17 outubro 2014
Um apelo aos padres sinodais: não facilitem o divórcio!
Pesquisas mostram claramente que os filhos de divorciados sofrem danos psicológicos e espirituais duradouros
A saúde e o florescimento da família católica depende em primeiro lugar da relação amorosa estável entre o pai e a mãe. O Catecismo da Igreja Católica reconhece esta realidade ao declarar que "as crianças precisam da união estável dos seus pais" (nº 2381). Nas discussões do atual sínodo sobre a família, portanto, é essencial que a família católica seja protegida com base em uma compreensão mais profunda dos graves e permanentes danos psicológicos e espirituais que as crianças sofrem como consequência do divórcio dos pais. Isto implica refutar muitos dos mitos que ainda persistem na sociedade sobre os supostos "benefícios" do divórcio.
Só nos Estados Unidos, por ano, um milhão de crianças sofre o trauma severo do divórcio. Essas crianças não precisam de uma flexibilização do processo de anulação matrimonial. Elas querem é que seus pais superem os conflitos e amem um ao outro. Elas precisam é que a Igreja defenda o sacramento do matrimônio e desafie os cônjuges a trabalharem seriamente para resolver os seus conflitos emocionais e para se sacrificarem ao menos um pouco a fim de salvar o casamento e, é claro, o amor.
O já falecido Dr. Norval Glenn, da Universidade do Texas, um ilustre estudioso da família, liderou um estudo pioneiro nos Estados Unidos, junto com Elizabeth Marquardt, sobre a vida moral e espiritual dos chamados “filhos do divórcio”. Suas descobertas refutaram muitos dos mitos sobre o "bom divórcio". Glenn escreveu o prefácio do livro de Marquardt sobre a pesquisa realizada, “Entre dois mundos: a vida interior dos filhos do divórcio”. Diz ele:
“A proporção de adultos com perturbações emocionais é cerca de três vezes maior entre aqueles cujos pais se divorciaram, na comparação com aqueles cujas famílias permanecem intactas. O sucesso na vida adulta não consegue compensar a infância infeliz nem apagar da memória a dor e a confusão do mundo dividido de um filho do divórcio”.
O divórcio não é inevitável: a origem da maioria dos conflitos conjugais
Numerosos mitos sobre o divórcio atrapalham a necessidade dos casais de resolver os seus conflitos pessoais e conjugais. Diversos estudos indicam que aproximadamente 70% dos conflitos psicológicos adultos surgem de feridas não cicatrizadas (e inconscientes) da infância e da adolescência, a maioria delas relacionadas com os próprios pais. Esses conflitos que envolvem tristeza, desconfiança de comportamentos controladores, raiva excessiva e baixa autoestima podem emergir durante o casamento sem que as origens verdadeiras sejam identificadas; e essas mágoas não resolvidas ferem os sentimentos de confiança e de amor de um cônjuge pelo outro. Se esses conflitos forem devidamente descobertos e tratados, assim como o egoísmo dos cônjuges, a confiança poderá crescer e o amor poderá ser redescoberto.
A Igreja tem ajudado muitos casais a tratar das feridas trazidas da infância e das feridas emocionais da vida conjugal. O Dr. Howard Markman, pesquisador, escritor e professor da Universidade de Denver, escreve: "Acreditamos que a maioria dos divórcios e a maior parte dos fatores de infelicidade conjugal pode ser evitada" (em “Fighting for Your Marriage: Enhancing Marriage and Preventing Divorce”, ou “Defendendo o seu matrimônio: a melhora do casamento e a prevenção do divórcio”).
Alguns mitos sobre o divórcio:
- O divórcio não vai prejudicar os filhos nem os cônjuges que se separam;
- O divórcio é a única solução para a minha infelicidade conjugal;
- Não há solução possível para os conflitos conjugais;
- Se é bom para mim, então vai ser bom para os meus filhos;
- Vou ser mais feliz longe dele/dela;
- Eu ainda posso ser um excelente pai/mãe mesmo divorciado/a;
- Meu marido/minha esposa é a causa de toda a infelicidade e estresse conjugal;
- A confiança e o amor não podem ser reconquistados;
- As minhas origens familiares não têm nada a ver com a minha infelicidade conjugal;
- (Para os católicos) A anulação matrimonial é um direito meu.
Danos psicológicos para as crianças
Vários estudos bem conduzidos sobre os “filhos do divórcio” demonstram que hoje é impossível afirmar que o divórcio não prejudica as crianças. Já foi mais ou menos aceitável acreditar que os altos índices de divórcio, de coabitação e de criação de filhos fora do casamento não representassem mais do que estilos de vida alternativos, mas, agora, muitos estudiosos da vida conjugal acreditam que essas escolhas dos pais podem ser objetivamente prejudiciais para as crianças, que não têm chance alguma de opinar, e também para a sociedade como um todo, que não questiona de modo imparcial as consequências desses estilos de vida (muitas vezes porque a defesa da solidez familiar é tachada de “conservadorismo retrógrado”, “preconceito” etc.).
