16 agosto 2014

Ele, protestante, e ela, hinduísta, chegaram juntos à fé a tempo de entender a morte de seu bebê.


Ryan e Anumeha se conheceram porque compartilhavam o desejo de ajudar aos mais necessitados com a criação de seus próprios negócios.



O pequeno Ezra morreu dois dias depois da data prevista para seu nascimento. Anumeha sabia que algo não estava bem porque o bebê deixou de mover-se. Logo souberam que ele fora estrangulado com o cordão umbilical. Ela e seu marido, Ryan Galloway, tiveram-no nos braços ao menos por um tempo quando os médicos provocaram o parto. Era a primeira grande prova para sua fé católica, poucas semanas antes de seu ingresso formal na Igreja, na Vigília Pascal da última Semana Santa. Mas a superaram: não receberam a tragédia com ira ou desespero, mas com uma certeza em meio à dor: “No mais fundo do nosso coração cremos na ressurreição. Um dia voltaremos a ver nosso filho”, confessam num vídeo em que dão a conhecer seu itinerário espiritual.





Dois itinerários distintos que se confluíram



Ele nasceu em Sioux City (Iowa, EUA) no seio de uma devota família batista. Seu avô havia sido missionário na África e seus pais o levavam à igreja às quartas e aos domingos, inscreviam-no em acampamentos de verão cristãos e, sempre que podiam, iam ouvir o célebre pregador evangélico Billy Graham. “Destilava-se veneno contra a fé católica”, recorda Ryan, que tem agora 30 anos, porque os católicos rezavam aos santos e praticavam rituais supostamente sem base bíblica.



Anumeha Jhunjhunwala, que tem agora 27 anos, vivia em Calcutá (Índia) e era, como todos os seus, de religião hinduísta, e rezava ao levantar-se e ao deitar-se a seus antepassados no pequeno templo doméstico. Proveniente de uma família de classe alta, frequentava o prestigioso colégio privado protestante, de modo que conhecia bem o Pai-Nosso, como também hinos clássicos como Amazing Grace. Em relação à Igreja, havia ouvido falar de Madre Teresa.



Os dois jovens se encontraram nos Estados Unidos, num café da cidade de Des Moines (Iowa), em 2009, em torno de um interesse comum. Ryan trabalhava para a empresa de auditoria Ernest & Young e estava fazendo pós-graduação na Universidade de Drake, onde ela queria aprender o mesmo que ele: como ajudar os mais necessitados a abrir seus próprios negócios mediante microcréditos.



Começaram a falar de sua fé e de sua comum vocação, e procuraram uma igreja cristã não-denominacional, onde ela começou a viver um sentido de comunidade de fé mais privado do que o que se praticava na sua terra natal.



Pesadelos”... Vestida como Madre Teresa



Quando Anu disse a seus pais que estava para tornar-se cristã, foi para eles “devastador”. Os telefonemas da Índia se tornaram menos frequentes, as conversas mais curtas, criou-se uma distância entre ela e seus pais: “Tinham pesadelos vendo-me vestida como Madre Teresa”, recorda a jovem. Sua mãe confirma: “A verdade é que pensei que havia perdido minha filha para sempre”.



Por isso não lhes agradou ver aparecer aquele ruivo magro, Ryan, em sua porta, quando voltou com ele em 2009 para pôr em marcha um projeto de microcréditos em Calcutá. Mas logo gostaram da tranquilidade e da amabilidade do rapaz e, em 2010, em uma segunda estada, a mãe de Anu foi ao ponto: “Quando vão se casar?”.



Era justamente o motivo desta viagem, de modo que com a exigida permissão, contraíram matrimônio em novembro de 2011 na catedral anglicana de São Paulo, em Calcutá, à qual compareceram também os pais de Ryan. Para os familiares de Anu era a primeira vez que punham os pés num templo cristão.



O lugar: a missa, “igual em todas as partes”.



