Em 16 de junho de 1645, o padre André de Soveral e
outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por 200 soldados holandeses e
índios potiguares. Os fiéis estavam participando da missa dominical, na
Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, no município de
Canguaretama (RN). O que motivou a chacina? A intolerância calvinista
dos invasores que não admitiam a prática da religião católica: isso
custou-lhes a própria vida.
A chacina de Cunhaú
O
movimento de insurreição contra o domínio holandês já começara em
Pernambuco, mas, na capitania do Rio Grande do Norte, tudo parecia
normal. Bastou, porém, a presença de uma só pessoa para que o clima se
tornasse tenso: Jacó Rabe, um alemão a serviço dos holandeses. Ele
chegara a Cunhaú no dia 15 de julho de 1645.
Rabe
era um personagem por demais conhecido dos moradores de Cunhaú. Suas
passagens por aquelas paragens eram freqüentes, sempre acompanhado dos
ferozes tapuias, semeando por toda parte ódio e destruição. A simples
presença de Rabe e dos tapuias era motivo para suspeitas e temores.
"Além
dos tapuias, Jacó Rabe trazia, desta vez, alguns potiguares e soldados
holandeses. Ele dizia-se portador de uma mensagem do Supremo Conselho
Holandês, do Recife, aos moradores de Cunhaú.
No dia 16 de julho, Domingo, um grande número de colonos estava na igreja, para a missa dominical celebrada pelo Pároco, Pe. André de Soveral. Jacó Rabe mandara afixar nas portas da igreja um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa.
No dia 16 de julho, Domingo, um grande número de colonos estava na igreja, para a missa dominical celebrada pelo Pároco, Pe. André de Soveral. Jacó Rabe mandara afixar nas portas da igreja um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa.
Como havia um certo receio pela presença de Jacó Rabe, alguns preferiram ficar esperando na casa de engenho.
Chegou a hora da missa. Os fiéis, em grupos de
familiares ou de amigos, dirigiram-se à igrejinha de Nossa Senhora das
Candeias. Levados apenas por cumprir o preceito religioso, os fiéis não
portavam armas, mas só alguns bastões que encostaram nas paredes do
pórtico.
O padre André inicia a celebração. Após a
elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor, para a
adoração dos presentes, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as
portas da Igreja e se deu início à terrível carnificina.
Foram
cenas de grande atrocidade: os fiéis em oração, tomados de surpresa e
completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelo
flamengos com a ajuda dos tapuias e potiguares.
Ao
perceber que iam ser mesmo sacrificados, os fiéis não se rebelaram. Ao
contrário, 'entre mortais ânsias se confessaram ao sumo sacerdote Jesus
Cristo, pedindo-lhe, com grande contrição, perdão de suas culpas",
enquanto o padre André estava 'exortando-os a bem morrer, rezando
apressadamente o ofício da agonia" (Verdonk).
Chacina de Uruaçu
Três meses depois aconteceu o martírio de mais 80
pessoas, e sempre pelas mãos dos calvinistas holandeses. Entre elas
estava o camponês Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas
costas, enquanto repetia a frase: "Louvado seja o Santíssimo
Sacramento". Isso aconteceu na Comunidade de Uruaçu, em São Gonçalo do
Amarante (a 18 km de Natal).
Monumento aos mártires, em São Gonçalo do Amarante
Contam
os cronistas que as notícias dos graves e dolorosos acontecimentos de
Cunhaú se espalharam rapidamente por toda a capitania do Rio Grande do
Norte e capitanias vizinhas. A população ficou assustada e temia novos
ataques dos tapuias e potiguares, instigados pelos holandeses.
Também desta vez tudo aconteceu sob o comando de Rabe, ajudado pelo chefe potiguar Antônio Paraopaba.
Os
índios já tinham sido avisados das intenções dos dois e lá estava o
chefe potiguar com os seus comandados: mais de duzentos índios, bem
armados.
Logo que desceram dos batéis, os
flamengos ordenaram aos moradores que se despissem e se ajoelhassem. A
um sinal dado por eles, os índios, que estavam emboscados, saíram dos
matos e cercaram os indefesos colonos.
Teve
início, então, a terrível carnificina, descrita com impressionante
realismo pelos cronistas portugueses. Nas descrições, nota-se o
contraste entre a crueldade dos algozes e a resignação e o perdão das
vítimas:
"Começaram a dar tão desumanos e atrozes tormentos aos homens que já muitos dos que padeciam tomavam por mercê a morte. Mas os holandeses usaram da última crueldade entregando-os aos tapuias e potiguares, que ainda vivos os foram fazendo em pedaços, e nos corpos fizeram anatomias incríveis, arrancando a uns os olhos, tirando a outros as línguas e cortando as partes verendas e metendo-lhas nas bocas..." (Santiago).
"Começaram a dar tão desumanos e atrozes tormentos aos homens que já muitos dos que padeciam tomavam por mercê a morte. Mas os holandeses usaram da última crueldade entregando-os aos tapuias e potiguares, que ainda vivos os foram fazendo em pedaços, e nos corpos fizeram anatomias incríveis, arrancando a uns os olhos, tirando a outros as línguas e cortando as partes verendas e metendo-lhas nas bocas..." (Santiago).
A descrição da morte de Mateus
Moreira é o ponto mais expressivo de toda a narrativa de Uruaçu e
constitui um dos mais belos testemunhos de fé na Eucaristia, confessada
na hora do martírio.
"Os algozes arrancaram-lhe o coração pelas costas, e ele morreu exclamando: 'Louvado Seja o Santíssimo Sacramento."
Processo de beatificação
Segundo Monsenhor Francisco de Assis Pereira,
Postulador da Causa de beatificação desses Mártires, "a memória dos
servos de Deus sacrificados em Cunhaú e Uruaçu, em 1645, permaneceu viva
na alma do povo potiguar, que os venera como autênticos defensores da
fé católica". O processo de beatificação foi concedido pela Santa Sé, no
dia 16 de junho de 1989, e, em 21 de dezembro de 1998, o Papa João
Paulo II assinou o Decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros,
sendo dois sacerdortes e 28 leigos.
Mons. Assis
acompanhou o processo por mais de dez anos, reunindo documentos em
pesquisas realizadas em Portugal, Holanda e no Brasil. Deste material
resultou o livro Protomártires do Brasil, de sua autoria.
A
cerimônia de Beatificação acontecerá no dia 5 de março, na praça de São
Pedro, em Roma. A celebração será presidida pelo Papa. O Cardeal Dom
Eugênio Sales, filho do Rio Grande do Norte, presidirá, numa Igreja de
Roma, a missa em ação de graças pela beatificação dos Protomártires
brasileiros, os primeiros que derramaram o sangue pela fé em nossa
Pátria e cujo martírio é reconhecido oficialmente pela Igreja. Fala-se
que um grande monumento será construído no local onde aconteceu o
martírio de Uruaçu. (Com informações do Jornal Missão Jovem).
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