A educação, desde os filósofos gregos até o século XVIII, visava a
formação do homem como um todo, procurando desenvolver suas habilidades e
capacidades, explorando suas apetências, seguindo um currículo muito
flexível, quase que adaptado a cada aluno. As aulas das universidades
ocorriam com frequência em espaços públicos, com acesso a qualquer um. A
respeito dessa informalidade, conta-se, até, na vida de São Clemente
Maria Hofbauer um fato significativo. Na sua juventude, sendo aprendiz
de padeiro, sentou-se na praça em Viena, Áustria, para assistir a uma
aula de famoso teólogo. Em determinado momento ele interrompeu a
exposição observando: “Mestre, não sei explicar por quê, mas o que o Sr.
acaba de falar está errado!” Indignado, o professor expulsa o jovem da
aula. Anos depois, encontrando-se com São Clemente, agora sacerdote, o
mestre lhe agradece aquela intervenção, explicando que fora tirar a
limpo e, realmente, estava ensinando algo equivocado. Era o senso
católico prevalecendo sobre a mera erudição.
Competia nessa época ao mestre ou preceptor atender às legítimas
curiosidades e pontos vivos de interesse do discípulo, pois se
compreendia que cada indivíduo é único e tem uma visão do universo
personalíssima, originalíssima e riquíssima. E São Tomás de Aquino
(século XIII) “introduz um princípio pedagógico moderno e revolucionário
para seu tempo: o de que o conhecimento é construído pelo estudante e
não simplesmente transmitido pelo professor” (Revista Nova Escola,
julho de 2008, p. 22, sem autor). Vê-se por aí que Piaget e o
construtivismo não representaram nenhuma novidade pedagógica na
História, como tantas vezes são apresentados. Hoje fala-se de inter e
transdisciplinaridade. Até a Revolução Francesa se ensinava assim… O
conhecimento era uno, coeso, formava um todo coerente, harmônico entre
as partes, baseado na mesma concepção religiosa do universo. Todos os
conhecimentos se relacionavam entre si. Hoje fala-se que a criança deve
aprender brincando ou que o aprendizado deve ser prazeroso. Na pesquisa
bibliográfica, pudemos constatar que São Tomás de Aquino já ensinava
isso na Suma Teológica (II-II, q. 168, art. 2, 3 e 4), no século XIII,
tendo inclusive escrito um Tratado sobre o brincar. E São João Bosco
(século XIX) tinha como pedra fundamental de seu sistema preventivo na
educação a “amorevolezza”: a benquerença; a criança deveria ser
benquista e sentir-se benquista pelo professor que, assim, conquistava a
confiança do discípulo. Nos recreios salesianos havia uma só regra: é
proibido estar triste. Hoje dá-se muita importância aos laboratórios, às
experiências (John Dewey, 1978); os antigos da Escola peripatética, de
Aristóteles, a qual possuía uma orientação empírica, já procediam assim
pelo ano 320 a.C. …
Ou seja, as melhores tendências da pedagogia atual vão no sentido de
restaurar o que a educação cristã vem fazendo há séculos. A chamada
pedagogia “tradicional” – distinta da católica de que tratamos acima – é
da idade moderna, fruto da Revolução Francesa. Um dos filósofos dessa
escola foi Johann Friedrich Herbart (1776-1841), considerado o
organizador da Pedagogia como ciência. O conhecimento humano ficou
compartimentado, fragmentado com o iluminismo e o racionalismo, gerando
as incontáveis especializações estanques modernas.
Por se basear no princípio de que a mente humana apenas apreende novos
conhecimentos e só participa do aprendizado passivamente, o
herbartianismo resultou num ensino que hoje qualificamos de tradicional.
“[...] um ensino totalmente receptivo, sem diálogo entre professor e
aluno e com aulas que obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos” (Revista Nova Escola, dezembro de 2004, p. 24, sem autor).
O sistema de ensino prevalente nas universidades medievais era baseado
na intensa participação dos alunos através da “disputatio”, o debate,
que se seguia à apresentação de um tema, a “lectio”, no qual cada um
defendia sua opinião. Nem o mais ousado sistema educacional hodierno
chega a ser tão participativo como o medieval.
De: professorfariahistoria.blogspot.com.brDeixe um comentário
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