(02/06/12)
No encontro com as autoridades milanesas, Bento XVI reflectiu sobre as
responsabilidades e deveres de quem exerce o poder. E partiu, para tal,
da experiência e do exemplo de Santo Ambrósio, que quanto foi escolhido
para bispo de Milão, no século IV – recordou o Papa – era governador
civil da Cidade, responsável, portanto, da ordem pública e administrador
da justiça. Bento XVI deteve-se, portanto, sobre alguns princípios que
ele seguia e que continuam válidos para quem é chamado a um lugar de
direção na vida política.
Antes de mais, Santo Ambrósio recorda
que “a instituição do poder deriva de tal modo de Deus, que aquele que o
exerce, é ele próprio ministro de Deus”. Palavras que poderiam parecer
estranhas aos homens do terceiro milénio, mas que indicam uma verdade
central sobre a pessoa humana, sólido fundamento da convivência social:
nenhum poder do homem se pode considerar divino. Nenhum homem é padrão
de um outro homem. Ambrósio recorda-o corajosamente ao imperador, quando
lhe escreve: “Também tu, augusto imperador, sei um homem!”.
Outro elemento sublinhado por santo Ambrósio e recordado por Bento XVI: a
primeira qualidade de quem governa é a justiça, virtude pública por
excelência, porque diz respeito ao bem comum da toda a comunidade. Mas
não basta. Deve ser acompanhada de outra qualidade: o amor pela
liberdade, que ele considera elemento decisivo para distinguir os bons e
os maus governantes. “Os bons amam a liberdade, os outros, a servidão”.
Contudo - observou Bento XVI - liberdade não é arbítrio:
“liberdade não é arbítrio do indivíduo, mas implica a responsabilidade
de cada um. Encontra-se aqui um dos principais elementos da laicidade do
Estado: assegurar a liberdade para que todos possam propor a sua visão
da vida comum, sempre, porém, no respeito do outro, e no contexto das
leis que visam o bem de todos”.
Como fizera, em Setembro passado, na Alemanha, também agora o Papa alude ao fundamento das leis do Estado:
“na medida em que se supera a conceção de um Estado confessional,
aparece claro, em todo o caso, que as suas leis devem encontram
justificação e força na lei natural, fundamento de uma ordem adequada à
dignidade da pessoa humana, superando uma conceção meramente positivista
da qual não se podem deduzir quaisquer indicações de caráter ético.
Recordando que o Estado está ao serviço da tutela da pessoa e do seu
“bem estar”, nos seus múltiplos aspetos, a começar pelo direito à vida,
Bento XVI referiu a responsabilidade no que diz respeito à família:
“O Estado está chamado a reconhecer a identidade própria da família,
fundamentada no matrimónio e aberta à vida, assim como o direito
primário dos pais à livre educação e formação dos filhos, segundo o
projeto educativo por eles considerado válido e pertinente.”
Fonte: Radiovaticana.org
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