Caro
Internauta, A Congregação para a Doutrina da Fé, por ordem de Bento XVI,
tornou público um pequeno e precioso documento contendo respostas a
algumas questões sobre a Igreja. Não há aí nada de novo. Pelo contrário:
deseja-se somente reafirmar a doutrina do Concílio Vaticano II que
muitos, em nome do Concílio, insistem em deturpar e até mesmo negar. Vou
comentar cada parágrafo porque é muito importante que todo católico
compreenda bem! Um consolo que tenho é que, lendo os textos deste blog e
do site, você encontrará a mesmíssima doutrina! É meu propósito: servir
fielmente à Igreja, ajudando os irmãos a bem compreender e viver a
riqueza de nossa fé...
É
de todos conhecida a importância que teve o Concílio Vaticano II para
um conhecimento mais profundo da eclesiologia católica, quer com a
Constituição dogmática Lumen Gentium quer com os Decretos sobre o
Ecumenismo (Unitatis redintegratio) e sobre as Igrejas Orientais
(Orientalium Ecclesiarum). Muito oportunamente, também os Sumos
Pontífices acharam por bem aprofundar a questão, atendendo sobretudo à
sua aplicação concreta: assim, Paulo VI com a Carta encíclica Ecclesiam
suam (1964) e João Paulo II com a Carta encíclica Ut unum sint (1995).
O
sucessivo trabalho dos teólogos, tendente a ilustrar com maior
profundidade os múltiplos aspectos da eclesiosologia, levou à produção
de uma vasta literatura na matéria. Mas, se o tema se revelou deveras
fecundo, foi também necessário proceder a algumas chamadas de atenção e
esclarecimentos, como aconteceu com a Declaração Mysterium Ecclesiae
(1973), a Carta aos Bispos da Igreja Católica Communionis notio (1992) e
a Declaração Dominus Iesus (2000), todas elas promulgadas pela
Congregação para a Doutrina da Fé.
A
complexidade estrutural do tema, bem como a novidade de muitas
afirmações, continuam a alimentar a reflexão teológica, nem sempre imune
de desvios geradores de dúvidas, a que esta Congregação tem prestado
solícita atenção. Daí que, tendo presente a doutrina íntegra e global
sobre a Igreja, entendeu ela dar com clareza a genuína interpretação de
algumas afirmações eclesiológicas do Magistério, por forma a que o
correto debate teológico não seja induzido em erro, por motivos de
ambigüidade.
Observação minha:
Observe bem qual a preocupação da Santa Sé: apesar de o Magistério ter
feito várias intervenções neste período pós-conciliar, há vários
teólogos que insistem em sustentar teses confusas, ambíguas e até
contrárias à doutrina católica. Basta recordar o quanto criticaram a
Dominus Iesus. No entanto, não adianta delirar! A doutrina católica
sobre a Igreja é exatamente a que vai apresentada a seguir!
Primeira questão: Terá o Concílio Ecumênico Vaticano II modificado a precedente doutrina sobre a Igreja?
Resposta:
O Concílio Ecumênico Vaticano II não quis modificar essa doutrina nem
se deve afirmar que a tenha mudado; apenas quis desenvolvê-la,
aprofundá-la e expô-la com maior fecundidade.
Foi quanto João XXIII
claramente afirmou no início do Concílio. Paulo VI repetiu-o e assim se
exprimiu no ato de promulgação da Constituição Lumen Gentium: "Não pode
haver melhor comentário para esta promulgação do que afirmar que, com
ela, a doutrina transmitida não se modifica minimamente. O que Cristo
quer, também nós o queremos. O que era, manteve-se. O que a Igreja
ensinou durante séculos, também nós o ensinamos. Só que o que antes era
perceptível apenas em nível de vida, agora também se exprime claramente
em nível de doutrina; o que até agora era objeto de reflexão, de debate
e, em parte, até de controvérsia, agora tem uma formulação doutrinal
segura". Também os Bispos repetidamente manifestaram e seguiram essa
mesma intenção.
