12 abril 2012

Qual é a diferença entre julgar o outro e corrigir fraternalmente?


A correção fraterna não é a mesma coisa que julgar alguém, quando é feita com espírito de caridade e com a intenção de ajudar o nosso próximo a “seguir mais retamente o caminho do Senhor”. Nunca devemos condenar os outros ou considerar-nos moralmente superiores, mas estamos obrigados, como cristãos, a corrigir o próximo e deixar que ele nos corrija.
A correção fraterna é um ato de caridade e uma das muitas maneiras de mostrar preocupação pela saúde espiritual dos outros. Apesar de ser uma prática que remonta à época de Cristo, foi bastante esquecida nos últimos tempos.


Quando pensamos em atos de caridade, muitas vezes nos centramos nas “obras corporais de misericórdia”, que se dirigem às necessidades físicas do nosso próximo – como dar de comer a quem tem fome, visitar os doentes etc.

Assim como Bento XVI afirma em sua Mensagem para a Quaresma 2012, há uma tendência a ser muito sensível “ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos ”.

“Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma, tendo em vista o seu destino derradeiro”, disse.

O Santo Padre sugere, portanto, um caminho bastante “esquecido”, o de buscar o bem-estar espiritual dos outros: “a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna”.

A correção fraterna é definida pela Catholic Encyclopedia como a “advertência ao próximo, por parte de outro, com o propósito de que emende sua conduta pecaminosa ou, se possível, previna-a”. O Catecismo da Igreja Católica inclui que é uma exigência da caridade (n. 1829).

Tanto a Escritura como a Tradição exortam claramente os cristãos a exercerem a correção fraterna. Em Mateus 18, 15-18, Jesus diz: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão".
Fontes / referências:

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2012

Indicar as faltas do nosso próximo pode ser um grande serviço, mas somente quando o fazemos por amor e com o desejo de ajudá-lo a “seguir mais retamente o caminho do Senhor”. Além disso, antes de mostrar as faltas dos outros, é preciso garantir que estamos preparados para deixar que eles nos corrijam também.


A repreensão cristã “nunca há de ser animada por espírito de condenação ou censura – esclarece Bento XVI em sua mensagem para a Quaresma 2012. É sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão".

O Papa explica que a correção fraterna deveria ser uma rua de duas vias e recorda “que 'sete vezes cai o justo' (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8)”

“É um grande serviço ajudar – e deixar-se ajudar – a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor”, diz o Papa.

O capuchinho Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, comentando a passagem de Mateus 18, 15-20, afirma que “não só existe a correção ativa, mas também a passiva; não só existe o dever de corrigir, mas também o dever de deixar-se corrigir. E aqui é onde se vê se é suficientemente maduro para corrigir os outros”.

“Quem quiser corrigir alguém, tem de estar disposto a ser corrigido. Quando você vê que uma pessoa recebe uma observação e escuta que responde com simplicidade: 'Você tem razão, obrigado por ter me dito isso!', saiba que está diante de uma pessoa corajosa”, afirma Cantalamessa.
Fontes / referências:

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa sobre a correção fraterna

Em uma cultura relativista, a “correção fraterna” pode parecer um julgamento. Mas, de fato, estamos chamados a julgar os atos, ainda que só Deus possa julgar as pessoas. Devemos reconhecer que nem todas as escolhas são boas, e a correção fraterna deveria ser uma consequência dessa percepção.


No contexto relativista, em que se nega a existência da verdade e do erro, pode parecer inconcebível que uma pessoa corrija a outra. A correção fraterna, no entanto, se sustenta em certos princípios, incluindo: primeiro, a consciência de que a verdade existe e que os atos às vezes são objetivamente errôneos; segundo, a compreensão de que os seres humanos estão atingidos pelo pecado, mesmo tendo sido criados para a salvação eterna.

Esses princípios não são mais reconhecidos pela sociedade. Hoje – como observou o cardeal Joseph Ratzinger em sua famosa homilia da missa de abertura do conclave em que seria eleito Papa – reina uma “ditadura do relativismo”.

Os seguidores desta ditadura são analisados por William Gairdner em "The Book of Absolutes: A Critique of Relativism and a Defense of Universals". O autor observa que as pessoas “educadas” hoje “preferem se distinguir orgulhosamente pela ausência de opiniões e valores morais ‘rígidos’, por ser alguém ‘tolerante’ e ‘aberto’”.

“Uma pessoa como essa geralmente professará alguma variante do relativismo, ou dirá, como uma filosofia pessoal: ‘do que é meu cuido eu, do que é seu cuida você’. Muitos nesta linha de pensamento se consideram exemplares de uma iluminada atitude à qual a humanidade custou muito a chegar, e quando pressionados, admitirão se sentir ligeiramente superiores a todas essas pobres almas das gerações precedentes, forçadas a se curvar a obrigações morais e religiosas”.

Para corrigir fraternalmente o irmão, deve-se reconhecer a existência da verdade, e também o acerto ou equívoco de um ato. Não se trata de um convite a fazer julgamentos, ou a tentar julgar o outro como só Deus pode.

Monsenhor Charles Pope, da arquidiocese de Washington, autor de um blog no site da diocese, explica: “Há certos julgamentos que estamos proibidos de fazer. Por exemplo, não podemos dizer se somos melhores ou piores que os demais. Tampouco podemos compreender sempre (e julgar) a culpabilidade última ou as intenções culpáveis de outra pessoa como se fôssemos Deus”.

Contudo – prossegue –, “nem todo juízo está proibido, alguns juízos são obrigatórios. A correção do pecador é tão caritativa como virtuosa”.

“Não podemos permanecer em silêncio diante do mal”, afirma Bento XVI, na mensagem para a Quaresma de 2012. “Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem”, afirma o Papa.

Fonte: Aleteia.org

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