ROMA, terça-feira, 14 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) - Reproduzimos o testemunho de Majdi Dayyat no encontro "Jesus, nosso contemporâneo" (Roma, 9 a 11 de fevereiro de 2012), organizado pelo Projeto Cultural da Conferência Episcopal Italiana. Dayyat foi presidente do Centro Regina Pacis - OLOPC, da Jordânia, que surgiu por iniciativa do Patriarcado Latino de Jerusalém e foi inaugurado em 2002 sob o patrocínio da rainha jordaniana Rania Al Abdullah. O objetivo é oferecer uma gama de serviços para apoiar e reabilitar pessoas com deficiências e ajudar as suas famílias, sejam muçulmanas ou cristãs.
Majdi Dayyat
A sociedade jordaniana, que compreende cristãos e muçulmanos, é uma sociedade religiosa. As duas religiões são muito diferentes, mas compartilham um chão comum: cristãos e muçulmanos acreditam em Deus, que é a fonte da dignidade dos seres humanos, e acreditam que ele é misericordioso. Com base nestes princípios, cristãos e muçulmanos trabalham juntos a serviço das pessoas com necessidades especiais.
As comissões têm membros cristãos e muçulmanos em todas as províncias da Jordânia. Sua função é sensibilizar a população para o problema crucial das pessoas com deficiência na Jordânia, para o seu direito a uma vida decorosa, ao respeito e à dignidade, e à necessidade de respeitá-los e aceitá-los, além de fornecer a eles todos os serviços de que precisam.
Tenho orgulho de dizer que o Centro OLOPC, desde a sua criação, deu um grande impulso para fazer com que o trabalho com as pessoas deficientes se transformasse de mera caridade em um direito para os interessados, sem uma linguagem muito ligada à solidariedade, à tristeza e à piedade. Sua Santidade, Bento XVI, disse: "De particular importância, eu sei, é o grande sucesso do Centro em promover o lugar de direito das pessoas com deficiência na sociedade e em garantir que os exercícios e as ferramentas adequadas sejam fornecidos para facilitar essa integração" (Discurso no centro Regina Pacis, Amã, 8 de maio de 2009).
As comissões têm sido muito bem sucedidas no âmbito eclesial na Jordânia e no tocante às relações entre muçulmanos e cristãos, que criaram uma base comum de fé, uma vez que todos rezamos para um só Deus e somos chamados a amar uns aos outros. As comissões proporcionam uma oportunidade aos muçulmanos para descobrirem a verdade sobre os cristãos, sobre a nossa missão e a nossa lealdade, mas também aos cristãos para descobrirem o próximo nos muçulmanos. Os comitês também têm trabalhado arduamente para descobrir o amor humano que andava ausente entre muçulmanos e cristãos, um amor sem preconceitos e sem idéias preconcebidas, que convida cada um a aceitar o outro.
O início das comissões foi difícil, com enormes desafios para os membros muçulmanos e cristãos. Os cristãos não rejeitam o outro, mas se recusam a sair da sua pequena ilha fechada e se contentam com simples comunicações e interações sociais, a ponto de que, em certas áreas da Jordânia, a comunidade cristã é muito fechada em si mesma. O mesmo vale para os muçulmanos em sua relação com os cristãos, levando-se em conta que vivemos em uma comunidade completamente pacífica, onde, no entanto, o processo de fusão entre os dois está sempre sob observação e contaminado pelos preconceitos. Na maioria das vezes, há uma preocupação quanto aos programas oferecidos pela Igreja, chegando-se a levantar a questão: estes programas são animados por um espírito missionário ou representam uma ameaça para o islã? Infelizmente, hoje, os meios de comunicação não são de ajuda para estes casos, especialmente onde há problemas e intrigas.
Saímos de Aqaba, a cidade do turismo, para seguir rumo a Amã, a capital, e depois Madaba, a cidade histórica, até chegar a Zarqa, Mafraq, Ajlun e Irbid. O começo foi humilde e delicado: o convite para os muçulmanos foi limitado aos amigos, especialmente às organizações de caridade locais e às famílias de pessoas com deficiências.
