“Dr. Reynolds ... insistiu corajosamente em vários pontos; mas quando ele chegou à demanda para o desuso dos apócrifos no serviço da Igreja, Tiago não pode aguentar mais. Ele pediu uma Bíblia, e leu um capítulo de Eclesiástico. e expôs de acordo com seus próprios pontos de vista; em seguida, voltando-se para os senhores de seu concílio, ele disse: “Que pensamento faz estes homens ficarem tão zangados com Eclesiástico? Por minha alma, eu acho que Eclesiástico era um bispo, ou eles nunca iriam usá-lo assim.”
(John Cassell’s Illustrated History of England, text by William Howitt, (W. Kent & Co.:London), 1859, vol. 3p. 15)
Em 1604, a Igreja da Inglaterra
encomendou uma nova tradução inglesa das Escrituras, que mais tarde
ficou conhecido como o King JamesVersion (KJV) ou Versão do Rei Tiago.
Segundo essa dedicação ao rei, a esperança era de que esta nova versão
iria “neutralizar” as farpas dos católicos e evitar o
“auto-convencimento” protestante “que correm por seus próprios caminhos,
e que não dão em nada somente no que está enquadrado por eles mesmo,
martelaram na sua própria bigorna...” (Prefácio e dedicação ao Rei, 1611
Bíblia King James), ou seja, dissidentes religiosos, como os
batistas e outros. Ironicamente, a Igreja da Inglaterra se voltou para
outras traduções, e a King James (KJV) se tornou, pelo menos por um
tempo, a tradução para aqueles grupos que eram considerados dissidentes.
Hoje, a Nova Versão Internacional tornou-se a tradução best-seller
entre os protestantes, mas a King James ainda é amplamente usada e venerada pelos não-católicos.
Traduções da Bíblia são interessantes na medida em que pode
fornecer umas informações instantâneas das crenças de seus
tradutores na época. A Vulgata Latina, por exemplo, pode nos mostrar
como certas palavras foram compreendidas no século IV, quando foi
traduzida por São Jerônimo. A Bíblia King James não é
excepção. Quando se compara a edição original de 1611 com edições
posteriores, pode-se discernir algumas mudanças muito importantes nos
pontos de vista. Se você possuir uma Bíblia King James, a primeira mudança maior que você vai notar é que a edição de 1611 original continha vários livros extras em um apêndice entre o Antigo e Novo Testamento rotulados como “Os livros apócrifos.” O apêndice inclui vários livros, que são encontradas no Antigo Testamento Católico, como os livros da Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1º e 2º Macabeus e outros. |
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Tabela de conteúdo KJV 1611 |
Alguns podem tentar descartar a omissão
desses livros da versão do Rei Tiago como “adição” supérfula para a
tradução e que a sua omissão realmente não muda nada importante sobre a
Bíblia deles. Pelo contrário, os chamados “apócrifos” fazem parte
integrante do texto, tanto que o estudioso protestante E.G. Goodspeed
escreveu certa vez:
“Qualquer que seja nossas opiniões
pessoais dos Apócrifos, é um fato histórico de que eles formam uma parte
integrante da versão do Rei Tiago, e uma Bíblia que afirmam representar
esta versão deve ou incluir os livros apócrifos, ou relatar que estão
omitindo-os. Caso contrário, uma falsa impressão é criada”. [História do
Apocrypha (Chicago: University of Chicago Press, 1939, p 7.].
Se você pegar uma cópia moderna da King James Version
e abrir a página do título, as chances são que você não vai ver
qualquer menção à omissão deliberada destes livros (por exemplo, “A
Versão do Rei James, sem os Apócrifos”). Afinal, quem gostaria de
colocar uma indicação negativa sobre um produto na página de título? No
entanto, talvez para evitar propaganda enganosa, os editores vão
notificá-lo que os livros estão em falta indicando habilmente os
conteúdos de uma forma positiva, como “A Versão do Rei Tiago contendo o
Antigo e Novo Testamento”. Se você não sabia que os “apócrifos” foram
omitidos, você provavelmente vai assumir que ali é a completa Bíblia do
Rei Tiago, pois a maioria modernas Bíblias protestantes contém apenas os
Antigo e Novo Testamento de qualquer maneira. Por isso, como adverte
Goodspeed , é “uma falsa impressão é criada.”
As Referências do Novo Testamento aos deuterocanônicos
Os apócrifos da versão do Rei Tiago
tinham um papel mais integral, em suas primeiras edições do que
simplesmente ser um apêndice alheio aos dois Testamentos. Em vez disso, a
versão de 1611 da Bíblia King James incluía (como a Bíblia de
Genebra) referências dos Antigo e Novo Testamentos aos chamados
“apócrifos”. Como modernas referências, estes foram feitas para remeter o
leitor de volta ao texto citado a fim de proporcionar mais claridade
sobre o que tinha acabado de ser lido. Havia 11 referências no Novo
Testamento e 102 do Antigo Testamento que se levavam os leitores
protestantes de volta aos deuterocanônicos. As referências do Novo
Testamento aos deuterocanônicos eram:
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1611 KJV Heb. 11, 35 - II Mac. 7, 7 |
1611 KJV Mat. 27, 43 – Sab 2, 15-16 |
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1611 KJV Heb. 11, 3 - Sabedoria. 7, 26 |
1611 KJV Lc 14, 13 - Tobias 4,7 |
Assim como as primeiras edições da
Bíblia de Genebra, os editores da Versão Autorizada acreditavam que os
leitores não-católicas deveriam estar cientes de que os “apócrifos”
tinha coisas a dizer em relação a estas passagem. Enquanto alguns são
meras correspondências de pensamento, outros apontam para uma
consciência ou até mesmo uma dependência dos “apócrifos” pelos
inspirados escritores do Novo Testamento. Eu detalho estas passagens
importantes em Why Catholic Bibles Are Bigger: The Untold Story of the Lost Books of the Protestant Bible (Grotto Press, 2007).