No primeiro grande estudo sobre a psicopatologia adolescente nos EUA, que envolveu dez mil adolescentes e foi publicado em 2010, 49% dos jovens avaliados apresentavam todos os sintomas de um transtorno psiquiátrico e 40% apresentavam os sintomas de ao menos dois transtornos. Os resultados desse estudo indicam que os jovens são as principais vítimas da ferida do divórcio.
A pesquisa do sociólogo Paul Amato, da Penn State, sobre os danos de longo prazo causados pelo divórcio nas crianças, mostrou que, se os Estados Unidos tivessem mantido os mesmos níveis de estabilidade familiar de 1960, o país teria hoje 750.000 repetentes a menos nas escolas, 1,2 milhão de suspensões escolares a menos, cerca de 500.000 atos de delinquência juvenil a menos, cerca de 600.000 crianças a menos fazendo terapia e cerca de 70.000 suicídios a menos por ano.
O Dr. Brad Wilcox, diretor do National Marriage Project, da Universidade da Virgínia, escreveu: “As evidências sociais científicas sobre a conexão entre a violência na juventude e os lares desfeitos não poderiam ser mais claras. Um estudo de 2013 revelou que as crianças do sexo masculino são as mais traumatizadas pelo divórcio dos pais e as que mais tendem a se sair mal em quase todos os resultados acadêmicos e econômicos" (em referência a Autor & Wasserman, 2013).
Na esteira do divórcio dos pais, as crianças tendem a experimentar um movimento familiar de notável declínio na renda, de aumento do nível de estresse da mãe e de períodos substanciais da ausência paterna: todos esses fatores são de risco para o bem-estar material e psicológico das crianças. Em outras palavras, a maioria dos divórcios que envolvem crianças passa longe de priorizar os interesses dos filhos.
Uma série de estudos demonstra que, da perspectiva real da criança, o "bom divórcio" existe apenas na ficção (e em obras de ficção notoriamente tendenciosas, diga-se de passagem). Num dos estudos realizados, as crianças cujos pais passaram por um suposto "bom divórcio" se saíam pior (academicamente, por exemplo) até mesmo que as crianças cujos pais mantinham casamentos infelizes. O Dr. Norval descobriu que a cooperação civilizada dos pais divorciados não é suficiente para evitar os efeitos negativos do divórcio sobre os filhos. Uma análise rigorosa da ideia de "bom divórcio" revela a incidência de conflitos significativos nas crianças.
A experiência de todos nós que trabalhamos para ajudar a fortalecer os casamentos e evitar os divórcios reforça as pesquisas que mostram que muitos casais desistem rápido demais do casamento. Em parte, há três fatores que levam a essa postura: (1) a falha dos familiares, amigos, clero e profissionais do bem-estar mental no apoio ao sacramento do matrimônio; (2) a falta de confiança na possibilidade de solução dos conflitos; e (3) a negação do grave dano que o divórcio provoca nas crianças, nos cônjuges, na família em geral e na cultura social como um todo.
Um estudo do Instituto de Pesquisa da Universidade do Texas em Austin descobriu que apenas um terço dos divorciados ouvidos na pesquisa se esforçaram juntos, como casal, para tentar salvar o casamento. Dados da Pesquisa Nacional (dos EUA) sobre a Infância (NSC, na sigla em inglês) indicam que aproximadamente 80% dos divórcios no país são forçados. Em outras palavras, a esmagadora maioria dos divórcios ocorre porque um dos cônjuges decide dar fim ao casamento mediante a coerção legal, mesmo quando o outro cônjuge ainda luta para salvá-lo.
São João Paulo II escreveu que os filhos "são um reflexo vivo do amor dos pais, um sinal permanente da unidade conjugal e uma síntese viva e inseparável da existência de um pai e uma mãe" e que "o amor dos pais deve tornar-se, para os filhos, o sinal visível do próprio amor de Deus" (Familiaris Consortio, nº 14). A fratura da união matrimonial sacramental fere profundamente a identidade das crianças.
Esperemos que os padres sinodais apoiem a família, desafiando os cônjuges a trabalhar duro para resolver os seus conflitos emocionais e a se sacrificarem um pouco mais para evitar o divórcio, em vez de simplesmente procurar maneiras de facilitar o processo de anulação, que muitas vezes inflige tantos danos aos jovens e ao cônjuge inocente.
Unamo-nos em oração ao papa Francisco, que pediu, enquanto se preparava para o sínodo sobre a família, que "o santo da família", João Paulo II, "nos guiasse e sustentasse do céu".
De: aleteia.org
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