01 junho 2013

Com a Sé Romana devem estar em comunhão os cristãos do mundo inteiro


O Papa Bento XVI na Audiência Geral celebrada na Praça de São Pedro no dia 28/03/2007 (1) deu continuidade à sua catequese sobre os Padres Apostólicos, apresentando na oportunidade Santo Ireneu, Bispo de Lião (França).


Santo Ireneu (2), foi discípulo pessoal de São Policarpo, Bispo de Esmirna (Turquia), que por sua vez foi discípulo pessoal de São João Apóstolo e Evangelista. Desta forma, Santo Ireneu recebeu de São Policarpo o Depósito da Fé que lhe fora confiado por São João Apóstolo.

Por que o Papa tem falado em suas conferências sobre os Padres Apostólicos? Ora, a razão é muito simples. Foram eles que receberam a Doutrina do Evangelho dos próprios apóstolos ou de seus sucessores diretos; e o receberam de viva voz. Daí a importância de seus ensinamentos e testemunhos. Este é o mesmo Depósito da Fé (Depositum Fidei) que São Paulo confiou a seu discípulo Timóteo (cf. 2Tm 2,12-14), já que os Apóstolos não pregavam uma doutrina pessoal, mas a Verdade única ensinada por Cristo Nosso Senhor.


Assim, a Revelação é a comunicação da Verdade, oriunda não do próprio homem, mas de Deus que se revela extrinsecamente. E a Fé é a adesão do intelecto humano a esta Verdade Revelada. Os Santos Profetas não comunicaram experiências pessoais, e nem as mandaram praticar. Comunicaram a Verdade que Deus lhes manifestou e mandaram que o povo lha desse obsequioso assentimento. Da mesma foram agiram os Santos Apóstolos e foi através da inteligência que os cristãos chegaram à Fé.


Doutrina pessoal ensinaram os hereges (gnósticos, donatistas, montanistas, jansenistas, milenaristas, arianos, cátaros e etc). Para eles a Revelação é fruto de uma manifestação de Deus no interior de cada homem e esta não comunica a Verdade, mas o próprio Deus. A doutrina que ensinavam, não vinha da Igreja, não vinha do Depósito da Fé, mas de suas “experiências”, pois só elas podiam comunicar a Verdade. Por esta concepção da Revelação, não aceitavam o ensino da Igreja, tinham uma exegese própria das Escrituras e negavam a Tradição dos Apóstolos (Depósito da Fé).


A História da Fé registra como eram discordantes doutrinariamente as Heresias e como rogavam para si serem a Voz autêntica da Verdade. Como poderiam ter unidade de doutrina (cf. Ef 4,5) se seus ensinamentos vinham de uma “experiência pessoal?”. Como poderiam ser a Voz da Verdade, se o que ensinavam não vinha da Revelação?


Como os Padres Apostólicos combatiam as doutrinas heréticas? Combatiam-nas mostrando o Depósito da Fé que a eles foi confiado pelos próprios Apóstolos. Mostravam que o Evangelho que foi espalhado por todo o mundo era diverso daquela doutrina pregada pelos os hereges. Estes grandes defensores da ortodoxia (=fé ou doutrina verdadeira) cristã combatiam as heresias relembrando os cristãos a Memória, o Legado, o Depósito da Fé que os Apóstolos deixaram.


Ora, não vivemos tempos igualmente difíceis? Nesta época de surgimento constante de doutrinas divergentes oriundas de toda sorte de profetismo e subjetivismo bíblico, negação dos ensinamentos orais dos apóstolos (cf. 2Ts 2,15), e das dúvidas que o mundo naturalista/materialista impõe à Fé, o remédio não pode ser outro daquele já aplicado no passado e cuja eficácia foi registrada na História da Fé: o retorno dos cristãos ao Depósito da Fé.


Santo Ireneu, que foi o primeiro teólogo da Igreja da Era pós-apostólica, em seu tempo (séc. II) combateu o perigo da Gnose (3), já denuncia pelo Apóstolo Paulo (1Tm 6,20). Ele depois de relembrar a doutrina ensinada por Policarpo, Pápias, Inácio, Clemente e outros discípulos diretos dos apóstolos, sabiamente conclui que somente na Sucessão dos Apóstolos é que o Depósito da Fé foi conservado fielmente pela Graça do Espírito Santo, cumprindo a promessa de Cristo de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja (cf. Mt 16,18).


A promessa do Senhor vem logo após Ele ter mudado o nome de Simão para Kepha (4), que no aramaico é pedra ou rocha, cuja variante grega é Petrus. Simão era agora o chefe visível de toda Igreja (cf. Jo 21,15-17;) e dos Apóstolos (cf. Lc 22,31-32), a autoridade firme (=rocha) que não podia balançar ao sabor dos ventos de qualquer doutrina (cf. Ef 4,14).


Por esta razão Santo Ireneu, um dos guardiões do Depósito dos Apóstolos, na defesa da Verdadeira Fé contra os erros dos hereges, de forma magistral conclui aos cristãos de sua época:


"Portanto, a tradição dos apóstolos [=depósito da fé], que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto que seria coisa bastante longa elencar numa obrar como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, que por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos" (Contra as Heresias, III,3,1-2, Santo Ireneu Bispo de Lião, + ou - 202 d.C).


Onde estavam os cristãos ortodoxos antes do Cisma de 1054? Onde estavam os protestantes antes de surgirem no séc. XVI? Por acaso não estavam todos na casa paterna, em Roma, de acordo e em comunhão com o Papa? Bem sabeis que sim!


Grande insensato é aquele que diz retornar à Fé primitiva sem confessar a Fé dos primeiros cristãos e que toma para si mestres que não foram instituídos através da Sucessão regular dos Santos Apóstolos.


Feliz o filho pródigo que reconhecendo seu erro voltou à casa do Pai enquanto era tempo.

Notas


(1) http://www.acidigital.com/noticia.php?id=9574


(2) http://www.veritatis.com.br/article/1146


(3) Gnose = Ciência. Esta heresia negava que a matéria era boa e ensina que o espírito só estaria livre se dela se libertasse. Ensinavam os gnósticos que o Deus do AT era um deus decaído, criador do mundo (por isso a matéria era ruim) e que Cristo é o enviado do deus bom, que procura nos ensinar como se libertar da carne e dar felicidade ao espírito.


(4) Toda mudança de nome registrada na Escritura tem um forte significado teológico. Deus altera o nome de para Abraão, fazendo deste o Pai de muitas as nações. Cristo altera o nome de Simão para Kepha, instituindo chefe visível de toda Igreja. É por Kepha (Cefas aportuguesado) que São Paulo dá preferência ao se referir a Pedro.



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