Observação minha:
Aqui, se procura explicar que a doutrina católica não foi modificada
pelo Vaticano II. Uma coisa é o progresso, o desenvolvimento orgânico da
doutrina – que sempre houve e haverá na história da Igreja; outra, bem
diferente é a adulteração, a modificação! A Congregação para a Doutrina
da Fé procura, portanto, deixar claro que a eclesiologia do Vaticano II
deve ser interpretada à luz da perene Tradição da Igreja. Como Bento XVI
tanto insiste, o Vaticano II não foi uma ruptura nem uma revolução, mas
um progresso na vida e na fé da Igreja de Cristo.
Segunda questão: Como deve entender-se a afirmação de que a Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica?
Resposta:
Cristo "constituiu sobre a terra" uma única Igreja e instituiu-a como
"grupo visível e comunidade espiritual", que desde a sua origem e no
curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e
permanecerão todos os elementos por Ele instituídos. "Esta é a única
Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos como sendo una, santa,
católica e apostólica […]. Esta Igreja, como sociedade constituída e
organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo
Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele".
Na Constituição
dogmática Lumen Gentium 8, subsistência é esta perene continuidade
histórica e a permanência de todos os elementos instituídos por Cristo
na Igreja católica, na qual concretamente se encontra a Igreja de Cristo
sobre esta terra.
Enquanto, segundo a
doutrina católica, é correto afirmar que, nas Igrejas e nas comunidades
eclesiais ainda não em plena comunhão com a Igreja católica, a Igreja de
Cristo é presente e operante através dos elementos de santificação e de
verdade nelas existentes, já a palavra "subsiste" só pode ser atribuída
exclusivamente à única Igreja católica, uma vez que precisamente se
refere à nota da unidade professada nos símbolos da fé (Creio… na Igreja
"una"), subsistindo esta Igreja "una" na Igreja católica.
Observação minha:
Muito bem articulada, muito equilibrada esta resposta! Vejamos: (1)
Explica que a Igreja de Cristo subsiste única e exclusivamente na Igreja
católica (aquela que está em comunhão com o Sucessor de Pedro e os
Bispos em comunhão com ele); (2) esclarece o que significa “subsistir”: é
a perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos
instituídos por Cristo para a sua Igreja. O decreto Unitatis
Redintegratio, do Vaticano II, diz quais são esses elementos. Eis
alguns: a profissão de fé em Jesus como Senhor e Salvador, a fé na
Trindade, a Palavra de Deus ouvida e proclamada segundo a Tradição
apostólica, os sacramentos, de modo particular o Batismos e a
Eucaristia, a sucessão apostólica dos Bispos, o ministério petrino, a
veneração da virgem Maria e dos Santos de Cristo, a vida da graça, a
caridade fraterna, os dons e carismas do Espírito Santo, o martírio, o
zelo missionário, a esperança na vida eterna... Todos estes elementos
fazem parte da Igreja de Cristo e nela não podem faltar. Ora, somente na
Igreja católica eles se encontram na sua totalidade. (3) Esta resposta
faz eco também à Declaração Dominus Iesus, que ensina não ser possível
falar em vários graus de subsistência: a subsistência é uma só e plena.
Em outras palavras: A Igreja de Cristo subsiste, permanece, continua de
modo completo somente na Igreja católica!
Terceira questão: Porque se usa a expressão "subsiste na", e não simplesmente a forma verbal "é"?
Resposta:
O uso desta expressão, que indica a plena identidade da Igreja de
Cristo com a Igreja católica, não altera a doutrina sobre Igreja;
encontra, todavia, a sua razão de verdade no fato de exprimir mais
claramente como, fora do seu corpo, se encontram "diversos elementos de
santificação e de verdade", "que, sendo dons próprios da Igreja de
Cristo, impelem para a unidade católica".
"Por isso, as próprias
Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se
pode dizer que não tenham peso ou sejam vazias de significado no
mistério da salvação, já que o Espírito se não recusa a servir-se delas
como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude
da graça e da verdade que foi confiada à Igreja católica".
