Vejam que testemunho
consistente e fundamentado de um irmão em Cristo que buscou, até achar, a
verdade da Igreja de Cristo.
É um pouco longo, mas vale a
pena ler, pelo itinerário inteligente e lógico seguido por ele.
Detalhe: Ele é Professor de
História !
Robert
Ian Williams
“Como
você pôde fazer isto? É serio mesmo a sua conversão? Você agora idolatra Maria?
Como você pode contar os seus segredos mais íntimos a outro homem na confissão?
Por que você se converteu? Como você pode aceitar ensinamentos que não se
encontram na Bíblia?”
Estas
são algumas perguntas que tenho recebido desde que fui recepcionado na Igreja
Católica. À medida que vão passando os anos, têm se tornado mais frequentes
desde que decidi colocar os fatos no papel para informar os curiosos. Espero
que este pequeno resumo ajude os católicos a entender a mentalidade
“evangélica” e também ajude os evangélicos a pensar um pouco sobre o problema
central que jaz no coração deste assunto: a autoridade.
Minha
filiação à Igreja Católica não foi uma conversão paulina, como a ocorrida no
caminho de Damasco. Embora seja certo que Deus pode fazer coisas assim, meu
caminho para a fé romana foi uma experiência educativa e gradual. A conversão
é, em suma, um assunto espiritual, porém, muitos fatores podem contribuir para
que ocorra. Meu desagrado pela confusão em que se encontra a cristandade
evangélica foi o ponto de partida. Creio que foi a graça de Deus que me
permitiu discernir a debilidade desse sistema religioso.
Mas
antes que a minha insatisfação se fizesse sentir, estava eu muito feliz no
Cristianismo evangélico. Confiava em Cristo, acreditava que os meus pecados
seriam perdoados e pensava que conhecia os Evangelhos e o Novo Testamento.
Pensava também que todas as demais religiões estavam erradas e via a Igreja
Católica como uma igreja apóstata, cheia de corrupção medieval, que obscurecia
o Evangelho para a ruína das almas. Estava convencido que a Palavra de Deus na
Bíblia era a única autoridade para o crente (Sola Scriptura) e que eu era
justificado apenas por minha fé e nada mais que a minha fé (Sola Fide). Estes
eram para mim os principais lemas da batalha da Reforma. Quando encontrava
algum católico, ia logo mostrando a “verdade” e tentava levá-los ao
conhecimento de Cristo. Eu era tão anticatólico que me negava a orar na capela
existente na universidade onde dava aula. Sabia que a União Evangélica Cristã
buscava converter os católicos e pensava, então, que todo assunto católico era
nada mais que pura hipocrisia.
Porém,
a graça de Deus começava a operar em meu coração. Tudo começou com o tema do
batismo. Os cristãos evangélicos estão bastante divididos a este respeito.
Alguns aceitam o batismo de crianças e outros creem que o batismo é apenas para
o crente adulto. Estudei os fatos e não encontrei nenhuma referência explícita
ao batismo de crianças no Novo Testamento; assim, decidi investigar quanto
tinha sido inserida esta prática entre os cristãos. Será que poderia remontar
aos tempos dos Apóstolos ou tinha se infiltrado na Igreja durante os primeiros
séculos? Ao seu tempo, descobri que o batismo de crianças era claramente
apoiado pelo registro histórico. Se tivesse sido uma inovação, deveria então
existir algum protesto contra a sua introdução na Igreja. Não pude encontrar
nem um só grupo cristão anterior ao século XVI que rejeitasse o batismo das
crianças. E até descobri que estes primeiros cristãos batistas apenas aspergiam
a cabeça do adulto ao batizá-lo. Achei que a imersão (que também era um ponto
importante para alguns evangélicos) não tinha sido iniciado até o século XVII. Descobri,
então, que as igrejas batistas eram frágeis quanto ao rigor e a continuidade
histórica.
