28 novembro 2014

Uma família com 3 meninas pequenas muda-se para evangelizar em um bairro pobre muçulmano de Marselha


Eles têm ido às zonas pobres da França contemporânea para ir ao encontro dos pobres «entre nós».


Em Ceux du 11ème étage (Os do décimo primeiro andar, ndt), uma família católica conta sua experiência: viver tres anos em um bairro de pobre no norte de Marselha, para colocar-se ao serviço dos mais pobres. É um testemunho cheio de lucidez e de esperança.

«Vós sois franceses; normalmente, a gente como vós vive em chalés!»: com estas palavras foram acolhidos Amaury, Marie-Alix e suas três filhas nos bairros do norte de Marselha, donde eles decidiram viver durante tres anos em uma cidade HLM [siglas para Habitações de baixa renda, ndt].

Um pouco como Simone Weil, que ia à fábricas para falar de Sófocles aos trabalhadores e para viver em sua carne o sofrimento de sua condição; um pouco como Cristo, que veio à terra para compartilhar a pequenez do homem, eles têm ido às zonas pobres da França contemporânea para ir ao encontro dos pobres «entre nós».


Alí são conhecidos como os «franceses do décimo primeiro andar ». Destacam por seu catolicismo, os cachos lioros de suas filhas, seu rechaço a ter televisão e esse absurdo desejo de ir deliberadamente ao inferno.

No meio do bairro, em meio de cubos de lixo tirados pelas janelas e de carros que se queimam por nada, «tão inúteis como Maria aos pés da cruz», eles chegam ao encontro do outro para «tecer vínculos de amizade e colocar-se ao serviço das famílias em dificuldade».

Familias dilaceradas por matrimônios arranjados donde a tela plana substitui a vida comum, atravessadas pela espiral infernal assistêncialismo-consumismo.

Anciãos, da primeira geração, admitem descaradamente que votam a Marine Le Pen porque «temos trabalhado por este país que nos trata como menos que nada enquanto subvenciona a gente que chega do mundo inteiro e que nunca pagou imposto».

Jovens, uns viciados em vídeo-games, violentos, agressivos e obtusos, aos que nada lhes afeta.

Outros, que se encerram em um islamismo extremista para escapar à baixa auto-estima, mas com os que é possível pelo menos falar de Deus.

Porque em o coração de pedra sem ideais «é com nossos irmãos muçulmanos com os que nós temos as mais belas discussões de ordem espiritual, o que da à relação uma profundidade muito mais importante que com pessoas que não crêem em nada», declara Amaury Guillem.

Têm, sem dúvida alguma, uma certa ingenuidade comovedora, que também pode exasperar. Um certo caráter angelical: «Vês, os pequenos anjos aos que rezamos cada manhã para que velem sobre nós, nos protegem» disse Amaury a sua filha em meio das pedras que os adolescentes do bairro se lançam por cima de suas cabeças.

As vezes até quase caem mal por her-se metido nesta bagunça feita de elevadores danificados, urina nas escadas e insultos diários.

Mas há também pequenos milagres, resultado do trabalho escondido levado a cabo pela perseverança.

Esses jovens muçulmanos que se vivem em colônias e se reconciliam com a natureza e a simplicidade, mudando a violência pelo silêncio.

«Por quê enquanto 20 jovens franceses se vão ao outro lado do mundo para ajudar às pessoas, somente 1 ou 2 optam por ficar para servir aos pobres de nosso país?» se pergunta ao final do livro Amaury.

«As periferias morrem por falta de amor», se atreve a dizer ele com uma constatação que faria empalidecer a sociólogos.

Mas este livro não é um livro sociológico. É por isso pelo que está cheio de esperança.

«Há que se dizer alto e claro que esta decisão de ir viver em um Bairro extremamente pobre é uma fonte de alegria».

É um testemunho, um convite a voltar a encontrar a radicalidade da mensagem cristã. «Se nós pudéssemos dispor de algum meio para detectar a esperança, como o vidente descobre a água subterrânea, aproximando-nos dos pobres veríamos torcer-se entre nossos dedos a varinha de condão» escreve Bernanos, que Amaury Guillem cita ao final do livro.

Quando chegamos ao final das 200 páginas deste ardente testemunho que tem a pureza do Evangelho não podemos evitar a admiração. Tampouco a vergonha. Porque temos ganas de dizermos as palavras de Bernanos aos cristãos a propósito de São Francisco de Assis: «Vós o aplaudistes: vós deveríeis tê-lo seguido!”.”.».

Eugénie Bastié é periodista de Le Figaro. Também escreve para a revista Causeur


De: religionenlibertad.com


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