por Pe. Thomas Morrow
Extraído do livro “Namoro Cristão em um mundo supersexualizado”
É realmente possível viver um namoro cristão no século XXI. É possível
viver a castidade evangélica sem uma luta cotidiana crispada e dolorosa.
É possível viver um autêntico namoro cristão mesmo que não se tenha
feito assim no passado.
Para começar, estudemos a virtude da castidade. Segundo São Tomás de Aquino e Aristóteles, a castidade é a moderação do apetite sexual de acordo com a reta razão. Em outras palavras, é o domínio que a razão exerce sobre o apetite sexual. [1]
Não se trata somente de regular o comportamento, que poderia ser uma
manifestação de autodomínio, mas do autêntico desejo de controlar a
conduta sexual. Observe-se também que a norma é a “reta razão”, quer
dizer, a razão em conformidade com o eterno amor de Deus, não uma razão
mundialmente difundida que considera razoável qualquer sexualidade que
evite doenças ou gravidezes indesejadas.
Como viver castamente
Como crescer na virtude da castidade de modo a vivê-la habitualmente e com alegria?
A castidade é um fruto do Espírito Santo, e só se obtém com esforço e
uma oração constante. Os frutos de uma árvore aparecem depois das folhas
e das flores, e o mesmo acontece com os frutos do Espírito Santo.
Exigem um cuidadoso cultivo com a ajuda da graça de Deus. Para começar a
viver castamente, requer-se uma profunda vida interior. Quinze minutos
de meditação diária, mais a assistência frequente à Missa e a recepção
dos sacramentos, são fundamentais para todo aquele que deseje viver essa
virtude.
O convencimento próprio
Além da Missa e dos demais sacramentos, podem-se utilizar diversos
meios que contribuam para aproveitar a graça sacramental. Comecemos por
observar, com São Tomás de Aquino e Aristóteles, que o apetite sexual
parece gozar de vida própria. Não escuta apenas a razão, mas também a
imaginação e os sentidos. Se quero levantar uma mão, digo-lhe que se
mova e move-se, mas se o meu apetite sexual se sente atraído por algo
ilícito, devo dizer-lhe alguma coisa mais do que simplesmente “pare”,
porque pode ser muito impetuoso.
Não faço o bem que quero – diz São Paulo -, mas
o mal que não quero. […] Deleito-me na lei de Deus segundo o homem
interior, mas sinto nos meus membros outra lei que luta contra a lei do
meu espírito e me escraviza à lei do pecado que está nos meus membros.
Pobre de mim! (Rom 7,19.23.24)
Portanto, é preciso encontrar o modo de convencer o apetite sexual a
obedecer a razão e não os sentidos ou à imaginação.
Dominar os sentidos e a imaginação
O apetite escuta os sentidos. É necessário, portanto, que sejamos
cuidadosos com o que olhamos ou contemplamos. Ver filmes explicitamente
pornográficos ou concentrar a atenção em pessoas do sexo oposto vestidas
provocadoramente é um veneno quando se vem lutando por viver a
castidade. Pior ainda é deixar-se levar pela curiosidade pelas páginas
da web, pois a pornografia banaliza o sexo, apresentando-o como mera
diversão e reduzindo a mulher (ou o homem) a um simples instrumento de
prazer. Dificilmente se poderão evitar os pecados sexuais se se
contemplam continuamente cenas sexualmente explícitas.
A imaginação é outro fator de perigo. Quando percebemos um pensamento
impuro, tentemos substituí-lo por outro sadio, tal como um jogo de
futebol, um pôr-do-sol maravilhoso, etc. Também podemos seguir o
conselho de São João Vianney: fazer o sinal da cruz para afastar a
tentação, ou pronunciar repetidamente o nome de Jesus, como aconselhava
Santa Catarina de Sena. Um pensamento impuro não consentido não é
pecaminoso, mas passa a sê-lo no momento em que consentimos nele. Como
nos advertiu o Senhor, podemos pecar tão gravemente com o coração como o
corpo.
Os valores da castidade
Alguns propõe que se exerça o controle sexual de um modo voluntarista:
que se reprima o apelo do sexo com um “não” enérgico e despótico. Desse
modo, como aponta João Paulo II em Amor e Responsabilidade, o
apetite sexual passa a refugiar-se no subconsciente, à espera da
primeira ocasião de fraqueza para explodir num estado de atividade
sexual. É que vemos em pessoas que se contêm durante várias semanas para
depois caírem na farra, e repetirem o ciclo uma vez e outra.
A inteligência deve lidar “politicamente” com o apetite, defendendo as
vantagens da castidade sobre o prazer sexual sacrificado. A inteligência
deve convencer-se de que, nos braços do sexo, jamais conseguirá ser
plenamente feliz. A razão deve trabalhar insistentemente para converter
para convencer o coração a verdade. Não basta saber o que é bom e o que é
mau. Para sobrevivermos castamente neste mundo, a nossa mente e o nosso
coração devem estar completamente convencidos de seu benefício.
O
primeiro desses benefícios é o dom mais valioso: a nossa relação pessoal
de amor com Cristo. Violar livre e conscientemente a castidade destrói
essa relação, fonte de felicidade e o único caminho de salvação. E
destruí-la significa pagar um alto preço por uns breves momentos de
prazer.
Quando se opta pela castidade, vive-se com dignidade de quem se sabe
imagem e semelhança de Deus. E assim se ganham forças para viver sob a
razão, e não a mercê dos desejos e impulsos, como os animais.
Quem se abstém da atividade sexual manifesta a sua capacidade de
valorizar a outra pessoa em toda a sua grandeza, e não como um mero
objeto de prazer. O sexo é um tesouro no armazém das virtudes. Além
disso, abre caminho para muitos valores, ou pelo menos reforça-os;
concretamente, como vimos atrás, reforça o amor de doação (ágape), a
amizade e o carinho, que são os amores dos casais e que, portanto,
deveriam converter-se em hábitos durante o namoro. De tal modo que, ao
chegar o momento do matrimônio e entrarem nem jogo as relações sexuais,
esses outros amores, mais fundamentais que o sexo, se convertam quase
numa segunda natureza.
O excesso de álcool
O autocontrole deve desempenhar o papel de pai para o apetite sexual
até que este adquira uma educação razoável e a pessoa passe a ter a
cabeça e o coração unidos, de modo a poderem ir em busca dos mais nobres
valores.
Um dos grandes destruidores desse autocontrole é o excesso de álcool.
Muitas pessoas se envolvem em problemas terríveis por este motivo. Se
você tem a esperança de viver a virtude da castidade, deveria propor-se a
nunca tomar mais que um copo. Eu fiz o propósito de não beber enquanto
estivesse na universidade e isso trouxe-me um enorme benefício. Se você
não tomou igual decisão, ao menos seja muito cuidadoso com o álcool e,
evidentemente, com as drogas, que podem dar cabo a sua vida. Nenhum
cristão verdadeiro brincaria com essas coisas sabendo que destroem o
autocontrole, e o autocontrole é necessário para se conseguir a paz da
castidade.
[1]
“A castidade significa a integração harmônica da sexualidade na pessoa e
por isso, na unidade interior do homem no seu corporal e espiritual...”
(Catecismo da Igreja Católica, n. 2337)
Pe. Thomas Morrow – “Namoro Santo em um mundo supersexualizado” – Ed. Quadrante, pg. 73 a 77
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