Assim,
rejeitei o batismo “apenas para adultos”. Para mim, isto era uma parte crucial
da verdade e comecei a tentar convencer os evangélicos batistas agora que tinha
conhecimento do erro de suas crenças. Alguns me disseram que eu estava obcecado
por um assunto de importância secundária. Isto me chocou! Como poderia um
mandamento solene de Jesus Cristo ser considerado como de importância
secundária? Fiquei assombrado quando o renomado líder evangélico Martyn
Lloyd-Jones, em seu livro “What Is an Evangelical?” (“O que é um Evangélico?”)
comentou sobre o assunto da desunião das igrejas evangélicas, dizendo: “Outro
assunto que devemos pôr na mesma categoria é a idade e o modo do batismo: a
idade do candidato e o modo de administrar o rito do batismo. Devo pôr, então,
na categoria das coisas que não são essenciais porque não se pode provar nem um
nem outro usando apenas as Escrituras. Lí livros sobre o tema durante 44 anos e
creio que sei menos agora do que sabia no começo. Portanto, enquanto afirmo –
junto com todos nós – que creio no batismo, porque é evidentemente uma ordem de
Deus, não devemos nos separar no que tange à idade do candidato e ao modo de
administrá-lo”.
Aqui
temos um homem que, crendo na autoridade da Bíblia como única condutora do
crente, não pôde estabelecer o padrão bíblico para o Batismo. Isto é o que eu
chamo de “aprender e não chegar ao conhecimento da verdade”. Ironicamente, na
mesma obra, Lloyd-Jones ensina a suficiência da Escritura e que o
Evangelicalismo é muito mais claro em sua lógica que o Catolicismo! Isto me fez
olhar para outras discordâncias que existem entre os evangélicos. Se fossem
apenas assuntos secundários, não haveria a necessidade de criar denominações
separadas, cada qual esgrimindo diferentes teorias para o retorno do Senhor,
para o significado da Ceia do Senhor, se o crente pode ou não pode perder a sua
salvação, ou as disputas sobre os dons carismáticos. A lista é longa.
A
minha formação acadêmica é a de historiador e, como tal, me concentrei na
História da Igreja. Não pude deixar de me assombrar quando vi que não podia
encontrar nem um só registro do cristianismo evangélico na Igreja anterior ao
século XVI. Nem mesmo os valdenses e os seguidores de Wyclif tinham ideia da
salvação apenas pela fé. Ambos os grupos participavam dos sacramentos da Igreja
Católica e passaram como movimentos de reforma dentro da Igreja e não como
igrejas separadas. Nenhum dos Padres da Igreja pregou a salvação somente pela
fé. O próprio Wyclif morreu enquanto participava de uma missa, sem ter sido
batizado como crente e contente com seu batismo católico que recebera quando
criança!
A teoria
de que a conversão do imperador romano Constantino no século IV deu início à
corrupção da Igreja é ainda mais inacreditável. Descobri que a Igreja primitiva
cria no batismo das crianças, na regeneração pelo batismo, nos bispos, na
sucessão apostólica, na presença de Cristo na Eucaristia, no sacerdócio
sacrificial, nas orações pelos falecidos e de um papel todo especial do bispo
de Roma. Tudo isto se encontra claramente séculos antes de Constantino. Nas
palavras do Cardeal Newman, “quem adentra na História, deixa de ser
protestante”. Não pude achar um só registro dos evangélicos bíblicos, um
grupinho de fiéis que se apegaram às crenças que caracterizam os evangélicos de
hoje: somente a Bíblia e justificação apenas pela fé. O tratamento evangélico
para a História da Igreja é superficial: nos fala de pessoas como Ambrósio,
Agostinho e Atanásio como se fossem cristãos que apenas empregavam a Bíblia,
ignorando completamente o contexto católico em que eles viveram. Classifico
isto como intelectualmente desonesto.
Descobri
que a história dos evangélicos está assentada sobre mitos. A Igreja Católica –
me afirmavam – tinha queimado as cópias da Bíblia. Pelo contrário, comprovei
que a Igreja Católica preservou a Bíblia, definindo o seu cânon e só queimou e
proibiu a leitura das edições que eram traduções inexatas e heréticas. Por
exemplo, Bíblias como a tradução de Tyndale, que ostentava notas de rodapé
atacando a Igreja e o Papa. Também descobri versões traduzidas para os idiomas
vernáculos vários anos antes da reforma alemã. Os Evangelhos foram traduzidos
para o anglo-saxão muito antes que o idioma inglês fosse formado!