Além das onze referências no Novo Testamento, a King James
de 1611 também ostentou 102 referência no Antigo Testamento, assim
totalizando até 113 referências aos e dos “apócrifos” no geral. Não é
de se maravilhar que Goodspeed tenha dito que os “apócrifos” eram
parte integrante da Bíblia do Rei Tiago!
A Bíblia do Rei Tiago não foi a única
Bíblia antiga protestante a conter os deyterocanônicos, com as
referências no novo testamento. Como vimos no artigo anterior (A Bíblia
de Genebra e os deuterocanônnicos), o “apócrifos”, também desempenharam
um papel integral em outras Bíblias protestantes também.
Como mencionei anteriormente, traduções
servem como informações históricas instantâneas das crenças dos
tradutores e leitores. A presença destas referências cruzadas mostra que
os tradutores acreditaram que os “apócrifos” estavam no trabalho dentro
dos escritos do Novo Testamento e que os leitores da Bíblia protestante
se beneficiariam em ler e estudar o Novo Testamento e Antigo à luz
desses livros. Infelizmente, hoje essa herança nobre foi perdida.
Agora você lê eles, Agora você não lê...
Aqueles que viram os deuterocanônicos
como algo sendo o último vestígio do “papado” pressionaram para o
apêndice dos deuterocanônicos e suas referências serem removidas
completamente da sua bíblia. Em 1615, George Abbott, o arcebispo
anglicano de Canterbury, foi tão longe que chegou a utilizar o poder da
lei para censurar qualquer editora que não produziu a Bíblia em sua
totalidade (incluindo os “apócrifos”), conforme prescrito pelos Trinta e
nove artigos. No entanto, o ódio anti-católico e as vantagens óbvias
financeiras de impressão de menores Bíblias protestantes começaram a
ganhar contra os tradicionalistas que queriam a Bíblia na forma em que
foram dadas em todas as traduções protestantes anteriores até aquele
momento (na forma da Bíblia de Lutero - com os deuterocanônicos entre o
Antigo e o Novo Testamento). Os deuterocanônicos permaneceram na Bíblia
do rei Tiago nas edições dos anos 1626, 1629, 1630 e 1633. Por volta de
1632, a opinião pública começou a se voltar decididamente contra as
Bíblias protestantes “maiores”. Das 227 edições da Bíblia entre 1632 e
1826, cerca de 40% das Bíblias protestantes continha os
deuterocanônicos. A controvérsia dos deuterocanônicos do início dos anos
de 1800, habilitou as Sociedades Bíblicas Inglesas a inundar o mercado
de compra da Bíblia, com Bíblias cada vez mais sem os deuterocanônicos e
em 1885 os deuterocanônicos foram oficialmente removidos com o advento
da Versão Padrão Revisada (Revised Standard Version), que substituiu a versão do Rei Tiago.
É difícil fixar o ponto da data exata em
que a Bíblia do Rei Tiago deixou de conter os deuterocanônicos. É
claro que edições posteriores da KJV removeu os deuterocanônicos do
apêndice, mas elas continuaram a incluir referências a eles, até que
eles também (como a Bíblia de Genebra) foram removidos. Por que eles
foram removidos? Foi por superlotatarem as margens? O erudito anglicano
William H. Daubney aponta o óbvio:
“Estas omissões censuráveis [das
referências] foram feitas após que o costume de publicar Bíblias sem os
livros apócrifos surgiu. Estes aparentemente professam ser o que não
são, cópias inteiras da Versão Autorizada [...] Claramente, as
referências à apócrifos conta uma inconveniente história do uso que a
Igreja entendia que deveria ser feito; então, quer a partir de
influência dissidente sem, ou de preconceitos dentro da Igreja, estas
referências desapareceram das margens” [O uso do Apocrypha na Igreja cristã (London: CJ Clay e Sons, 1900), 17].
Qual foi a história inconveniente que
estas referências contaram? Elas mostraram que os chamados “apócrifos”
realmente desempenham um papel muito maior que os protestantes modernos
estão dispostos a admitir. Além disso, as referências mostraram que os
protetsantes mais antigos acreditavam que o conhecimento dos chamados
“apócrifos” e seu uso no Novo Testamento beneficiava os cristãos que
queriam entender a Bíblia. Infelizmente hoje, muitos protestantes usam a
Bíblia do Rei Tiago tem manuseado uma forma alterada e sem compromisso
desta versão. A realidade é que o conteúdo da bíblia integral já
tinha sofrido várias alterações substanciais que começam com Martinho
Lutero que reuniu os deuterocanônicos e coloco-os no apêndice “apócrifo”
e mais tarde depois das versões do Rei Tiago, tanto o apêndice (e suas
referências) foram removidos completamente das Bíblias protestantes.
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