Todos os membros do comitê enfatizavam a importância de não fazer qualquer menção à religião, porque se tratava de uma causa humanitária que não conhece a diferença entre cristãos e muçulmanos. Mas nós, no Centro Regina Pacis, ressaltávamos sempre o princípio religioso desta causa, que é considerada uma causa humanitária, sabendo que o aspecto religioso é refletido no espírito de amor da bíblia. O Centro OLOPC se baseia neste espírito: "Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era um peregrino e me acolhestes" (Mt 25:35). O desafio é mostrar a fé cristã. Por outro lado, acreditamos que o muçulmano, que lê todos os dias que Deus é cheio de graça e de misericórdia, irá se nutrir ele próprio de misericórdia e de amor para aceitar o outro.
Na primeira reunião do comitê, o bispo nos pediu para rezar! Cristãos e muçulmanos! Pediu que cada um rezasse do seu próprio jeito antes de cada reunião... Os muçulmanos rezaram a Al-Fatiha [a primeira sura do alcorão] e os cristãos rezaram a Oração do Senhor, cada um em silêncio, e depois começou a reunião. No final do encontro, e depois de muitas discussões sobre a base de fé que une a todos nós, um dos jovens líderes muçulmanos se aproximou do bispo e lhe disse: "Fiquei feliz por ver que a parede de vidro que existe entre nós começou a se dissolver".
Em Zarqa os medos eram maiores, por causa da presença de alguns dos movimentos mais extremistas dos islâmicos. Além disso, alguns membros cristãos também se recusavam a permitir que os muçulmanos integrassem a comissão. Com o tempo, insistindo, finalmente realizamos a primeira reunião da comissão, com os muçulmanos e os cristãos juntos, e o bispo nos pediu para começar a orar em silêncio, cada um à sua maneira. Após a oração, um jornalista muçulmano sussurrou para o bispo: "Obrigado por nos ter feito rezar". Foi um exemplo de sucesso, que trouxe de volta a confiança e que nos permitiu entender que estamos no caminho certo. Eu sou um cristão que vive a sua fé na comunidade e que vive ao lado de muçulmanos, oferecendo ao outro a oportunidade de me conhecer bem e também pedindo a ele para viver a sua fé na minha frente. Com a minha fé, eu plantei o meu jardim para permitir que as flores no jardim do meu vizinho também cresçam.
Hoje, todas as comissões cristãs e muçulmanas na Jordânia se reúnem para servir as pessoas com deficiências: os cristãos abandonaram o seu cercadinho, antes isolado, para se abrirem a outro terreno que é comum com os muçulmanos, expressando a sua fé com coragem, mostrando Jesus com todo o seu serviço baseado na fé espiritual, na frente de todos os muçulmanos, que também expressam a sua fé através do serviço, à sua maneira.
O nosso objetivo é fazer com que o mundo veja a beleza de doar e de amar. O serviço no Centro Regina Pacis exige uma atitude particular, a atitude do amor, que nos distingue como pessoas capazes de cuidar de outras pessoas com deficiência, como seres humanos: é a nossa missão - que vem de Deus - de estar perto dessas pessoas sem qualquer tipo de discriminação. O segredo do Centro Regina Pacis é nos posicionar na frente de muitas pessoas para transmitir a elas a missão de Jesus e da Igreja: diante deste público, todos nós gritamos juntos que "a sorte dessas pessoas nos importa".
Não os tratamos como um médico ou um advogado os trataria, ou mesmo como um engenheiro, que quer ganhar clientes, mas os tratamos como membros do mesmo time, com um só coração, cheio de amor e de misericórdia. Não damos dinheiro; oferecemos serviços gratuitos. Pedro disse: "Não tenho ouro nem prata, mas o que eu tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda" (Atos 3,6).
Fonte: Zenit.org
Fonte: Zenit.org
Deixe um comentário...
Siga-nos no Facebook. Curta essa página==>>