Também
descobri que o famoso “Livro dos Mártires”, de John Fox, um católico apóstata
do século XVI, era impreciso. Muitos dos “mártires” durante o reinado de Maria
Tudor eram anti-ortodoxos, tendo sido queimados durante o reinado da rainha
Isabel, que era protestante. De fato, Fox apoiou um regime que torturou e
assassinou católicos que apenas queriam viver na fé dos seus antepassados.
Apoiou também um regime que queimou cristãos evangélicos como os batistas!
Foram cristãos protestantes os que perseguiram os pais do Puritanismo na
Inglaterra do século XIX e esse grupo, por sua vez, já estabelecido na América,
passou a perseguir os seus próprios companheiros de fé.
Eu
tinha aceito a falsa idéia perpetuada por Lloyd-Jones e outros mestres
evangélicos, que os católicos creem na revelação contínua. Descobri que, muito
pelo contrário, a doutrina católica ensina que a revelação pública terminou com
o que receberam os Apóstolos e que a fé foi entregue de uma vez aos santos. É
dever da Igreja, como “coluna e fundamento da verdade” (1Timóteo 3,15), a
interpretação e o discernimento do depósito original da fé. A Igreja Católica
não inventou a transubstanciação no século XII, nem inventou o dogma trinitário
no século IV. Como evangélico, fiquei perplexo ao me encontrar na mesma
situação dos Testemunhas de Jeová que afirmam que a palavra “Trindade” não se
encontra na Bíblia. Eu imaginava que a doutrina estivesse ali e o termo
simplesmente a definia. Porém, acabava tendo por problema o fato de não poder
usar este argumento para discutir a questão do Purgatório com um católico. Eu
acabava respondendo que o caso do Purgatório não podia ser definido claramente.
Mas esta era uma resposta bastante deficiente pois era subjetivamente
evangélica. Além disso, Lutero, Calvino, Wesley e uma certa quantidade de
outros reformistas “enxergavam” o batismo das crianças, enquanto que Spurgeon,
Billy Graham e muitos outros não o encontravam na Bíblia. O ensinamento
católico era mais lógico: Deus estabeleceu uma Igreja como árbitro final e não
pode ela ser culpada pela confusão. O desenvolvimento da doutrina é como a
revelação de um filme fotográfico: a imagem está no filme, mas à medida que o
tempo e as circunstâncias mudam, a imagem se torna mais visível.
Não
pude encontrar um só texto que afirmasse que apenas a Bíblia era suficiente. A
famosa passagem que afirma que a Escritura é útil (2Timóteo 3,16) significa
claramente que é um apoio, não que seja suficiente. Assim como é útil para mim
beber água regularmente, mas não é suficiente como alimentação completa. Não
pude encontrar um só versículo que ensinasse que a Palavra de Deus deveria ser
exclusivamente a palavra escrita. Mas encontrei Jesus honrando as tradições da
fé judaica de sua comunidade, que não se encontravam na Escritura; sua
condenação das falsas interpretações das tradições feitas pelos fariseus não
era uma condenação da tradição em si mesma, já que a Igreja que Ele fundou sobre
os Apóstolos aceitou tanto as tradições escritas [Escrituras] quanto as orais.
Nesse
momento decidi reexaminar a minha crença em Cristo. Seria possível alguém ter
sido enganado? Seria possível que Cristo fosse um falso Messias? Depois de
todos os judeus O terem negado, poderia o povo mais brilhante e durador do
mundo ter se equivocado? Portanto, comecei a ler apologética judaica contrária
ao Cristianismo, que centrava seus ataques principalmente afirmando que as
profecias sobre o Messias não tinham se cumprido; afirma ainda que Jesus nunca
declarou ser Deus e que os seguidores gentios acrescentaram “conceitos pagãos”
como o nascimento virginal e a Encarnação. Isto me fascinava porque se parecia
muito com as acusações que os anticatólicos fazem, dizendo que essas mesmas
coisas são acréscimos pagãos. Passei a ver isto como a culminância lógica da
teoria evangélica: se o Paganismo contaminou o Cristianismo, então como pode um
ensinamento divino e permanente ser comparável à incorruptível Torah? Outro livro
anticristão me levou ainda mais para essa direção ao me questionar: se a
religião de Cristo é a verdade, por que existem tantas igrejas cristãs
diferentes? Assim enxerga o Cristianismo o intelectual judeu: como um fracasso.
