Campo de Refugiados de Juba
A situação no Sudão do Sul está ficando cada vez mais crítica. Um certo número de organizações internacionais aconselharam as freiras de lá a deixarem o país. Mas, apesar de estar sob constante ameaça, elas ficaram para estar junto do povo.
Duas religiosas tiveram sorte de escapar de uma desgraça. Elas haviam acabado de sair do campo de refugiados quando houve um tiroteio. O homem que as acompanhava foi atingido e morreu na hora. Os hábitos das irmãs ficaram cobertos de sangue. Alguns rebeldes haviam se escondido atrás de umas rochas e atiraram nelas com metralhadoras. Evidentemente, a guerra está sendo travada bem do lado de fora do campo de refugiados de Juba. Há cerca de 28 mil famílias que procuraram se refugiar ali. As irmãs da Congregação das Filhas de Maria Imaculada visitam regularmente este campo para ajudar os doentes e necessitados.
A maioria das irmãs ainda é jovem. A idade média delas é de 28 anos. A maioria delas vieram da Índia, onde a sua congregação foi fundada. Para muitas delas, esta é a primeira vez em suas vidas que tiveram que enfrentar metralhadoras, veículos militares, e o estrondo das bombas. Muitas delas tem de enfrentar a violência diretamente.
A irmã Maya estava lavando roupas no convento quando, de repente, homens armados invadiram o local. Um deles apontou um fuzil na direção do seu rosto, enquanto outro encostava um facão em seu pescoço. Eles arrastaram a jovem freira até o refeitório, onde mais três irmãs estavam sentadas lendo. Enquanto isso, outros homens forçaram a entrada do convento e mantiveram as demais irmãs com fuzis sobre suas cabeças. “Se vocês gritarem, nós matamos vocês”! Eles ameaçaram e trancaram todas as irmãs numa sala, guardada por um homem armado, enquanto quatro outros vasculhavam sistematicamente o convento. Por cerca de meia hora eles olharam cada aposento, roubando tudo que era possível levar e destruindo o resto. Depois disso eles desapareceram. A irmã Vijii comentou depois: “Eu acho que foi parte de uma campanha deliberada de intimidação. Eles querem que nós saiamos daqui”!
O Pe. Albert Amal Raj, dos Missionários de Maria Imaculada, o ramo masculino da mesma congregação, também foi ameaçado repetidas vezes. “Quando saímos da casa pela manhã, não sabemos se iremos retornar vivos pela noite”, declarou o sacerdote indiano. Numa ocasião, o seu carro foi parado numa estrada por uns 30 policiais que imediatamente apontaram seus fuzis com os gatilhos prontos. Os dois sacerdotes e duas freiras que estavam no carro foram forçados a sair. Um dos policiais ameaçou o padre Albert com sua arma e lhe esbofeteou no rosto. “Eles acharam que se tratava de um veículo dos rebeldes. Muitos deles acham que organizações estrangeiras estão apoiando os rebeldes e fornecendo a eles armamento e outros suportes. Quando os policiais perceberam que eu era um sacerdote, ele me pediu desculpas. Depois disso, eu sempre saio com uma grande cruz, bem visível, presa numa corrente, para que todos vejam que eu sou um sacerdote”.
Os padres trabalham sobretudo nas regiões mais remotas, onde só se pode chegar nas aldeias a pé. Mas eles também operam escolas. Eles viram que as crianças só conhecem uma realidade: a guerra. “Muitas crianças só brincam de guerra. Elas brincam que têm armas e atiram umas contra as outras. Quando perguntamos aos nossos alunos o que querem ser quando crescerem, a resposta mais comum é “queremos ser policiais para atirar e matar as pessoas”. Elas não conhecem nada mais que a violência. Muitas delas na realidade foram testemunhas do assassinato de membros de suas famílias. A vida humana vale muito pouco aqui”. Os missionários estão tentando ensinar as crianças a dar valor à vida, a respeitar os demais e a ter responsabilidade para com suas próprias vidas, para com a sociedade e para ter um futuro de paz.
As irmãs também estão tentando ajudar o povo que ainda carrega o trauma da guerra anterior, que durou 22 anos e ceifou a vida de mais de dois milhões de pessoas e deixou outros milhões sem casa. Muitas pessoas foram forçadas a ver seus maridos, filhos, esposas, pais e parentes serem brutalmente assassinados, enquanto outros perderam partes de seu corpo e outros mais foram deixados na mais completa miséria. “Eles vivem em tensão e medo constante, sofrem de desordens psicológicas e estão profundamente traumatizados. Muitos já não se comportam normalmente e alguns perderam toda esperança. Um grande número deles tiveram de fugir para salvar suas vidas, carregando apenas algumas sacolas de plástico. Agora eles não têm mais nada e se perguntam: “Porque Deus nos criou, porque nascemos, se é para sofrer tanto?”, comenta a irmã Vijii.
As irmãs visitam estas pessoas e para muitas delas é a primeira vez que experimentaram a sensação de que alguém está ali para ouvi-las e ajudá-las. E então, pequenos milagres parecem acontecer. “Uma mulher havia perdido sete membros de sua família. Todos eles haviam sido mortos diante de seus olhos. Ela estava como que congelada e não falava mais com ninguém. As irmãs começaram a cuidar dela até que um dia ela começou a chorar e não parava mais. Depois disso começou a falar, e hoje ajuda as pessoas no campo de refugiados. Ela vai de tenda em tenda rezando com as pessoas”, lembra a irmã Vijii.
A irmã Vijii não teme pela própria vida, mesmo se ela escuta as bombas caindo e os tiroteios todos os dias. “Algumas organizações nos têm aconselhado a ir embora daqui. É muito perigoso - elas nos dizem - e nunca haverá paz. Mas nós, freiras, viemos aqui para compartilhar o sofrimento deste povo. Assim sendo, enquanto houver gente aqui, nós ficaremos”.
Nos últimos três anos, a AIS doou cerca de 400 mil reais para apoiar o trabalho desta congregação no Sudão do Sul. Esta ajuda incluiu a compra de um veículo, a construção de uma igreja e de uma casa paroquial, a formação de 21 jovens religiosas e um projeto intitulado “Curando os que Curam”, através do qual, as irmãs que ajudam e confortam as vítimas de traumas, recebem ajuda elas mesmas e continuam a sua formação. Também temos ajudado na formação espiritual permanente dos sacerdotes. No momento, estamos ajudando na construção de uma casa paroquial para os Missionários de Maria Imaculada na paróquia de Bar Sharki, na diocese de Wau, com uma contribuição de 80 mil euros.
De: ais.org.br
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