19 novembro 2011

Pais conscientes de sua missão transmitem aos filhos que aos direitos correspondem deveres

O bambuzal 

Plantada a semente do bambu nada se vê por 5 anos. O crescimento é subterrâneo. Enquanto um brotinho desabrocha, robustecem-se as raízes que se estendem debaixo da terra, na vertical e horizontal. No 6º ano o bambu cresce para valer e atinge até 25 metros de altura. Assim é o processo de ensino, aprendizado e habilidade da criança. Desde a sua tenra idade a criança deve ser educada, disciplinada, contando com estímulos e limites. Pais conscientes de sua missão transmitem aos filhos que aos direitos correspondem deveres. Isso se aprende na prática, com trabalho. Pequenos ou maiores afazeres domésticos educam. Não prejudicam, não matam ninguém, nem se identificam ou se confundem com trabalho infantil ou, pior, trabalho escravo.
Dar tudo nas mãos dos filhos, sem lhes outorgar e cobrar responsabilidades, é o mesmo que inverter a ordem natural. Pai que não ensina o filho a trabalhar deforma-o ou o transforma num vadio. Filhos se educam com o exemplo dos pais que cultivam hábitos sadios, com amor e disciplina. Pais que ensinam os filhos a ter objetivos na vida os orientam ao enfrentamento de dificuldades e superação de obstáculos inevitáveis. Tudo isso faz parte do processo de crescimento e maturidade de cada pessoa. Os filhos deverão aprender a enfrentar a vida dura, evitando que cometam erros irreversíveis.
A Constituição Federal legisla sobre trabalho infantil, proibindo-o. Igualmente fazem a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Ministério do Trabalho e Emprego concedeu 33.173 autorizações judiciais permitindo o trabalho de crianças e adolescentes entre 2005 e 2010. O que não se admite é trabalho escravo, explorado em muitos casos, exercido em condições precárias e, pior, ignorando os estudos ou abandonando a escola. Se crianças precisam ajudar à família a se manter, o questionamento volta-se ao destino e à finalidade do “bolsa família”.
O tema é polêmico. De um lado, num país continental, não existe infraestrutura que atenda às reais necessidades da escola de qualidade nos rincões mais distantes. Escola de dois turnos, então, nem pensar. De outro lado, pré-adolescentes (ao menos) de 14 anos não são mais criancinhas ingênuas. Seria muito útil para a sua formação e desenvolvimento integral o aprendizado de um ofício, sem deixar de estudar e sem queimar etapas essenciais. O dilema abre-se às ponderações das pessoas de bom senso.

Dom Aldo Pagotto

Arcebispo Metropolitano da Paraíba - PB

 

Fonte: CNBB.com.br 


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