Então
voltei novamente a observar Cristo. Não poderia rejeitar sua divindade. Poderia
ver que o Novo Testamento ensinava que Ele é Deus e isto não era um acréscimo
pagão. O judaísmo moderno não é igual ao judaísmo da época de Nosso Senhor; é
algo que se desenvolveu com o tempo e que também se dividiu em seitas.
Inclusive, dentro do judaísmo ortodoxo há interpretações rabínicas que estão em
conflito. Continuei me apegando fervorosamente à minha crença no Cristianismo
“apenas com a Bíblia”. A forma de vida e a comunidade evangélicas são muito
acolhedoras e, para mim, os cultos católicos pareciam frios quando comparados.
Ao mesmo tempo, me desiludia cada vez mais da apologética anticatólica. Livros
como “Catolicismo Romano”, de Loraine Boettner (um clássico anticatólico),
apresentavam grosseiras distorções da realidade da doutrina e história
[católicas]. Lembro-me de ter lido um livro evangélico que ridicularizava a
doutrina católica da intenção sacramental. Na verdade, ridicularizava uma má
representação dessa doutrina. A interpretação evangélica clássica dos textos
petrinos cruciais, como Mateus 16, fundamenta-se em uma visão defeituosa e,
então, eu já podia vê-la claramente. O jogo de palavras entre “Petros” e
“petra” era periférico, uma vez que Nosso Senhor falava aramaico. A maioria dos
eruditos evangélicos de hoje aceita a visão de que Pedro é a pedra e que
recebeu as chaves da autoridade de uma maneira especial, pois assim como os
antigos reis de Israel delegavam suas chaves de autoridade ao seu principal ministro
ou vizir, Jesus designou Pedro como seu representante ou vigário. As chaves, em
qualquer cultura civilizada, representam poder. Me dei conta que distorciam os
escritos dos Padres da Igreja para fazê-los harmonizar com seus argumentos
anticatólicos.
Há
algumas pessoas que propõem a idéia de que os Padres da Igreja estão em
desacordo com a idéia de Pedro ser a pedra de que fala Mateus 16. Um exame
cuidadoso dos escritos patrísticos revela que se referem a diversos aspectos e
significados das Escrituras; assim como uma casa é construída sobre uma série
de alicerces, os escritores patrísticos observam os diferentes sentidos da
Escritura sem se contradizer em absoluto.
Ao
contrário do que anunciava o mito evangélico, encontrei aí evidência histórica
abundante para a presença de Pedro em Roma e o estabelecimento de seu Bispado.
Ao ouvir Nosso Senhor dizer [a Pedro] que a carne e o sangue não lhe tinham
revelado sua divindade, podemos ver o dom de Deus que é o Papado em sua forma
embrionária. Me surpreendeu encontrar, já desde o século I (quando o Apóstolo
João ainda vivia), que o bispo de Roma escrevesse à igreja de Corinto,
instruindo e advertindo seus membros que, se não considerassem o seu conselho,
estariam em grave perigo. Com o passar dos séculos, a evidência do Papado
aumenta. Então descobri que havia respostas razoáveis para as objeções
evangélicas. Lembro-me muito bem do comentário que li em um “livro de visitas”
de certa igreja anglicana; foi escrito, obviamente, por um visitante católico e
dizia: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”. Essas palavras que ficaram gravadas
na minha mente, eram as palavras de Ambrósio, proferidas no século IV. A igreja
anglicana pode ter conservado os edifícios católicos erguidos antes da Reforma,
porém, certamente, não conservou a antiga fé. Apesar de sua “cara de
Catolicismo”, a igreja anglicana do século XIX é protestante. Isso se manifesta
na ordenação de mulheres e outras aberrações que nela tomaram forma. O papel de
Pedro chegou a estar tão claro para mim, que nem sequer conseguia considerar a
pretensão das igrejas ortodoxas orientais de ser a verdadeira Igreja de Cristo.
