04 junho 2013
Onde está o teu irmão? - A guerra é loucura. É o suicídio da humanidade
«A guerra é loucura. É o suicídio da humanidade. É um acto de fé no dinheiro, que para os poderosos da terra é mais importante do que as pessoas». Porque «por detrás de uma guerra há sempre pecados: existe o pecado da idolatria, o pecado que leva a explorar os homens, a sacrificá-los no altar do poder». O Papa Francisco não usa meios-termos: com determinação e clareza, na sua linguagem simples e directa, denuncia a loucura dos conflitos que ensanguentam a humanidade. E fá-lo duas vezes no espaço de poucas horas, na manhã de domingo, 2 de Junho. Anteriormente, celebrando a missa com o grupo de militares italianos e familiares dos jovens que perderam a vida em missões de paz, sobretudo no Afeganistão; e depois durante o Angelus, com os numerosos fiéis na praça de São Pedro, aos quais pediu uma oração silenciosa precisamente pelas vítimas de guerra e os seus familiares.
Por isso no dia em que a Itália celebrava a festa da República, o Pontífice recebeu na capela da Domus Sanctae Marthae a parte mais sofredora da chamada Igreja com as estrelas: treze soldados feridos ao longo dos últimos anos e os familiares das vítimas, num total de cerca de oitenta pessoas. Participaram também dois voluntários, que coordenam os encontros promovidos pelo ordinariado militar para a Itália. No final da celebração o Papa Francisco deteve-se prolongadamente com cada um dos presentes, abraçando-os e escutando com emoção as suas histórias. Algumas das quais de grande sofrimento.
Na homilia, como de costume nestas circunstâncias, o Papa Francisco comentou, improvisando, as leituras do dia. «Na primeira – disse referindo-se ao trecho do primeiro livro do Reis (8, 41-43) – ouvimos a oração do rei Salomão no dia da consagração do templo. Ele disse: Senhor, isto é para todos. E disse: Senhor, ouça também o estrangeiro que não faz parte do povo de Israel, se ele vier de uma terra distante por causa do teu nome; escuta-o». Aliás, Salomão queria que o seu templo «fosse uma casa universal, para todos: a casa universal da oração». Por conseguinte, pede ao Senhor «que vá ao encontro de todos os que rezam naquele templo: de todos». Porque «o Senhor ouve a oração de todos» acrescentou.
Sucessivamente, o Pontífice meditou sobre o Evangelho de Lucas (7, 1-10), «onde – explicou – o Senhor ouve em particular a oração de uma pessoa. O centurião cujo servo estava doente e pede a Jesus que o cura». Sublinhou que «o nosso Deus é assim: ouve a oração de todos, mas não como se fossem anónimos, não: de todos e de cada um. O nosso Deus é o Deus do grande e do pequeno. O nosso Deus é pessoal: o nosso Deus escuta cada um de nós, porque o Senhor escuta com o coração, ama com o coração». Portanto, não é possível amar todos genericamente.
Em seguida, a reflexão sobre a guerra, com palavras dirigidas dircetamente aos presentes: «Nós estamos aqui hoje para rezar pelos nossos mortos, pelos nossos feridos, pelas vítimas da loucura que é a guerra: é o suicídio da humanidade, porque mata o coração; mata precisamente onde está presente a mensagem do Senhor, mata o amor. Porque a guerra provém do ódio, da inveja, da vontade de poder, e também da preocupação de ter cada vez mais poder. Também na história muitas vezes constatamos que os grandes da terra querem resolver os problemas locais, assim como as crises económicas no mundo inteiro com a guerra». Por que motivo? «Porque o dinheiro é para eles mais importante do que as pessoas; e a guerra é precisamente isto: é um acto de fé no dinheiro; nos ídolos, nos ídolos do ódio; no ídolo que leva a matar o irmão; leva a matar o amor», foi a resposta do Santo Padre.
A este propósito, o Papa Francisco recordou a pergunta de Deus a Caim, que por inveja matou o seu irmão Abel: Caim, onde está o teu irmão? «Hoje podemos ouvir esta voz: o nosso Pai Deus chora, chora devido a esta loucura, e diz a todos nós: onde está o teu irmão? Diz a todos os poderosos da terra: onde está o vosso irmão? O que fizestes?». Por isso, convidou a rezar «ao Senhor para que afaste de nós todos os males» e a repetir «com dor, mas também com lágrimas, com as lágrimas do coração: escutai a nossa prece, Senhor, tende misericórdia de nós, porque estamos tristes, angustiados; olhai para a nossa miséria e o nosso sofrimento e perdoai todos os nossos pecados. Podemos estar certos de que o Senhor nos escutará. Algo fará para nos dar o espírito de consolação. Porque por detrás de uma guerra há sempre pecados: existe o pecado da idolatria, o pecado de explorar os homens, de os sacrificar no altar do poder.
No final da missa foi recitada a oração pela Itália escrita por João Paulo II a 15 de Março de 1994 e o arcebispo Vincenzo Pelvi, ordinário militar, que concelebrou com o Papa, apresentou ao Pontífice o dom oferecido pelo ordinariado militar: uma imagem em terracota de são José trabalhador que mostra as ferramentas de carpinteiro ao menino Jesus, o qual tem nas mãos um cesto com pregos, martelo e alicates, que serão os instrumentos da sua crucifixão. Os presentes prepararam-se para o encontro com o Santo Padre com uma celebração do sacramento da reconciliação no dia anterior na Vila Aurélia. Depois, na tarde de domingo, nas capelas dos quartéis e de outras instituições militares, uniram-se à adoração eucarística contemporaneamente no mundo inteiro, presidida pelo Papa Francisco na basílica vaticana. (gianluca biccini)
De: news.va
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