11 agosto 2014

Carta de um cristão iraquiano despedindo-se de sua terra



“Adeus Mossul, é o fim de milênios passados juntos”

Carta de um cristão iraquiano após ter sido expulso de Mossul junto com outros cristãos

Carta de adeus, escrita por um cristão iraquiano, Majed Aziza, para a cidade de Mossul, logo após a decisão dos extremistas do Estado Islâmico (EI) de expulsar todos os cristãos do local.

* * *

Expulsos, deixamos a nossa cidade, Mossul, humilhados pelos detentores do novo Islã. Deixamos a cidade pela primeira vez na história. Partindo, agradecemos os nossos vizinhos, apesar de tudo, pois pensávamos que nos teriam protegido, como faziam em outros tempos, e que teriam se rebelado contra a fúria destes criminosos do século XXI, dizendo a eles que nós somos os autênticos filhos desta cidade e que somos os seus fundadores.

Fomos abandonados, deixando-nos ser arrastados para fora da cidade em direção ao desconhecido. Eles fecharam os olhos enquanto deixávamos para trás a nossa história, os túmulos dos nossos antepassados, nossas casas, nosso patrimônio e tudo aquilo que nos é querido. Fomos abandonados enquanto dizíamos adeus aos nossos quarteirões, à mesquita de Jonas (que tinha também o túmulo do Profeta Jonas, a qual, por este motivo, foi destruída pelos jihadistas do Estado Islâmico).

Adeus também ao nosso arcebispo, à igreja de Maskinta e a de Ain Kibrit. Adeus a todos vocês! Não estaremos mais presentes nas festas e cerimônias, casamentos e funerais. É o fim de milênios passados juntos.

Adeus aos nossos parentes sepultados em Mossul. Nós os deixamos, expulsos da nossa cidade. Perdoem-nos porque não poderemos ir a seus túmulos nas festas religiosas. Adeus aos restos mortais do meu avô Elias, do meu tio paterno - pai Mikhail - aos meus tios maternos Ibrahim e Mikhail Haddad, que me transmitiram a paixão pelo jornalismo. Adeus ao meu tio paterno Estefan Aziza, primeiro mártir da família. Adeus ao convento de São Jorge, adeus às pontes da cidade, aos muros, à universidade e ao centro cultural.

Perdoem-nos, velhos amigos, irmãos e nobres filhos da nossa cidade. Perdoem por nossas faltas. Se em algum momento falhamos, isso não tira o que vivemos juntos por centenas, até milhares de anos, construindo Mossul com o suor de nossos rostos.

Hoje olhamos a cidade de longe enquanto somos expulsos, humilhados aos olhos de todos. Os assassinos do Daech (sigla em árabe para EI) nos expulsaram de nossas casas e da nossa cidade. Adeus a todos vocês e obrigado. Deixamos, sob pressão, uma terra que nutrimos com o nosso sangue.

De: aleteia.org

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