Para que serve um convento de clausura
em Ávila? Muitos dos que se aproximam do locutório do Convento de São
José, ou de outro convento de clausura, fazem este comentário
superficial: "Não seria melhor que estas mulheres servissem os pobres em
bairros humildes ou nas missões? Não fariam muito mais curando os
enfermos e anciãos? O que fazem aqui dentro, se há tanto para fazer
fora, no mundo? Esta vida fechada faz sentido hoje? Podem ser felizes
entre as grades, sem nunca sair?".
Fachada do Convento de São José, em Ávila |
Certamente elas podem ser felizes, até
muito felizes, segundo o que diz a própria Santa Teresa: "Só mesmo quem
passa por isso pode compreender o prazer que temos nessas fundações
quando por fim podemos nos enclausurar; não se vive verdadeiramente
senão estando outra vez ali". [...]
Testemunho que leva a nos apaixonarmos por nossa vocação
Ao longo de 450 anos, nossa diocese vem
se beneficiando com as graças que lhe são concedidas através deste
convento. Santa Teresa, ao fundá-lo em estrita clausura, criou um modelo
ideal na Igreja para que as pessoas chamadas por Deus ao Carmelo
Descalço possam viver uma história apaixonante de silêncio, de oração e
de intenso amor a Deus. Certamente o Convento de São José é necessário,
como são necessários todos os conventos contemplativos.
O Convento de São José depois de todo
esse tempo nos recorda do interior de seus muros, através da vida
escondida de suas monjas, o fim para o qual Santa Teresa o fundou:
manter a fidelidade à nossa vocação, cada um à que foi chamado por Deus,
em todos os tempos, mas de maneira especial em nossa atualidade
intensamente secularizada; viver a autêntica missão da Igreja através da
oração e do sacrifício de suas vidas.
Para os Carmelitas Descalços dos ramos
masculino e feminino, para os sacerdotes, para as pessoas de vida
consagrada, o modo de vida inaugurado por Santa Teresa nos leva a nos
apaixonarmos por nossa vocação. Seu testemunho silencioso, sua
profundidade espiritual, sua santidade de vida nos conduzem à convicção
do valor deste caminho de eleição para o seguimento de Cristo, buscando
uma maior perfeição como ela viveu nesta casa: "Tendo Deus tantos
inimigos e tão poucos amigos, todo o meu desejo era, e ainda é, que
estes fossem bons. Decidi-me então a fazer o pouco que podia: seguir os
conselhos evangélicos com toda a perfeição". [...]
A oração não é algo destinado a uns poucos
A vida cristã é uma vocação à oração. O
ideal da vida consagrada e da vida cristã, que aparece no Caminho de
Perfeição e se concretizou na fundação do Convento São José, é a oração.
A oração não é algo destinado a uns
poucos privilegiados, mas a todos quantos queremos ser amigos de Deus.
Teresa, ao escrever Caminho, no Convento de São José, torna-se a
primeira Mestra de oração entre as carmelitas. Uma necessidade do homem
atual é a interioridade, recolhermo-nos no centro da alma e
encontrarmo-nos conosco mesmos para não nos deixarmos arrastar por
qualquer vento de ideologia ou de interesse. Mas um caminho seguro para
encontrarmos a nós mesmos é encontrarmo-nos com Deus. [...]
Urge escutar a voz interpelante de Santa Teresa
A fundação de São José nos recorda a
necessidade de ser apóstolos num mundo em crise. As Carmelitas Descalças
de São José são apóstolos no silêncio de sua cela, de seu claustro. Os
tristes acontecimentos da Igreja do tempo de Santa Teresa, aqueles
tempos difíceis, as diversas correntes de espiritualidade nem sempre
ortodoxas: os cristãos novos, os iluminados, visionários e profetas, a
divisão dos cristãos, tudo isso fez com que ela respondesse com grande
eficácia e trabalhasse para devolver à Igreja santa seu belo rosto.
[...]
Teresa manteve-se sempre na absoluta
fidelidade e amor à Igreja, pela qual sofre e dentro da qual aponta seu
caminho de santidade e perfeição. Teve consciência da necessidade de
abrir-se à expansão missionária da Igreja. Aqui, no novo convento,
iniciou-se este apostolado original de Santa Teresa com suas poucas
monjas para servir a Igreja. Hoje, imersos num mundo em crise econômica e
de valores espirituais e morais, Santa Teresa nos recorda que o momento
histórico do século XVI não foi menos convulsionado que o nosso, e que
ela foi muito decidida na adversidade.
"A fundação de São José nos recorda a necessidade de ser apóstolos num mundo em crise" |
Nas atuais circunstâncias, envoltos numa
cultura oposta aos princípios evangélicos, nestes tempos igualmente
adversos em que, na expressão de Santa Teresa, querem lançar a Igreja no
chão, parece necessário o espírito apostólico; urge escutar a sua voz
interpelante: "Oh, irmãs minhas em Cristo! Ajudai- -me a suplicar isso
ao Senhor, pois foi com esse fim que Ele vos reuniu aqui! Essa é a vossa
vocação; esses devem ser os vossos cuidados e os vossos desejos;
empregai aqui as vossas lágrimas e para isso dirigi vossos pedidos.
[...] O mundo está sendo tomado pelo fogo; querem voltar a condenar a
Cristo, como se diz, pois levantam mil falsos testemunhos contra Ele,
pretendendo derrubar a sua Igreja. [...] Não, minhas irmãs, não é hora
de tratar com Deus de coisas pouco importantes".
A Igreja precisa de nós como apóstolos
Queira Santa Teresa contagiar-nos com
seu ardor: não é tempo de nos distrairmos com assuntos banais. Conforme o
magistério do Concílio Vaticano II, todo cristão é chamado a ser
apóstolo: "o católico que não faz apostolado na medida de suas
possibilidades deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo".
A Igreja precisa de nós como apóstolos
em nossa paróquia, nos movimentos apostólicos e em nossa família, no
trabalho, com nossas amizades. Sentimos frequentemente a tentação de
viver o cristianismo à margem da Igreja: Cristo sim, a Igreja não.
Ora, a mensagem de Santa Teresa é clara:
"Considero quão grande é tudo o que a Igreja ordena". Conclama- nos a
viver dentro dela e a servi-la por meio da Reforma, até nela morrer:
"Bendito seja Deus, pois sou filha da Igreja. Sou filha da Igreja!".
Isto nos recorda que não podemos viver o Evangelho conforme os nossos
critérios, mas segundo a fé da Igreja: "Crede firmemente no que crê a
Santa Mãe Igreja, e estai seguros de irdes por bom caminho".
Santa Teresa e sua pequena comunidade
fundada há 450 anos convidam- nos a sentir com a Igreja e a nos
comprometermos com ela, dedicando-nos sem descanso às tarefas
apostólicas. "Felizes aqueles que servirem a Igreja em tão grande
necessidade como a que ela tem agora, e assim terminarem suas vidas!".
(Excertos da Carta Pastoral por ocasião do 450º aniversário da fundação do Convento de São José e da reforma do Carmelo)
Fonte: Gaudiumpress.org
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