Bento XVI publicou hoje a sua mensagem para a Quaresma 2012, pedindo aos católicos de todo o mundo que façam deste tempo uma oportunidade para “prestar atenção ao outro”, com “preocupação concreta pelos mais pobres”.
“Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda, quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã”, refere o texto, divulgado pela Santa Sé.
O Papa critica “a indiferença” e “o desinteresse que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela ‘esfera privada’” na cultura atual, atitudes que quer ver contrariadas por um “olhar de fraternidade”.
“O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro ‘alter ego’, infinitamente amado pelo Senhor”, pode ler-se.
O documento, com versão em português, intitula-se ‘Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras’, expressão retirada da Carta aos Hebreus, do Novo Testamento.
Bento XVI alerta para o perigo de “uma espécie de ‘anestesia espiritual’”, que impede de atender ao sofrimento alheio com um “olhar feito de humanidade e de carinho”.
“O nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre”, observa.
Recordando o episódio bíblico [livro do Génesis] em que Deus interpela Caim, a respeito do assassinato do seu irmão Abel, a mensagem papal incita a consciência de cada pessoa a sentir-se responsável por quem é “criatura e filho de Deus”: “Também hoje Deus nos pede para sermos o ‘guarda’ dos nossos irmãos”.
“O facto de sermos o ‘guarda’ dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspetiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual”, precisa.
Bento XVI diz que a cultura contemporânea parece ter perdido “o sentido do bem e do mal”, sendo necessário “reafirmar com vigor que o bem existe e vence”.
“O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem”, assinala.
Esse bem, acrescenta, inclui a chamada “correção fraterna”, numa “responsabilidade espiritual pelos irmãos”.
“A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de ‘corrigir os que erram’. É importante recuperar esta dimensão do amor cristão”, escreve o Papa.
A mensagem de Bento XVI diz que os católicos não devem “ficar calados diante do mal” e lamenta que alguns prefiram, “por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum”.
“A nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social”, prossegue.
A Quaresma, que este ano começa a 22 de fevereiro (quarta-feira de Cinzas), é um período de 40 dias - excetuando os domingos -, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.
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