Observação minha:
Note-se o compromisso com a verdade e, ao mesmo tempo, a delicadeza
ecumênica desta resposta. Primeiro, o texto explica que tanto faria
dizer: “A Igreja de Cristo subsiste na Igreja católica” quanto “A Igreja
de Cristo é a Igreja católica”. A questão é que afirmar simplesmente
“é” torna mais difícil compreender como fora da sua unidade visível
possam existir elementos eclesiais. O “subsiste” é mais compatível com a
doutrina segundo a qual fora da unidade da Igreja católica há elementos
de salvação. Em segundo lugar, o texto deixa claro que o Espírito Santo
utiliza também as comunidades não católicas na obra da salvação. Tudo
quanto essas comunidades possuam de realmente eclesial deriva da
plenitude católica e a ela conduzem!
Quarta
questão: Porque é que o Concílio Ecumênico Vaticano II dá o nome de
"Igrejas" às Igrejas orientais separadas da plena comunhão com a Igreja
católica?
Resposta:
O Concílio quis aceitar o uso tradicional do nome. "Como estas Igrejas,
embora separadas, têm verdadeiros sacramentos e, sobretudo, em virtude
da sucessão apostólica, o Sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais
continuam ainda unidas a nós por estreitíssimos vínculos", merecem o
título de "Igrejas particulares ou locais", e são chamadas Igrejas irmãs
das Igrejas particulares católicas.
"Por isso, pela
celebração da Eucaristia do Senhor em cada uma destas Igrejas, a Igreja
de Deus é edificada e cresce". Como, porém, a comunhão com a Igreja
católica, cuja Cabeça visível é o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, não
é um complemento extrínseco qualquer da Igreja particular, mas um dos
seus princípios constitutivos internos, a condição de Igreja particular,
de que gozam essas venerandas Comunidades cristãs, é de certo modo
lacunosa.
Por outro lado, a
plenitude da catolicidade própria da Igreja, governada pelo Sucessor de
Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, encontra na divisão dos
cristãos um obstáculo à sua realização plena na história.
Quinta
questão: Por que razão os textos do Concílio e do subseqüente Magistério
não atribuem o título de "Igreja" às comunidades cristãs nascidas da
Reforma do século XVI?
Resposta:
Porque, segundo a doutrina católica, tais comunidades não têm a
sucessão apostólica no sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas
de um elemento essencial constitutivo da Igreja. Ditas comunidades
eclesiais que, sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não
conservam a genuína e íntegra substância do Mistério eucarístico, não
podem, segundo a doutrina católica, ser chamadas "Igrejas" em sentido
próprio.
Observação minha:
Aqui, nestas duas últimas perguntas, é importante reter o seguinte: (a)
Os católicos denominam “igrejas” em sentido teológico somente aquelas
comunidades que conservaram a plena sucessão apostólica dos Bispos e a
Eucaristia plena. É o caso das Igrejas particulares (dioceses) ortodoxas
e vétero-católicas. Teologicamente, não existe um Igreja ortodoxa, mas
Igrejas (dioceses) ortodoxas, que não estão em comunhão plena com o
Bispo de Roma e, assim, não estão na plena unidade da Igreja de Cristo.
Têm elas uma ferida grave: falta-lhes o ministério petrino, que Cristo
quis na sua Igreja. (b) Os católicos denominam “comunidades eclesiais”
aquelas denominações surgidas da Reforma Protestante: faltam-lhes a
sucessão apostólica dos Bispos e a Eucaristia plena. Ora, sem o
ministério ordenado na sua plenitude e sem a Eucaristia não há Igreja;
há comunidades que possuem elementos da Igreja de Cristo! (c) É digno de
nota que o texto esclarece que também a Igreja católica se ressente de
tais divisões, pois que são um obstáculo à sua plena realização na
história. O ecumenismo, busca da unidade visível de todos os cristãos,
é, pois, uma necessidade também para o bem dos católicos.
De: domhenrique.com.brSiga-nos no Facebook. Curta essa página==>>