Nessas igrejas (ou, melhor dizendo, nessas comunhões) pude apreciar uma formosa
liturgia, mas também uma falta de clareza magisterial. Por exemplo, até a
década de 1930, as igrejas cristãs rejeitaram claramente a anticoncepção como
uma coisa intrinsecamente imoral. Em 1930, a igreja anglicana a aprovou e
outras [igrejas] a seguiram a partir de então. Isso inclui os ortodoxos, que
também aceitam o divórcio e as segundas núpcias. Apenas a Igreja Católica
manteve uma posição firme nesses assuntos e isso sob o custo de perder a
Inglaterra no século XVI.
Os
ortodoxos abandonaram o sucessor de Pedro para se apegar ao poder imperial de
Constantinopla. Depositando sua confiança nos príncipes, colheram finalmente um
fracasso. Enquanto todas estas coisas me indicavam, sem sombra de dúvidas, que
a pedra da Igreja Católica era firme, o liberalismo de algumas pessoas dentro
da Igreja me perturbava. Então, ao ler a parábola da casa construída sobre a
pedra, me dei conta que a chuva e o vento a ferem também. Os excêntricos e os
dissidentes, porém, não podem demolir a casa; podem tirar-lhe pedaços da pedra,
mas não a pode destruir. Assim foi que descobri, paralelamente ao que ocorreu
com Nosso Senhor, que a oposição se concentra em três áreas principais. Durante
o ministério terrestre [de Jesus], as autoridades religiosas se horrorizaram
diante:
1. Das
suas declarações de ser Deus;
2. Do fato de que perdoava os pecados; e
3. De sua declaração que, para ter a vida eterna, deve-se comer de Seu Corpo e Sangue.
2. Do fato de que perdoava os pecados; e
3. De sua declaração que, para ter a vida eterna, deve-se comer de Seu Corpo e Sangue.
Tudo
isto continua sendo a razão de uma oposição virulenta entre os evangélicos.
Lembro-me muito bem que, quando era evangélico, ironizava o ensinamento
católico da confissão a um sacerdote, da crença na transubstanciação, na Missa,
na infalibilidade do papa e da Igreja. Lembro-me de ter refutado, afirmando que
apenas Deus poderia ser infalível.
Meu
exame cuidadoso das Escrituras me mostrou também que a doutrina católica sobre
Maria se fundamenta na Palavra de Deus e não é importada do Paganismo. O fato
de os pagãos terem cultuado deusas não invalida a crença em Maria, assim como o
fato de os pagãos terem realizado sacrifícios não invalida os sacrifícios
ordenados na Bíblia. Pude perceber que os católicos não a adoram mais que os
anglicanos adoram a Oliver Cromwell, quando estes colocam flores aos pés de sua
estátua nos dias comemorativos.
A
doutrina católica da comunhão dos santos chegou a ser para mim uma verdade
estabelecida. Se “a oração do justo tem muito poder” então aqueles que morreram
no Senhor, sendo espíritos perfeitos de homens justos, devem possuir um valor
superlativo para nós. Isto é ilustrado perfeitamente em Apocalipse 5, em que os
24 anciãos representam os santos que oferecem suas orações a Deus. Antes de
ingressar na Igreja Católica, uma das últimas linhas de resistência evangélicas
é levantar as vidas de certos católicos que são bastante desastrosas. Essa
objeção me foi dissipada ao ler Ronald Knox. Knox foi criado em um ambiente
profundamente evangélico e logo se converteu ao Catolicismo. Uma vez disse que
se ele esquecesse o guarda-chuva na entrada de um templo metodista, ao retornar
encontrá-lo-ia ainda ali; porém, não seria possível assegurar que o mesmo
ocorreria em um templo católico. Os metodistas usaram muitas vezes esta frase a
seu favor; contudo, na realidade, é um testemunho contrário a eles. Cristo veio
para salvar os pecadores e a rede da Igreja foi lançada para pescar todos os
homens. A Igreja não é um clube para leitores da Bíblia de classe média; a
Igreja de Jesus Cristo é uma poção misturada e o erro dos reformistas foi
acreditar que a Igreja deve ser composta 100% pelos eleitos de Deus.
Nosso
Senhor disse claramente que “muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”.
