29 outubro 2015

Padre Douglas Bazi, sobreviveu a bombas, ao disparo de morteiros e esteve em cativeiro durante nove dias



A surpreendente história do padre Douglas Bazi

Sobreviveu a bombas, ao disparo de morteiros e esteve em cativeiro durante nove dias. O torturaram, quebraram seus dentes e queimaram o seu corpo com pontas de cigarros. Nem água lhe deram... Desses nove dias de horror, o padre Douglas gosta de lembrar apenas as dez argolas das algemas que lhe prendiam suas mãos: “Foi o mais belo rosário que já rezei em toda a minha vida.”
47 anos, uma voz tranquila e um olhar sereno. Ninguém imagina assim a sua história, o sofrimento por que passou. O padre Douglas não gosta de falar de si mesmo. “Não sou nenhum herói”, diz ele, mas, no entanto, já sobreviveu a dois atentados à bomba e esteve nove dias em cativeiro, no ano de 2006, em Bagdá, capital do Iraque. O capturaram em uma das principais avenidas da cidade. O jogaram dentro de um carro e o vendaram. Se tentasse ver para onde estava indo seria imediatamente morto. Os sequestradores queriam 1 milhão de dólares de resgate. Raptar cristãos no Iraque pode ser bem lucrativo. Neste caso, não houve dinheiro. O padre Douglas acabou por ser libertado a troco de nada, mas as marcas desses dias terríveis ficaram para sempre. Até hoje. Até agora.

O CATIVEIRO


Foram nove dias sem comer nem beber água. Foram mais de 200 horas de suplício, de tortura. Foi queimado com pontas de cigarro e muito agredido a ponto de ter dentes e o nariz quebrado. Todo tempo algemado. O padre Douglas Bazi, quando recorda esses dias em que a sua vida esteve por um fio, prefere se lembrar apenas dessas algemas. “Foi o mais belo rosário que já rezei em toda a minha vida.” Essas algemas, que foram colocadas para prender os seus movimentos, libertaram o seu espírito. “Tinham exatamente dez argolas.” Os torturadores podiam bater, queimar o corpo, gritar no ouvido, privar de comida e de água. Podiam até ameaçar sua vida, encostando – como fizeram tantas e tantas vezes – o cano de uma pistola em sua cabeça. Fizeram isso tudo e nunca repararam, nem podiam reparar, que os dedos do padre Douglas iam acariciando as argolas das algemas, numa oração ininterrupta de “ave-marias”. Batiam em seu corpo mas não podiam prender a sua alma.

DIAS DE TUMULTO


O padre Douglas tem várias cicatrizes desses dias de terror e dos vários atentados que já sofreu. Porém, não gosta de falar de si. Prefere falar dos outros, dos milhares de cristãos que estão sendo expulsos do Iraque. O padre Douglas nunca conheceu verdadeiramente dias de paz no seu país. Quando criança houve a guerra com o Irã. Depois foi a invasão do Kuwait, a guerra do Golfo, a queda de Saddam Hussein… Só memórias de guerra. E durante todo esse tempo, aos poucos, os cristãos foram perdendo direitos e se tornaram cidadãos de segunda categoria. Nem nos documentos de identidade - que trazem o nome, a idade, o sexo e a religião da pessoa -, são identificados como cristãos. São apenas os “não-muçulmanos”. São o povo do padre Douglas. “São a minha gente”, costuma dizer.

IGREJA DE SANGUE


O padre Douglas vive hoje em Ankawa. Ele é um refugiado entre refugiados. Como milhares de cristãos também precisou fugir de Mossul perante o avanço dos jihadistas do “Estado Islâmico”. Apesar de tudo o que já passou, dos dias de cativeiro, das bombas que caíram perto dele, da explosão de morteiros junto à igreja enquanto celebrava a Missa, das cicatrizes que guarda no corpo... Apesar de tudo isso o padre Douglas tem apenas uma preocupação: ajudar o povo a sobreviver a estes dias de provação. “Esta é uma Igreja de sangue. Pertenço a uma Igreja que pode ser chamada de sangue. No meu país, se alguém fizer um buraco para procurar petróleo, vai descobrir sangue de cristãos. Porém, o petróleo é mais caro do que o sangue dos mártires.”

GRITO DE AJUDA


Em Ankawa, padre Douglas tem sob a sua responsabilidade a vida de mais de 100 famílias cristãs. Refazer vidas é uma tarefa muito difícil. Quase tão impossível como esquecer as marcas da violência que ainda perduram no corpo e na memória de tantos cristãos. A Ajuda à Igreja que Sofre apoia diretamente o trabalho do padre Douglas junto dos que estão no campo de refugiados de Mar Elia, em Ankawa. Todos eles perderam tudo. Provavelmente será impossível o retorno às suas casas, às suas aldeias. No Iraque, para os Cristãos, não há regresso possível ao passado e o futuro é uma dúvida terrível. Nestes dias de pavor, o padre Douglas tenta consertar vidas, fazendo verdadeiros milagres com o pouco que tem. Os Cristãos, no Iraque, vivem “permanentemente numa Sexta-feira Santa”, diz ele. As suas palavras são um verdadeiro grito de ajuda. “Se têm algum poder e vontade para salvar o meu povo, por favor, não parem. Façam alguma coisa. Por favor, salvem-nos!”


De: ais.org.br

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