Senhor, quem morará em vossa casa e no
vosso monte santo habitará?
Homilia 29.08.2015 - Pe. Luís Fernando
Caríssimos
irmãos e irmãs, a liturgia de hoje (30 de agosto de 2015) possui um cunho moral muito forte. Ela traz
um ensino fundamental para quem é católico. Nós católicos não vivemos dos cinco
solas de Martinho Lutero: Sola fide, sola scriptura, solus Christus, sola gratia, soli Deo gloria. Nós somos
ensinados pela Igreja que é Mãe e Mestra e a ela somos obedientes. Sua doutrina
não provém da interpretação pessoal da sagrada escritura, não
provém somente da Palavra de Deus, mas, é igualmente interpretada e ensinada
pelo Magistério da Igreja e pela sua Tradição desde os tempos apostólicos até
hoje. Estas novidades de Martinho Lutero e os reformadores no século XVI foram
uma inovação na doutrina perene da Igreja, um acesso de soberba dos reformadores
que queriam separar-se da Santa Igreja de Deus e utilizaram a declaração de sua
doutrina como um ato formal de desobediência e rebeldia para conseguir isso.
A
rebeldia e a desobediência são, de fato, duas ações do espírito humano geradas
dentro do coração humano. No Evangelho, Jesus está às voltas com os fariseus
que o interrogam sobre o fato dos seus apóstolos e discípulos não seguirem à
risca as leis judaicas, ao que Jesus responde: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o
que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más
intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios... O
coração na
nossa cultura é um sinônimo para a consciência. É dentro do homem e de
sua
consciência, no seu interior, que é gerado o pecado. E é igualmente na
sua consciência que ressoa a voz de Deus. Na carta de São Tiago que
lemos na segunda leitura, nós vamos encontrar o seguinte ensino do
Apóstolo: Havendo a concupiscência concebido, dá à luz
o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte (Tg 1,15). A bíblia
enfatiza muitas vezes a necessidade da pureza de coração (cf. Mt 5,8), da
retidão das emoções, dos pensamentos, da pureza dos desejos, da retidão das intenções e motivações internas
do homem. Do mesmo modo que tudo isso pode ser direcionado ao bem, pode também
ser direcionado ao mal. Assim, a rebeldia e a desobediência em geral são
concebidas e geradas por um coração soberbo que precisa aprender a humildade
dos santos. Santa Terezinha do Menino Jesus limpava o Carmelo tendo contraído
uma grave enfermidade. Então uma de suas irmãs lhe diz para deixar aquilo e ir
repousar ao que ela responde: como poderei um dia comparecer diante do rei se
lhe negar este mínimo dever? Sua consciência era tão humilde e voltada para
Deus que desobedecer sua Madre lhe parecia sempre um pecado imperdoável. Ela
não olhou sua enfermidade, não olhou para si mesma, para sua vontade ou para sua necessidade, para seu
querer, pois, seu único querer era fazer em tudo a vontade de Deus expressa nas
palavras de sua Madre. A humildade de fato tem sua raiz em Deus, porque quando
os nossos olhos estão voltados para Deus, eles não se voltam para nós. A
soberba, a rebeldia e a desobediência acontecem em nós e são geradas no nosso
coração quando nossos olhos se distraem com as coisas do mundo e se perdem das
coisas do alto.
São
Tiago na leitura de hoje nos diz expressamente: Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz
de salvar as vossas almas. Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Em primeiro plano este trecho
liga-se
ao seguinte e nos manda praticar a palavra de Deus amando o próximo,
sobretudo
o pobre, o indefeso, o órfão e a viúva na linguagem bíblica. Mas, não é
só
assim que se vive a Palavra de Deus. Vivemo-la sobretudo na obediência
aos
nossos superiores. Os filhos devem obedecer aos Pais porque essa é a
vontade de
Deus a nosso respeito. Devem obedecer seus professores, porque eles
estão a seu
serviço para lhe ensinar as ciências humanas. Todos nós devemos
obediência às
autoridades civis legitimamente constituídas porque isso é bom e
agradável a
Deus. Todo o povo de Deus deve obediência ao Santo Padre, sobretudo
quando ele
ensina a Igreja em matéria de fé e de moral. Do mesmo modo, os fiéis de
uma Paróquia devem obediência a
seu Pároco e todos os fiéis de uma Diocese devem obediência a seu Bispo.
Tudo o
que nós cremos acerca de Deus foi em nós implantado, como disse São
Tiago, pela
Palavra ensinada pela Igreja. Ninguém deu a si mesmo o dom da fé que é,
sempre, a fé da Igreja. Ela é a porta-voz de Deus para o homem.
Desobedecer a esta Igreja é desobedecer a Cristo. Romper a unidade e a
comunhão com esta
Igreja é romper com o Cristo. “Ouve Israel, as palavras que eu vos digo...”,
ouvimos na primeira leitura e agora retomo: Ouvi povo de Deus a voz do seu
pastor que não ensina as coisas de seu próprio pensamento, mas, que ouve a
Igreja e a ela obedece. Ouve as leis e os
decretos que eu vos ensino a cumprir para que, fazendo-o, vivais. Há uma
graça na obediência. Quem obedece não erra. Quem possui o poder de governar e de obrigar na
Igreja, também possui o carisma e o dom para o governo dado por Deus porque todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes.
Nós
não
somos protestantes luteranos, calvinistas, metodistas, presbiterianos;
evangélicos, pentecostais ou neopentecostais para
fazermos uma Igreja segundo o nosso pensamento e a nossa vontade. Somos
Católicos e vivemos debaixo da obediência à autoridade da Igreja. Se nos
custa
obedecer, ofereçamos a cruz e a dor da obediência ao Senhor pelos nossos
pecados. Afinal, não estamos tão santos assim que possamos desprezar uma
dor e
jogar fora os frutos que dela poderemos colher. Basta olharmos o exemplo
que a
história nos deixa. Santa Terezinha obedeceu até o fim, como Jesus, e
hoje é
santa. São João da Cruz foi jogado no cárcere por seus próprios irmãos
de
convento, obedeceu até no cárcere, e lá teve seus maiores êxtases
místicos escrevendo os mais belos poemas do ocidente em honra do Senhor e
hoje é santo. São Francisco de Assis,
pobre e humilde, de joelhos diante do Papa Inocêncio III obedeceu à sua
autoridade e sua obediência rendeu à sua ordem religiosa inumeráveis
santos e santas de
primeira estirpe. Chiara Lubich, fundadora do movimento dos Focolares,
obedeceu
em tudo ao Papa Paulo VI na década de 60 quando o movimento estava sob
investigação da Igreja. Afirmou ela que se o Papa mandasse com que
encerrassem
suas atividades, ela voltaria ao seu focolare, comunicaria a decisão do
Santo
Padre às suas companheiras, tomaria suas coisas e não pensaria duas
vezes em
obedecê-lo. Morreu com fama de santidade. Os que desobedeceram e não
quiseram
corrigir seus erros causaram na Igreja enormes feridas na unidade. Assim
foi com Lutero,
com os reformadores, que desprezaram os sucessivos pedidos dos Papas
para se
retratarem. Seu pecado foi tão nefasto que se tornou uma hidra. A cada
seita
neopentecostal que se fecha, duas outras se abrem atestando a rebeldia e
desobediência de seus pais na fé.
Conclusão
De: padreluisfernando.com
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