05 setembro 2016

Iraque: O Estado Islâmico sai, a destruição permanece

Padre Halemba olha para a imagem da Virgem Maria destruída. A cabeça foi cortada de seu corpo; o símbolo da decapitação é a assinatura do EI

O silêncio é o que você nota em primeiro lugar. Não apenas pela falta de ruído, mas por uma ausência de todos os sons. Até os pássaros foram embora. Estou em Telskuf, Iraque, cerca de 32 quilômetros ao norte de Mossul, local da principal fortaleza do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI). A cidade está abandonada; seus habitantes, incluindo cerca de 12 mil cristãos, fugiram.


Com um calor de 43 graus, caminhamos na sombra das ruínas abandonadas: casas com buracos abertos, paredes marcadas por tiros, calçadas tomadas por restos de carros queimados. A cena demonstra a brutalidade que ocorreu ali algumas semanas antes. No dia 3 de maio de 2016 centenas de combatentes do EI, precedidos por vários carros-bomba e ataques suicidas, penetraram através das linhas de defesa dos curdos. Mas um rápido contra-ataque, apoiado pelas forças aéreas dos EUA, fez com que o EI recuasse. Entre as vítimas estão três combatentes curdos e um soldado de 31 anos das Forças Especiais dos EUA. De acordo com relatos ainda não confirmados dos Peshmerga (nome dado aos combatentes curdos), mais de 50 soldados do EI foram mortos. Eles foram fotografados e enterrados numa vala comum na beira da estrada. A terra ainda está fresca.

Eu estou ali com uma delegação da Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). Viemos numa visita de solidariedade à cidade cristã de Alqosh. Situada a cerca de 16 quilômetros de Telskuf, Alqosh é a última grande cidade cristã na planície de Nínive. Nesta região, o bispo católico caldeu Dom Mikha Pola Maqdassi organizou apoio material para as mais de 500 famílias refugiadas, além das 1.200 famílias que já habitavam a aldeia. Todos procuram trabalho, mas não existe nenhum. A Igreja Católica é o principal fornecedor de assistência social e, sobretudo, de esperança.

Nós caminhamos em direção à igreja católica de Telskuf. O silêncio é quebrado apenas pelos cacos de vidros sob nossos pés. A igreja foi saqueada e devastada. A imagem da Virgem Maria foi destruída, a cabeça foi cortada de seu corpo; a decapitação é a assinatura do EI. Os soldados Peshmerga, com óculos de sol reflexivos e bem armados, tomam posição em pontos estratégicos da igreja para garantir a nossa segurança. Nós nos ajoelhamos para orar no lugar onde ficava o coro. Guiados pelo Pe. Andrzej Halemba, responsável pelos projetos do Oriente Médio da ACN, rezamos a oração do Senhor para a paz. O nosso grupo que normalmente conversa e que está sempre alegre, estava chocado e em silêncio. Um general cristão, homem generoso e com cabelos grisalhos, nos aguarda respeitosamente e, quando terminamos a oração, nos convida a se juntar a ele para uma refeição. Embora o tempo não permitisse ficar, ele nos contou que luta contra o EI para proteger aqueles que ainda vivem nas poucas aldeias cristãs que restaram na região. Nós caminhamos de volta pelas ruas com as casas em ruínas. Gostaria de saber quando os pássaros irão voltar para esta cidade...

Mark Riedemann
Colaborador da Ajuda à Igreja que Sofre Internacional


De: Ajuda à Igreja que Sofre

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