12 maio 2016

Nossas crianças ganharam caixões para a Páscoa


Em Alepo, na Síria, a luta está se intensificando novamente: "Se isso continuar, ainda mais cristãos irão embora" disse o arcebispo de Alepo, Dom Audo.




Os combates entre as forças governamentais e de oposição estão se intensificando novamente na antiga capital comercial síria de Alepo, segundo relatos de representantes da Igreja Católica à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). "O conflito piorou desde a penúltima semana de abril. A situação se tornou especialmente ruim no dia 23/04. A situação das pessoas é catastrófica. Há muitos mortos e feridos. Esperamos que a violência não aumente ainda mais, mas ela já é muito grave agora. Se estas batalhas continuarem, ainda mais cristãos irão embora de Alepo", declarou o arcebispo católico caldeu da cidade, Dom Antoine Audo, em uma entrevista à ACN. "Antes da guerra, haviam mais de 150.000 cristãos de várias denominações em Alepo. Hoje, cerca de dois terços deles se tornaram refugiados em seu próprio país ou procuraram refúgio em outros países, como o Líbano, mas também no Ocidente”. Ele então explicou que aqueles que permaneceram, na maioria dos casos, são os idosos e os muito pobres. "De maneira geral estamos em condições de cuidarmos deles, porque a Ajuda à Igreja que Sofre tornou isso possível. A situação deles é, no entanto, sob todos os aspectos, alarmante. A pobreza e o mau aprovisionamento desempenham um grande papel na vida cotidiana".

Dom Audo também explicou que grupos rebeldes que controlam partes da cidade de Alepo, como o al-Nusra, consideram os bombardeios como um meio para espalhar o medo e terror. "Estes grupos estão sendo financiados pelo exterior. Eles não vêm da Síria. Aqui, as relações entre cristãos e muçulmanos sempre foram - e ainda são - boas. É claro que o fanatismo também existia no passado. Mas as relações gerais eram boas. Nós, cristãos, eramos aceitados pelos muçulmanos. Isto continua a acontecer em Alepo. Na verdade, quase que se poderia dizer que as relações têm melhorado. Isso ocorre porque os muçulmanos nos respeitam devido ao nosso trabalho de caridade e a nossa ajuda à eles. Espero sinceramente que, após esta guerra, tenhamos uma Síria em que todas as pessoas, e também nós, cristãos, sejamos capazes de desfrutar de todos os direitos em pé de igualdade".

A Irmã Annie Demerjian também comentou com a ACN sobre a intensificação dos combates em Alepo. "Foi especialmente horrível na segunda-feira. Dezessete pessoas morreram durante o bombardeio, incluindo seis crianças. Muitos deles cristãos”, disse a freira, que vem atuando há anos na cidade que é dividida entre o governo sírio e a oposição. "Além das pessoas que morreram, há também muitos feridos. Um dos meus ajudantes ficou chocado quando viu um meio de transporte cheio de pessoas gravemente feridas. Além disso, muitas lojas, casas e carros já foram destruídos pelos bombardeios. Nós tínhamos muita esperança de que o cessar-fogo das últimas semanas seria o começo do fim da guerra. Nós realmente estavamos cheios de esperança. Mas estávamos enganados. Já fazia tempo que a situação não era tão ruim como agora. Centenas de bombas e mísseis estão caindo. A última vez que houve combates tão violentos foi na Páscoa de 2015”. Ela então disse que os cristãos remanescentes de Alepo estão tão perturbados e exaustos como os outros residentes muçulmanos. "Depois de tantos anos de guerra, as pessoas já estão simplesmente no final de suas forças. Elas têm a sensação de que tudo está começando do zero novamente. Isso os deixa tristes e com raiva. Um pai me pediu para rezar por seus filhos, para que eles pudessem chegar em casa vivos e bem. Eu não sei se é possível imaginar o medo que essas pessoas estão sendo forçadas a sofrer. E isso não começou a acontecer ontem. Eu acredito que nós aqui em Alepo somos os mais afetados pela guerra na Síria. E nós simplesmente não podemos entender por que pessoas inocentes têm que sofrer tanto".

A Irmã Annie, em seguida, disse que os cristãos ortodoxos em Alepo estavam ansiosos com relação às suas celebrações da Páscoa no próximo domingo. "Um cristão ortodoxo me disse há pouco que as crianças de todo o mundo recebem presentes na Páscoa. Em Alepo, no entanto, elas são enterradas em caixões. Não é imensamente triste ter que ouvir algo assim? "A freira pediu urgentemente orações para o povo assolado pela guerra da Síria. "Por favor, rezem por nós. Deus é o nosso único apoio".

O padre franciscano Ibrahim Alsabagh também falou sobre os pesados combates em Alepo. "O bombardeio começou novamente. Há pouco tempo um míssil caiu em nossa zona de Azizieh; uma casa foi destruída, outras foram danificadas. A situação é muito crítica em várias zonas, como a de Midan. Os pedreiros que trabalham em nosso mosteiro entraram com lágrimas nos olhos e terrivelmente cansados porque não tinham podido dormir a noite toda”. Padre Alsabagh, que trabalha em Alepo, disse: "O dólar continua a ficar cada vez mais caro, enquanto as pessoas tem uma diculdade cada vez maior para ganhar um pouco de dinheiro para comprar comida. Para nós é como se fosse uma corrida sem fim, porque todo o trabalho humanitário repousa cada vez mais sobre nós padres, apesar de estarmos bem organizados e termos muitos voluntários e funcionários para nos ajudar. A cada dia, um número cada vez maior de pessoas estão batendo à porta do mosteiro; no entanto, mais e mais famílias também estão louvando a Deus pela nossa presença, porque permanecemos em Alepo para ajudar essas pessoas desesperadas".

A Ajuda à Igreja que Sofre tem ajudado os cristãos de Alepo já há vários anos. Através da Igreja local, ela apoia programas para fornecer vestuário, alimentos e medicamentos, entre outros. A ACN também fornece ajuda para habitação e educação, tanto na Síria como no Iraque, para pessoas que foram deslocadas pela guerra e pelo terror e tiveram de encontrar refúgio em seu próprio país ou em países vizinhos.

De: ais.org.br
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