristãos vivem este amor, tornam-se, no mundo, discípulos de credibilidade de Cristo. O amor não pode suportar permanecer fechado em si mesmo. Por sua própria natureza é aberto, difunde-se e é fecundo, gera sempre novo amor.


Caros irmãos e irmãs, após esta celebração, muitos de vós serão missionários para propor aos outros a experiência da reconciliação com Deus. “24 horas para o Senhor” é a iniciativa que tantas dioceses no mundo aderiram. Aos que vocês encontrarem, comuniquem a alegria de receber o perdão do Pai e reencontrar a amizade com Ele. Quem experimenta a Misericórdia Divina é impulsionado a se tornar artífice da misericórdia entre os últimos e mais pobres.

Nestes “pequenos irmãos” Jesus nos espera. Vamos ao encontro d’Ele e celebremos a Páscoa na alegria de Deus!



De: acidigital.com

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