08 outubro 2016

Seu pai era pastor protestante na Rússia, mas ler história levou a família ao catolicismo



Yakov Druzhkov é um jovem de San Petersburga cuja família, de origem protestante, se fez católica e se forma no Opus Dei




Que uma família de Puskhin (perto de San Petersburgo, na Rússia) se converta ao catolicismo é similar a que uma família de Badajoz se faça budista, pensa Jorge Gutiérrez Berlinches, que entrevistou a Yakov Druzhkov, ou mais simplesmente Yasha, um russo de 22 anos, estudante de Linguística em Moscou, embora originário de San Petersburgo.

Yasha passou o verão em Madrid, ampliando estudos em filosofia e espanhol, embora seu castelhano, explica Jorge Gutiérrez, "é tão amplo como Sibéria". Ademais, domina o inglês e se vira com o francês. Fala de como sua família conheceu a Igreja Católica e, depois, ao Opus Dei.

Pais com dois filhos e uma filha, já falecida, “no céu”, precisa Yasha. A vida em San Petersburgo, explica, é tranquila, e a cidade “uma maravilha”, e mais se a comparamos com sua rival, Moscou, donde residem os novos ricos. Uma famíliaa mais, uma historia normal, até que se cruzam com um sacerdote de uma paróquia de Puskhin.

- Se fala de Deus com naturalidade na Rússia atual? É agora mais fácil?
- Se houve alguma mudança, não tive muito tempo para nota-lo: nasci no ano de 94. O que sei de meus pais, e de meus avós é que se pode falar hoje com mais facilidade; naturalidade sempre houve. Antes eram típicas as conversões na cozinha: ali se falava de tudo, de política e de Deus. É verdade que nos tempos soviéticos a religião era um tema tabu; mas agora é absolutamente normal.

- O ecumenismo, na Espanha, é mais um conceito do que se escreve e fala, mas ao ser um país de maioria católica, apenas se “pratica”. Em teu país a situação é bem distinta. Como se vive ali o ecumenismo? Que avanços estão dando?
- Em meu país, os ortodoxos são uns 70%, embora muitos não praticam: são porque estão batizados e porque são russos. Se és russo, és ortodoxo. Os católicos, que não somos mais que um 1%, vivemos junto com os ortodoxos e nossa relação é muito boa. Em minha opinião e por minha experiência, dentro da Igreja Ortodoxa alguns não entendem bem o significado do ecumenismo porque o assemelham ao proselitismo, em sentido pejorativo. Mas também há ortodoxos que desejam uma maior união com a Igreja católica.

»Para a gente que não estudou história, o ecumenismo está mal visto, porque não querem buscar os pontos que nos unem, que são muitos e importantes, como os sacramentos. A Igreja ortodoxa russa agora está um pouco dividida, surgem novas opiniões, sobretudo pelos temas ecumênicos. Houve gente que gostou do encontro de Kiril, o Patriarca russo, com o Papa, e outros que não.

- Nos últimos anos se abriu ao culto várias Igrejas católicas em Moscou. Há um renascer católico na Rússia?
- Sim nota-se um crescimento: eu sou um exemplo! (risos). E também minha família, já que antes éramos protestantes. Desde os anos 90 a gente começou a ler e estudar por conta. E quando um começa a estudar história da Igreja, como fez meu pai, se dá conta de aspectos que não encontrava no protestantismo. As vezes, creio, que é necessária muita humildade para que tenha efeito.

- Te imaginas logo o Papa Francisco na Praça Vermelha?
- Oxalá, mas não creio que seja logo; todavia não estamos preparados os católicos. Nos falta um pouco de ‘ambiente’ para que a visita seja possível.

- Como é o alma russa: sua religiosidade, seu temperamento? Svetlena Aliexievich, em seu livro Vocês de Chernobil, dizia que era um povo com um grande sentido do dever, da obediência.
- O russo, creio eu, tem uma grande inquietude por saber, por conhecer, mas as vezes nos falta perseverança no estudo, nos conformamos com pouca formação. As vezes, o povo russo tem muito a ver com os ritos, com a aparência: por exemplo, ao entrar em uma Igreja ortodoxa tudo te leva ao céu, à oração. Mas o conhecimento da religião se termina, em muitos casos, no que se vê na Igreja, em sua ostentação, ritos e velas.

- Vês muitas diferenças entre um jovem russo e um espanhol?
- Sim, em primeiro lugar os russos somos mais calados, quiçá não sorrimos tanto, embora logicamente haja de tudo. No aspecto religioso, vejo que na Espanha há mais possibilidades de conhecer a fé, de receber formação cristã. Também é certo que a Igreja ortodoxa teve um período difícil e teve quase que começar do zero. Mas graças precisamente à Igreja Ortodoxa temos essa cultura tão rica.

- Como foi tua aproximação à Igreja Católica e depois ao Opus Dei?
- Quando tinha 14 anos decidi ser católico. Meus pais e irmãos éramos protestantes. Meu pai era pastor protestante em San Petersburgo. Passamos-nos todos à Igreja Católica, inclusive minha avó, que se batizou faz três anos.

»Meu pai sempre teve um grande interesse pela religião, lia e estudava. Começou a assistir a missa e nos convidava. Ali nos ajudaram uns sacerdotes do Opus Dei, que dirigem uma paróquia em Puskhin. Graças a eles conheci a Obra, e logo vieram desde Moscou a dar-nos meios de formação cristã.

»A princípio não entendia bem a Obra, mas via que era gente que rezava. E notava os frutos, os efeitos, ao viver e praticar a fé. Notava que ia mudando a vida e que sou feliz.

- Que pode contribuir o Opus Dei à Rússia?
- Creio que uma das coisas mais importantes que pede acontecer é a formação cristã, e logo dar um sentido espiritual e santificador ao trabalho, que não seja um simples modo de ganhar a vida.



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