Sempre vestidos para fugir de noite
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Entrada do antigo campo de concentração nazista de Auschwitz |
2012-10-16 L’Osservatore Romano
O dia 16 de Outubro de 1943 foi um dos mais dramáticos da
história italiana, marcado por uma vergonha de infâmia e de luto, por
causa da vil rusga no gueto judaico de Roma por mão da brigada ss.
Einsatzgruppen sob o comando do capitão Theodor Dannecker.
Todavia,
durante a rusga alguém se conseguiu salvar encontrando refúgio nos
vários institutos religiosos, enquanto outros, como Roberto Piperno e a
sua família, foram hospedados provisoriamente nas habitações dos seus
vizinhos não judeus. Recordando aqueles momentos, Piperno ajuda-nos a
compreender o que significou para uma criança encontrar-se de um momento
para o outro no meio do Shoah. «Em Setembro de 1943 eu já tinha
completado cinco anos: demasiado pequeno para compreender o que estava a
acontecer na História, mas já bastante grande para participar naquelas
experiências. A 16 de Outubro estávamos escondidos na casa dos senhores
Clelia e Alberto Ragionieri (distinguidos sucessivamente com a
honorificência de Justos entre as nações) na rua Arno». Contudo, visto
que os Aliados, depois da acção Avalanche, ainda não tinham
conseguido chegar a Roma, para não pôr em perigo a família Ragionieri,
em Dezembro seguinte foi encontrada outra solução. «O meu pai também
devido ao seu trabalho de comerciante de tecidos, tinha tido frequentes
contactos com o Vaticano e além disso o amigo que nos hospedava era um
bom católico. Assim foi possível obter que uma parte da família (a minha
mãe, a minha irmã, as duas avós e eu) fosse hospedada no mosteiro das
irmãs Bethlemitas na praça Sabazio. O meu pai e o meu avô
transferiram-se para perto da basílica de São João. Depois foi decidido
juntar-nos todos em São João. Mas, precisamente na noite em que
chegámos, soube-se que os nazis tinham entrado na basílica de São Paulo e
levado embora muitas pessoas. Assim depois de uma noite sem dormir,
sempre vestidos para fugir, o meu pai e o meu avô entraram em casa da
família amiga e nós voltamos para casa das irmãs Bethlemitas, onde
passamos os meses seguintes até à libertação de 4 de Junho de 1944».
Logo
depois da sua chegada à casa das religiosas, Ragionieri, a pedido da
madre superiora, irmã Evelina Foligno, conseguiu arranjar à família
Piperno documentos falsos. «Antes de adormecer a minha mãe mandava-me
repetir todas as noites o meu novo nome: Roberto Pistolesi. Assim todas
as noites eu me transformava, repetindo o meu novo sobrenome, para usar
se entrasse em contacto com outras pessoas. Naturalmente este dividir-se
da pessoa não era só no sobrenome, mas também no comportamento. Com
efeito, sendo nós, oficialmente, refugiados napolitanos católicos, íamos
todos os domingos à igreja do mosteiro. (…) Recordo sobretudo uma jovem
irmã de nome Rita: era sempre tão afectuosa e humana. Foi a única
pessoa com a qual saí numa manhã de Primavera, porque ela tinha que ir
fazer algumas compras nas redondezas.
«São experiências inesquecíveis - conclui Piperno – até porque duraram muitos meses. A nível dos relacionamentos humanos não tenho uma recordação triste dos meses passados no convento, que era mantido bem pelas irmãs gentis, sorridentes e amáveis. Certamente o seu comportamento humano em relação a este menino (…) tornou também mais aceitável aquela condição de aprisionamento e de medo contínua: e também por isto ainda estou grato».


«São experiências inesquecíveis - conclui Piperno – até porque duraram muitos meses. A nível dos relacionamentos humanos não tenho uma recordação triste dos meses passados no convento, que era mantido bem pelas irmãs gentis, sorridentes e amáveis. Certamente o seu comportamento humano em relação a este menino (…) tornou também mais aceitável aquela condição de aprisionamento e de medo contínua: e também por isto ainda estou grato».
Giovanni Preziosi
De: news.va
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