Ainda que seja certo que conheci alguns católicos bastante desviados da fé,
também é certo que a grande maioria dos católicos são pessoas de bem que querem
viver a vida em conformidade com os ensinamentos da Igreja. O fato de muitos
católicos desobedecerem os ensinamentos da Igreja só confirma as palavras de
Nosso Senhor: “A quem mais se dá, mais lhe será exigido”. São os católicos os
que terão um juízo mais severo, iniciado pela Casa de Deus, quando o Senhor, no
fim dos tempos, separar o trigo do joio.
Comecei
a perceber que, tal como os fariseus do tempo de Jesus, os evangélicos tinham
um ponto de vista superficial sobre a adoração de Jesus. Isto pode soar um
pouco duro, mas de fato muitos cristãos “bíblicos” acumularam uma série de
regras que condenam comportamentos certamente inofensivos, como se fossem
anticristãos. Primeiro, se favorece a opinião de que ingerir algo é pecado e
logo se ensina que Jesus bebeu apenas suco de uva, e que o vinho do milagre de
Caná não tinha teor alcoólico. A outro pode parecer que dançar é abominável.
Pode-se escrever uma longa lista de costumes semelhantes. Há evangélicos que
pensam que fumar é evidência de que alguém não é crente, mas Spurgeon,
comentarista batista do século XIX, fumava. Outros não jogam na loteria, mas
investem seu dinheiro na bolsa. É quase impossível criar um estereótipo do
crente evangélico, mas é possível dizer com segurança que a grande maioria
aceita a anticoncepção. Pagam o dízimo de seu ganho a Deus (o evangelismo não custa
barato a ninguém), mas não de seus corpos. Todo o sistema da “Sola Scriptura” é
subjetivo. Foi-me contada uma história sobre uma senhora a quem alguém
perguntou se acreditava realmente que ela e seu empregado eram os únicos
cristãos, ao que ela respondeu: “Bom… Não estou muito segura se Jaime é”.
Não
estou sozinho, pois nos últimos anos muitos evangélicos tradicionais
converteram-se à fé católica. E o fizeram ainda que o caminho para a Igreja
estivesse bloqueado por falsas representações semeadas pela oposição. Isto é
seguramente uma graça de Deus, pois sempre haverá oposição para aqueles que
quiserem cumprir perfeitamente as palavras de Nosso Senhor. A oposição provém
das forças do secularismo, do materialismo, do modernismo e de outras
filosofias. Tudo isto rejeita os ensinamentos que são peculiares à Igreja
Católica. A Igreja é a pedra pequena predita pelo profeta Daniel, que destruirá
a falsa imagem. É a semente que cresce até se tornar uma forte árvore. É o
caminho que Isaías profetizou e que os homens não poderão deixar de encontrar.
É a casa erguida sobre a rocha.
O
Cardeal Herbert Vaughan (1832-1903) resumiu com palavras muito sábias o que
usarei como corolário:
“É
prática comum dos opositores da Igreja Católica tentar frear as almas
apresentando-lhes uma multidão de dificuldades e objeções contra as doutrinas
da Igreja. Sobre isto, podemos dizer duas coisas: Primeiro, seria muito fácil
examinar esta lista de dificuldades e publicar um exame das mesmas, o que já
foi feito por doutos católicos em grandes obras. Porém, é óbvio que para
contender com tais problemas, deveria ser um teólogo ou passar toda a vida
pesquisando, já que é necessário refutar todas as acusações. Por outro lado,
temos as obras dos escritores anticatólicos, escritas para cegar ou confundir o
caminho. Obras compostas por calúnias, citações adulteradas e uma mistura
cuidadosamente dosificada de erro e verdade. Tais [obras] tentam, ao mesmo
tempo, golpear e alienar tanto no sentido moral quanto no sentido intelectual.
Se não conseguem total êxito assim, ao menos semeiam perplexidade, ansiedade e
o retardamento no caminho da busca de Deus. Porém, ao invés de ingressar em um
labirinto cheio de dificuldades e quebra-cabeças de objeções, a via mais curta
e satisfatória deverá ser eleita. Primeiro, encontrar o divino mestre, o pastor
supremo, o vigário de Cristo. Concentre todas as suas faculdades mentais e
morais na cabeça terrestre da Igreja de Deus. Essa é a chave para resolver esta
situação”
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