Durante a lua de mel exploraram sua fé. Visitaram igrejas em Londres, Paris e Roma. Foi ali que começaram a ver com clareza. Foram escutar o Papa Bento XVI junto com uma multidão de pessoas de todos os países, da Índia inclusive. E algo chocou Anu, que havia visitado junto com seu marido igrejas católicas em Des Moines: “A missa era a mesma em todos os lugares do mundo. Isso te fazia sentir realmente em casa seja em Paris ou em Roma. O que se dizia em francês em Paris, havia sido ouvido em Des Moines algumas horas antes”. “Então compreendemos”, acrescenta Ryan, “que formávamos uma comunidade com o resto do mundo”.



Decidiram então fazer-se católicos... e cabia dizê-lo aos pais dele. Foi tão “devastador” como quando Anu fez o mesmo com os seus pais em sua primeira viagem em direção à fé. “Ryan havia escolhido ir contra ao que lhe havíamos ensinado”, lamenta o pai do jovem. Sua mãe explica seu mal-estar de forma mais teológica: os católicos creem que para ir ao céu devem realizar certos ritos, assim como boas obras, para ganhar uma graça que os protestantes creem que seja oferecida livremente a todos.



Ryan já tinha formação e lhes rebateu os argumentos com a história da Reforma nas mãos, mas não conseguiu convencê-los. Ele arguia poderosamente: as igrejas protestantes – alegava – amparam-se no carisma do pregador; as católicas, na Eucaristia.



O jovem casal, que então trabalhava no escritório do senador Jack Hatch, de Iowa (democrata e protestante), começou a formar-se na fé através de um catecismo de adultos a fim de se prepararem para o batismo, a comunhão e a confirmação. Foi então que Anu ficou grávida.



Surpresa em meio à tragédia.



Escolheram o nome, Ezra, e a data do batismo: a mesma que a do seu. Mas não eram os planos de Deus.



Quando os pais de Ryan e de Anu chegaram para o enterro do bebê, de seu neto, estavam destroçados e preparados para encontrar seus filhos no pior estado possível. Daí sua surpresa.



“Nós os havíamos subestimado”, admite a mãe de Anu, “recebeu-nos um casal muito tranquilo e inteiro. Eu estava preocupada com que notassem minha debilidade, minha ansiedade, meu coração destroçado. E ali estavam eles: acabavam de perder todo seu mundo, e se lhes via em paz. Perguntei-me: de onde vem esta paz?”.



Terminado o funeral, Ryan tomou o pequeno féretro e ele próprio o levou nos braços até o cemitério. Todos ficaram impressionados com a Missa, durante a qual não puderam deixar de contemplar o grande crucifixo que a presidiu: “Era como se os olhos de Jesus os mirassem fixamente. Sentiram-no ali, assumindo a dor de todos eles”, conta Mike Kilen, ao relatar a história. Sentiram também que havia uma comunidade apoiando seus filhos neste terrível momento, e um amável sacerdote oficiando a missa por alguém que pouco havia vivido: “Tudo demonstrava”, explica Ryan, “que era um ser humano que merecia um enterro apropriado”. Os pais de Anu e de Ryan compreenderam então um pouco melhor o CATOLICISMO.



Ao chegar ao cemitério, a mãe de Anu entendeu que um dia sua pequena e Ryan jazeriam sob a mesma terra que Ezra, sob a mesma cruz que agora adornava sua tumba. E entendeu melhor o “veremos o nosso filho” que consolava o casal.



“Toda a razão de ser de nossa fé”, afirma Ryan, “é que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou dos mortos”. Por isso sorria com seu filho morto nos braços, ciente de que um dia se reuniriam com ele.



O padre Zachary Kautzky, seu pároco, diria depois que ao vê-los no hospital com Ezra se recordou da Pietà de Michelangelo: “Disse-lhes que o Pai sabia o que é perder um Filho, e que a Santíssima Virgem Maria sabia o que é perder um Filho. Deus sabe o que significa”. O sacerdote ficou impressionado ao vê-los: “Sua ternura embalando o bebê, a fortaleza de Ryan, a amabilidade de Anu... eram impactantes”.



Quando traçou o sinal da Cruz na fronte do bebê morto, Anu compreendeu que essas mãos haviam sido consagradas pelas mãos dos sucessores dos apóstolos e as deles pelas mãos do Redentor. De alguma forma Jesus havia tocado Ezra. Isto bastava para a esperança.




Tradução: OBLATVS


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